A exposição Obras em obras está no Solar Grandjean de Montigny - Museu Universitário da PUC-Rio até maio de 2019. Com curadoria da professora emérita do Departamento de História e Diretora do Solar, Margarida de Souza Neves, e organização do próprio museu, em parceria com o Núcleo de Memória PUC-Rio, a mostra tem como objetivo apresentar algumas das obras que foram doadas ao centro cultural nos últimos 30 anos e precisam de restauração.
Para conseguir a recuperação das peças disponíveis no acervo, Margarida e sua equipe, formada por outros quatro pesquisadores, buscaram uma solução cada vez mais comum nos dias atuais: o crowdfunding. Uma espécie de vaquinha solidária, na qual pessoas doam quantias para ajudar a finalizar projetos. Essa arrecadação, no entanto, foi feita de uma maneira diferente, com a adoção de quadros pelos interessados. O colaborador escolhe uma obra, deposita a quantia que puder na conta do Solar e recebe um documento de adoção solidária.
Apesar de mais da metade das obras já estarem recuperadas, ou em processo de restauração, Margarida tem a expectativa de que o início das aulas aumente a adesão de alunos e professores ao projeto. Logo no início da campanha, o restaurador Jaime Vilaseca, adotou ⅓ das obras. Além disso, na festa de fim de ano da Universidade, que também ocorreu no Solar, muitos quadros foram apadrinhados.
O acervo reúne trabalhos de grandes artistas, como Mario Mendonça, Aloysio Zaluar e Monica Barki. Segundo a professora, escolher os quadros para a exposição não foi uma tarefa fácil, mas foram priorizadas obras que precisavam de uma restauração mais urgente. Dentre elas, Margarida destaca os dois trabalhos de Roberto Burle Marx, famoso paisagista brasileiro, que morreu em junho de 1994.
— Os estudos do Largo da Carioca, para mim, são os que mais se destacam na exposição. Eles foram doados para nós numa mostra que o Burle Marx veio fazer aqui, e, se prestar atenção, é possível enxergar um quadro abstrato neles, não apenas um estudo. Além disso, eles chegaram muito deteriorados, e, por isso, o processo de recuperação foi bem mais trabalhoso.
As obras provêm, em sua maioria, de artistas que fizeram exposições na Universidade, um acervo que conta a história das mostras que foram organizadas em diferentes locais na PUC-Rio. Margarida revela que muitas das obras foram encontradas no porão do Solar, o que não foi prejudicial, pois evitou a umidade nas pinturas. O antes e depois de todos os trabalhos ficam arquivados no Núcleo de Memória.
A diretora do Solar também ressalta que uma boa restauração conserva as marcas do tempo. Para ela, é bom que a história das obras seja contada nos mínimos detalhes, e que o observador consiga enxergar essas memórias. Margarida destaca que as marcas do tempo não são necessariamente os mofos, mas aquele amassadinho de uma queda eventual do quadro, o enrugadinho de quando o papel ficou num local úmido.
— É normal que os quadros carreguem as marcas do tempo, assim como nós, pessoas, carregamos.
Ao fim da exposição, todos os trabalhos estarão disponíveis para os demais departamentos e setores da Universidade. Basta solicitar o empréstimo e assinar um termo de responsabilidade, assim as obras são democratizadas e viram um bem de toda a comunidade.