O espaço político e as diferentes formas que ele assume foram objeto central da análise proposta pela professora titular da UFRJ, Iná Elias Castro, que ministrou a aula inaugural do Departamento de Geografia, nesta quarta-feira, 13. Com o tema Porque a Geografia precisa falar de democracia, partidos e eleições, a aula marcou o início do semestre para os futuros geógrafos da Universidade.
Iná abordou as diferenças entre democracia direta e democracia representativa, de acordo com as perspectivas do filósofo Jean-Jacques Rousseau, e explicou como as crises na democracia podem ser, na realidade, fruto das próprias sociedades democráticas. Para ela, os sistemas de representação, reforçados nas redes sociais, acabam por impulsionar a politização das opiniões imediatistas, o que, segundo a professora, torna a democracia disfuncional e demagógica.
— Um tempo atrás, dizia-se que a internet facilitaria a democracia, podendo chegar a democracia direta, por meio do contato entre governante e governados. Mas o que se vê atualmente, contrariando essa ideia, é que o ativismo digital impossibilita a negociação e consensos mínimos necessários ao processo decisório em ambientes democráticos.
Entre os riscos da democracia mencionados pela professora, o ativismo digital foi fortemente criticado por ela. Iná afirmou que o espaço virtual gera cacofonia de vozes e alimenta debates rasos, com a “tribalização dos grupos digitais” e a impossibilidade de controle das “paixões”.
— Movimentos sociais são necessários, mas a Geografia deve considerar adequada a sociedade que se organiza e aprimora a política institucional, dando importância à atuação dos deputados e dos partidos políticos.
Para Iná, a perda dos democratas nos Estados Unidos, em 2016, pode ser consequência do apoio exclusivo às minorias em detrimento da cobrança da realização de ações concretas no âmbito governamental. A professora apontou que esse cenário se reflete na política brasileira e no resultado das urnas no final do ano passado.
Lattes
Doutora em Ciências Políticas, a Professora Titular do Departamento de Geografia da UFRJ também coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Política e Território - GEOPOL. Na área de Geografia Política, desenvolveu estudos sobre o regionalismo e o discurso político na Região Nordeste e agora analisa as relações entre o sistema político-institucional e o território.