Um ano sem Marielle Franco
15/03/2019 18:48
Vinícius Nóbrega

Ato na Cinelândia reúne manifestantes para relembrar luta e homenagear vereadora

Comoção em ato na Cinelândia. Foto: Amanda Dutra 

O ato foi iniciado com uma aula pública e seguido por atrações em um palco montado na praça. As apresentações e discursos foram feitos por grupos musicais, coletivos políticos, militantes, ativistas, acadêmicos e artistas. Filha da ex-vereadora, Luyara Franco recitou um poema sobre a mãe, o que deixou os presentes emocionados.

Visivelmente abalada, a irmã de Marielle, Anielle Franco, subiu ao palanque para afirmar que o dia 14 de março deve ser sempre lembrado pelo amor, luta e força que a irmã demonstrava. Apesar disso, ela também relembrou a trágica noite do atentado e disse como era difícil estar presente naquele momento.

— É o dia que a nossa família relembra aquela noite assustadora, fatídica. A gente não dormiu direito, acordou chorando. É uma dor muito grande, irreparável, que não tem como dimensionar, porque quem tá de fora pensa na Marielle como vereadora, professora, ativista. Nós, da família, enxergamos ela como mãe, irmã, filha, e ficamos muito sentidos com tudo isso.

Anielle Franco falou sobre a importância da luta de sua irmã. Foto: Amanda Dutra

Presidente da ONG Rio de Paz, o jornalista e teólogo Antônio Carlos Costa afirmou que os valores deixados por Marielle, como democracia, liberdade de expressão e o direito à vida, são inegociáveis e deveriam fazer parte da cultura brasileira. Ele também comentou sobre a intervenção feita pela ONG dele na própria Cinelândia, que ocorre desde o início da semana: mulheres negras que limpam o chão sujo de sangue em frente a uma cela vazia.

— Ainda que um símbolo equivocado, a cela é uma representação da justiça. Torço para que encontremos uma solução nesse âmbito, mas é a nossa realidade. Nessa intervenção, o que chama de fato a atenção é que as ruas estão cheias de sangue, mas a cela está vazia. Isso não representa apenas a falta de identificação dos autores intelectuais do assassinato da Marielle, mas também o alto número de crimes não solucionados no Brasil.

A deputada federal Benedita da Silva (PT) destacou o legado deixado por Marielle para as mulheres negras, periféricas, e para a causa dos Direitos Humanos. A ex-governadora revelou que, há um ano, ela e Marielle haviam sido convidadas para serem homenageadas em um congresso de mulheres negras em Nova York.

— A Marielle era uma mulher que não media esforços para estar junto da luta do movimento das mulheres negras. Ela extrapola como vereadora, porque em geral, como somos tão poucas, quando chegamos a um cargo desse, a nossa tarefa é enorme. Mas ela se tornou uma vereadora com proporções internacionais. A repercussão de sua execução prova isso. Ela deixa um grande legado e temos que dar continuidade a ele.

Cinelândia é novamente palco de manifestações. Foto: Amanda Dutra 

Para o deputado federal David Miranda (PSOL), a luta de Marielle deve continuar. Segundo ele, é necessário que se fale com a população, em movimentos parecidos com os das eleições de 2018, em que pessoas sentavam com as outras em praças públicas, transportes, e tentavam angariar votos na base do diálogo direto.

— É preciso organizar, fazer grêmios e rodas de debates, chamar parlamentares, figuras públicas, seja em um café no final da tarde, em um churrasco em casa, na hora de pegar o trem. Sempre buscar o diálogo para que as pessoas entendam o risco que a democracia corre quando uma vereadora sofre um atentado como a Marielle.

Carmelena Nassar, de 67 anos, participou do ato na Cinelândia e contou que, apesar de ter conhecido Marielle por pouco tempo, se identificou com as pautas, as lutas e a vida da vereadora. Ela disse que além de mãe, também é avó, por isso acha importante ir às ruas para lutar por um futuro melhor tanto para os netos como para toda a sociedade.

— O caminho que o Brasil está trilhando não é bonito. E não é um caminho que eu quero para meu neto, para netos das mulheres que estão aqui. Cada jovem negro que é assassinado, eu também morro um pouco, pois me coloco no lugar de mães e avós que perdem seus entes queridos. Não há futuro para um país sem educação e só podemos resolver essas questões por ela.

  

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