Brexit: Fronteiras sob tensão
19/03/2019 16:40
Beatriz Puente

Para Presidente da Câmara dos Deputados da Irlanda, a saída do Reino Unido do bloco pode causar problemas sérios para a região

O Presidente da Câmara dos Deputados da Irlanda, Séan Ó Fearghail. Foto: Larissa Gomes

Com a aproximação do veredito do Brexit, o Presidente da Câmara dos Deputados da Irlanda, Séan Ó Fearghaíl, abordou a saída do Reino Unido do bloco europeu na palestra Approaching Brexit: protecting a Peace process and preparing for the day after, no dia 18. Organizado pelo Departamento de Relações Internacionais, o encontro também teve a presença da professora Paula Sandrin, do IRI, e do professor Leslie Bethell, que faz parte do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).

Em 2016, a maioria dos britânicos decidiu, por meio de um referendo, que o Reino Unido deixaria de fazer parte da União Europeia (UE). A ação ficou conhecida como Brexit, abreviação de British Exit. Alguns dos motivos são o fato de o Reino Unido contribuir mais financeiramente com o bloco do que os demais países, a imposição de normas burocráticas por Bruxelas e a intensificação da crise humanitária no Oriente Médio e África, que causa o êxodo de milhões de imigrantes. A decisão final está marcada para o dia 29 de março, mas o país deixará o bloco com ou sem acordo.

Segundo o Presidente da Câmara dos Deputados da Irlanda, o Brexit prejudicará o Reino Unido e todo o restante do bloco no sentido econômico. Um dos pontos de conflito destacados por ele foi um possível fechamento da fronteira entre a Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido) e a República da Irlanda (país independente, membro da União Europeia). 

- A imposição de uma fronteira coloca em risco o grande progresso que tivemos nos últimos 20 anos, com o Good Friday Agreement. Qualquer restauração da fronteira terá implicações extremamente negativas. Em termos de desastres absolutos, o Reino Unido será o principal prejudicado, economicamente falando, e também os integrantes da União Européia.

A professora do IRI, Paula Sandrin fala sobre o conflito conhecido como Troubles. Foto: Larissa Gomes

O passado violento e de conflitos na fronteira das duas Irlandas foi relembrado pela professora Paula Sandrin, período que ficou conhecido como Troubles, que ocorreu na segunda metade do século XX. Já a imigração ilegal e a militarização da divisa são os pontos primordiais defendidos pelas pessoas a favor e contra o Brexit. Ela também ressaltou a dificuldade de livre circulação de pessoas que trabalham, estudam ou utilizam serviços do país vizinho.

- Fronteiras com uma infraestrutura física, com costas alfandegárias para inspecionar o produto e taxar, se necessário, vão reavivar memórias muito traumáticas da época Troubles. Isso porque as fronteiras foram muito militarizadas, existiam torres de vigilância e a presença das Forças Armadas Britânicas. A ideia é muito simbólica. Há, também, a dificuldade de travessia por pessoas na Irlanda do Norte que trabalham do outro lado, que usam o serviço de saúde ou que estudam em Dublin. Com o Acordo de Schengen que já existia antes da União Européia, a livre circulação deve continuar mesmo que nenhum acordo seja feito.

A professora do IRI, Paula Sandrin e o professor Leslie Bethell. Foto: Larissa Gomes

A primeira ministra do Reino Unido, Theresa May, tentou incluir uma cláusula estipulando que uma fronteira rígida entre as Irlandas jamais seria implementada. Por outro lado, assinalaram os palestrantes, manter uma zona livre entre os países impede que o Reino Unido retome totalmente suas fronteiras.

Leslie Bethell afirmou que não há solução para a questão da fronteira da Irlanda com a Irlanda do Norte e que esse conflito pode desencadear uma guerra, mas que a questão quase não foi mencionada nas reuniões até o momento. O professor também chamou o processo do Brexit de “suicídio nacional”.

Após a palestra no Auditório do IRI, Leslie Bethell e Séan Ó Fearghaíl se reuniram com o Vice-Reitor, padre Álvaro Mendonça Pimentel, S.J., na sala da Reitoria.

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