Após o assassinato do jornalista Tim Lopes, em 2002, os debates sobre os novos caminhos do jornalismo investigativo se intensificaram, e cresceu o sentimento de que a prática profissional tinha grandes lacunas que podiam ser preenchidas se houvesse um trabalho mais sistemático com profissionais da comunicação. Foram essas questões que levaram o jornalista Marcelo Beraba a fundar, em conjunto com outros jornalistas, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Em palestra no dia 12 de abril, ele e o vice-presidente da Associação, Guilherme Amado, relembraram o surgimento da instituição e o papel da Abraji na prática profissional.
Beraba é formado em Comunicação Social pela UFRJ e tem passagem pelas redações dos jornais mais conhecidos do país. No debate, ele recordou como a morte de Tim Lopes foi um marco na cobertura de violência no Rio de Janeiro. Entre as mudanças, destacou o fato de não se entrar mais em comunidade, o que, para ele, teve como consequência a redução das fontes de informação para apenas uma voz, a da polícia. O jornalista citou as reuniões feitas no Sindicato dos Jornalistas e o desejo de criar uma associação em que os profissionais pudessem e quisessem participar.
– A ideia não é substituir a Universidade ou os Sindicatos, mas criar uma entidade de qualificação profissional, de defesa dos jornalistas em casos de violência e garantir a liberdade de expressão. Uma bandeira que, na época, levantamos era o direito ao acesso à informação pública. As pessoas não tinham nem noção do que isso significava e, depois de mais de dez anos de trabalho intensivo com outras instituições, como a Transparência Brasil, a OAB, o debate gerou a Lei de Acesso à Informação Pública.
Amado comentou as reportagens investigativas que fez sobre milícia e narcotráfico, questões políticas e de violência. Para ele, todo trabalho de apuração deve ter os princípios do jornalismo investigativo, mas nem todos serão de fato. Existem profissionais que passam meses debruçados em um assunto, e outros que cobrem matérias diárias, mas, para ele, a responsabilidade e comprometimento com o conteúdo devem fazer parte de qualquer área.
– Se você pegar os pilares da Abraji, verá que, desde o início, embora tenha o nome de Jornalismo Investigativo, é mais amplo que isso. A gente se propõe a abraçar a segurança do jornalista, a defesa da liberdade de expressão e do acesso à informação pública. Tudo tem a ver com jornalismo investigativo, mas também, com jornalismo de um modo geral. Até porque não é só o jornalismo investigativo que é alvo de ataque, seja do prefeito, por exemplo, ou do ataque virtual. Jornalista esportivo, de celebridade, qualquer jornalista pode ser atacado. Liberdade de expressão e acesso à informação pública também.
Beraba afirmou que existe uma preocupação muito grande dos estudantes, com o comportamento das autoridades políticas, em relação aos direitos garantidos pela Constituição, como a liberdade de expressão. Por outro lado, comentou ele, a tentativa de desacreditar o trabalho dos profissionais da comunicação não é uma novidade. Para o jornalista, há conquistas que não podem ser perdidas, como a Lei de Acesso à Informação Pública.
– Não podemos nos contaminar por isso, no sentido de ficar tímido e deixar de apurar. O que incomoda de fato é a boa apuração. Quando você investiga e levanta informação que não tem como desmentir e insistem em desmentir, isso é o que muda tudo. Fazer bom jornalismo, não tem outra saída senão essa. Vejo que há uma luta no campo ideológico e da opinião, mas eu, pelo menos, estou preocupado em fazer bom jornalismo. Uma coisa certa, segura, que não tenha como desmentir. É isso que faz a diferença.