O patrimônio como um objeto de pesquisa importante e com muitos frutos a oferecer para a construção historiográfica. Esse foi o ponto de partida da palestra Museus Históricos: Museus do Presente ministrada pelo diretor do Museu Histórico Nacional, Paulo Knauss, no dia 26 de abril. O professor da Universidade Federal do Fluminense (UFF) destacou os museus como espaços de debate social e de expressão do presente sob uma perspectiva histórica. Ainda abordou a falta de regularidade dos investimentos nos patrimônios brasileiros e a falta de uma integração com as políticas culturais do país.
Segundo Knauss, os museus históricos são, sobretudo, museus do presente, responsáveis por estimular o corpo social a pensar factualmente a relação do vigente com o passado. O diretor apresentou esse caráter contemporâneo dos patrimônios para a preservação cultural-histórica e a importância do objeto de pesquisa como um espaço para se discutir a sociedade. De acordo com ele, apesar das instituições, na maior parte dos casos, exporem peças remotas, elas participam dos debates cotidianos e das grandes polêmicas sociais.
– Costumamos achar que o museu é o lugar onde nada acontece, porém, cada vez que vamos ao local, algo acontece. E isso se torna um motivo de debate que ultrapassa as paredes da exposição.
De acordo com o professor, apesar de os patrimônios históricos serem espaços onde se localiza o pretérito, eles devem ser apresentados em uma perspectiva histórica com o período atual. Knauss deu como exemplo, dessa correlação presente-passado, a escravidão, pois apesar do distanciamento do regime escravista na sociedade brasileira, para ele, é intrínseco ao indivíduo reconhecer que ainda há marcas nas realidades sociais do tempo atual.
Para o estudioso, o processo de aproximação do indivíduo com o patrimônio histórico se desenvolve a partir da experiência de lazer, do fascínio pela dimensão simbólica ou da situação de sacralização. Atualmente, a partir da ascensão midiática, constrói-se também uma convivência mercadológica com os bens simbólicos apresentados nessas instituições, afirmou o professor.
O diretor abordou a configuração do museu histórico como uma instituição de referência para a sociedade brasileira. Como na maior parte dos municípios brasileiros não há museus, eles se tornam espaços tão raros quanto às coleções expostas, ressaltou Knauss. Para o estudioso, isso produz o sentimento de adoração aos museus, pois mesmo quando as pessoas não os conhecem, os têm como uma referência. Contudo, segundo o professor, um dos principais obstáculos é constituir simultaneamente o patrimônio como uma instituição de referência social e de experiência cotidiana.
Segundo estatísticas apresentadas pelo professor, a comunidade de turistas brasileiros constitui grande parte do público nos museus internacionais e, em geral, está entre os cinco maiores grupos nacionais de visita ao Museu do Louvre, em Paris, e ao Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque. Knauss realçou a presença, no Brasil, de uma das exposições mais visitadas no mundo e o sentimentalismo do povo com as instituições de arte. Esse dado, para ele, demonstra o interesse dos cidadãos por patrimônios de modo geral.
Entretanto, embora haja o interesse do público em desfrutar das galerias, o diretor evidenciou os desafios enfrentados pelos museus brasileiros, em consequência da ausência de uma integração efetiva com as políticas culturais do país. De acordo com ele, os patrimônios nacionais estão muito separados da institucionalidade que envolve a política educacional, de entretenimento e de turismo. O professor ainda ressaltou a descontinuidade de investimentos das esferas públicas nas instituições históricas.
– O mesmo museu capaz de abrigar uma grande exposição e um público abrangente em determinada época, posteriormente estaciona-se sem essa escala de visitantes por conta do descaso com a instituição.