Sim à igualdade racial
19/06/2019 18:47
Leticia Messias

A relação entre o racismo e a crise econômica do país é tema de palestra da publicitária Luana Génot

Palestra da publicitária Luana Génot. Foto: Maloni Cuerci

O impacto das questões raciais nas ocupações do mercado de trabalho norteou o encontro Sim à Igualdade Racial, ocorrido na terça-feira, 18 de junho. A fundadora e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil, Luana Génot, e a professora Thula Pires, do Departamento de Direito, debateram temas como a relação entre o racismo e a crise econômica do país. Elas também ressaltaram a importância da representatividade e dos lugares de fala.

Ex-aluna de Comunicação Social da PUC-Rio, Luana afirmou que a causa racial não é apenas dos negros. A publicitária destacou que cada pessoa deve entender o lugar de fala ao qual pertence e debater com propriedade para ajudar a fazer um país mais igualitário. Ela disse, ainda, que existem situações em que a união para defender uma questão comum pode ajudar a acelerar o processo de igualdade racial.

– O papel do aliado também é importante. Quando eu digo que a igualdade racial é uma causa de todos, quero dizer que a população negra fala de uma causa que é muito própria. No entanto, quando uma pessoa branca se levanta para colocar esse assunto em pauta, ela está agindo em prol de todos, porque você precisa chamar atenção para essas questões. Ainda não existe toda a representatividade necessária para a construção do nosso país.

A professora Thula Pires, que atua em movimentos ligados ao racismo, às mulheres negras e aos direitos humanos, observou que é preciso dar fim ao estigma de que a luta racial é restrita a grupos de militância negra. Lugar de fala, afirmou, não deve ser usado para eximir uma responsabilidade que é de todos.  

– As nossas agendas são agendas políticas para a construção de um país para todo mundo. As iniciativas para promover a igualdade racial, porém, não devem ser responsabilidade apenas de um grupo. Lugar de fala agora está sendo usado para exonerar as pessoas da responsabilidade pelas ações delas.

Luana falou sobre o impacto das questões raciais. Foto: Maloni Cuerci

O Instituto Identidades do Brasil, liderado por Luana, atua em todo o país e contribui com discussões sobre igualdade racial. A publicitária contou que o projeto começou em 2013, dentro da Universidade, a partir de entrevistas com pessoas de diferentes gêneros e etnias para entender quais eram as influências da raça na trajetória delas. Luana disse, no entanto, ter ficado surpresa ao perceber que a maior parte dos negros sabia muito pouco sobre as próprias identidades.

– Vi que muitas pessoas brancas sabiam de onde vinham, mas muitos negros não. A discussão sobre as identidades do Brasil parte desse pressuposto, de que, o que não está contado no Brasil, é, também, simbólico. Por que não está contado? Por que não está sendo mencionado? Acho que precisamos buscar entender o porquê de existirem certas lacunas quando falamos sobre identidades. Por que uns sabem tanto e outros sabem tão pouco?

Luana ainda comentou a necessidade de desvincular a ideia de raça humana à luta pela igualdade racial.  Segundo ela, o termo é polissêmico, ou seja, tem muitos sentidos, mas quando a referência é uma busca por igualdade, a palavra está relacionada aos discursos e discriminações compartilhadas.

– Quando clamamos por uma igualdade racial, queremos que a cor da pele não seja mais determinante na experiência e no discurso da humanidade. É isso que a gente quer passar enquanto mensagem. Quando digo que a raça é apenas humana, estou absolutamente negando o fenômeno que é racial, porque raça também tem esse sentido das experiências do discurso, que acabam sendo determinantes para as trajetórias das pessoas na sociedade. O problema está no racismo, que é a hierarquização dessas experiências.

Platéia atenta no debate sobre racismo. Foto: Maloni Cuerci

O impacto do racismo como fenômeno coletivo na realidade socioeconômica foi outro ponto destacado por Luana. Segundo dados divulgados pelo Instituto Ethos, em 2016, o tempo estimado para que as desigualdades raciais no mercado de trabalho terminem é de, no mínimo, 150 anos. Para ela, a grande missão é poder esgotar esses pontos.

– Se somos maioria e temos essa assimetria tão grande, significa que uma grande parte do país não está crescendo, se desenvolvendo e tendo as oportunidades que podem ter no mercado de trabalho. Logo, o país não sai da crise. É preciso que essas questões se esgotem, que a temática do mercado de trabalho seja abordada ao máximo para conscientizar as pessoas de que existe, sim, uma diferença de tratamento. Não queremos esperar outras gerações para que a mudança aconteça.

Em discussão sobre a busca pela quebra de paradigmas. Foto: Maloni Cuerci

Thula reafirmou o papel de todos na busca pela quebra de paradigmas. Para ela, é importante que pessoas que não estão diretamente afetadas pela causa tenham iniciativa de buscar entender o que é produzido por pessoas negras com o mesmo rigor que têm ao estudar os intelectuais abordados nas universidades.

– É claro que ninguém é obrigado a se engajar e assumir esse peso, porque assumir isso significa lidar com os ônus e com os desgastes próprios de todos esses processos, que não são poucos. Mas queremos que as pessoas procurem leituras, reflexões críticas que adensem os temas que trabalham. Precisamos fazer e disputar o antirracismo em qualquer dinâmica da vida, porque senão nós não estamos fazendo tudo o que podemos.

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