A crise por trás da seca d’água
16/07/2019 15:17
Paula Veiga

O engenheiro Jerson Kelman explica como São Paulo se recuperou da falta de água

O professor Jerson Kelman falou sobre a própria experiência com gestão de recursos hídricos. Foto: Amanda Dutra

O professor Jerson Kelman, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esteve no campus no dia 9 de julho para falar sobre os desafios da gestão dos recursos hídricos no Brasil. Kelman também é ex-presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A jornada do professor em São Paulo começou durante a seca de 2015, e a posição assumida dentro da empresa foi para controlar a crise de água no território paulista.

De acordo com o pesquisador, quando assumiu o controle da Sabesp, a metrópole de São Paulo só tinha água suficiente para abastecer a população de 22 milhões de habitantes por um mês. A seca foi a pior em quase um século e, segundo o engenheiro, a probabilidade de acontecer novamente o episódio é de 0,004%. Kelman definiu a circunstância como rara, com o tempo de ocorrência de 250 anos.

Para controlar a situação da seca, Kelman disse que foi necessária total transparência com os moradores da metrópole, além de atitudes que estimulavam as mudanças de hábitos da população. Incentivos econômicos foram realizados, como desconto na conta de água dos consumidores que gastassem por mês menos que a própria média, afirmou o professor.

Outra iniciativa citada pelo professor da COPPE foi a integração do sistema de distribuição - os prédios passaram a receber água de mais de uma fonte, o que diminuiu o desperdício. Kelman contou que novas estações de tratamento foram construídas onde ainda havia água, um total de 34 obras. Em fevereiro de 2014, foram registrados gastos hídricos de 71,42 de metros cúbicos por segundo (71,42 m³/s) em São Paulo e, um ano depois, esse número passou para 21,426 m³/s, o que significa redução de 30%.

Gastos hídricos em São Paulo entre 2014 e 2016. Foto: Sabesp e Jerson Kelman

- Para garantir que não ocorram outros estresses gerados por crises de água, realizamos obras bilionárias de engenharia. A disponibilidade hídrica per capita na região metropolitana de São Paulo é menor que no semiárido do Piauí devido a quantidade enorme de gente. Foi preciso buscar água longe, inclusive no Sul. A cisterna de São Lourenço foi uma das escolhidas, localizada a cerca de 80 quilômetros de São Paulo.

Outra fonte usada para ajudar a conter a seca da metrópole, nas palavras de Kelman, foi a Jaguari-Atibainha, que interliga duas bacias hidrográficas: a do Paraíba do Sul, que é relevante para o Rio de Janeiro, já que o fornece água, e um reservatório da Sistema Cantareira, a Atibainha. O professor contou que a atitude causou tensão política entre os paulistas e cariocas, pois os habitantes do Rio de Janeiro acharam que faltaria água, percepção equivocada na opinião de Kelman.

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