Reflorestamento ambiental e impasses criados pelo Novo Código Florestal para a sustentabilidade foram temas de duas palestras do II Simpósio de Restauração Ecológica do Estado do Rio de Janeiro. Na quinta-feira, 18, as consequências da alteração na Lei Ambiental, em 2012, foram discutidas e, na sexta-feira, 19, o assunto foi o que deve ser ou não ser feito para recuperar o bioma.
Novo Código Florestal
O professor Ricardo Rodrigues, do Departamento de Ciências Biológicas da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da Universidade de São Paulo, relacionou as políticas públicas com o processo de restauração ambiental e discutiu o retrocesso após a alteração da Lei Ambiental. O professor apontou que ela passou a privilegiar apenas 2% da população rural ou proprietária de terras.
De acordo com Rodrigues, a restauração florestal deve fazer parte das políticas públicas, inclusive da área socioeconômica. Segundo ele, em paralelo à criação de conhecimento, deve haver uma maior interação com a sociedade para que esses estudos sejam produzidos e usados para o equilíbrio ambiental.
– Temos que transformar nosso conhecimento científico em algo que seja acessível rapidamente pela sociedade e que a população consiga, de forma efetiva, usá-lo para alterar tudo que está errado nos dias de hoje. E essa concepção já está ficando bastante forte em alguns grupos da academia.
Para Rodrigues, houve um retrocesso instituído pelo Novo Código Florestal, mas isso, comentou, não deve desanimar a sociedade para buscar um futuro sustentável. Segundo ele, os movimentos sociais em prol da restauração devem estar mais atuantes na organização, na cobrança de certificados ambientais e na compra de produtos cujo conceito é a recuperação florestal.
– Os governos são temporários, mas nós somos sociedade. Temos que agir como conjunto social, independente dos retrocessos que os governos tentam promover. Os problemas ambientais vão ocorrer, porém cabe a nós colaborar com a redução dos prejuízos ao meio ambiente.
Rodrigues assinalou que há uma grande necessidade de se planejar a restauração ecológica rapidamente no Rio de Janeiro, por causa da grande influência que o estado exerce em outras regiões do país.
– O Rio de Janeiro é um estado formador de opinião, ou seja, se ele realizar a restauração ecológica de forma íntegra, e tem todas as características para fazer isso, porque são áreas de baixa aptidão agrícola, será um belíssimo exemplo para todo o Brasil.
Reflorestamento Ambiental
Com 15 anos no ramo, o mestre em ecologia e evolução pela UERJ e consultor da diretoria de biodiversidade e artes protegidas do Inea, Ciro Moura classificou o movimento ambiental como “subversivo” e observou que o reflorestamento ecológico não é difícil e custoso. Ele defende que este tipo de ação tem que ser acessível para que as pessoas se interessem e participem. Para ele, a reflorestação é complexa, mas não precisa ser complicada.
– Não há uma solução como bala de prata, que aparece feito mágica, mas precisamos de uma solução como uma pílula dourada, fora do padrão. A restauração como centro do negócio pode ser considerada um exemplo. As pessoas começaram a restaurar as áreas para a comercialização, e ocorreu um crescimento no empreendimento.
Moura ressaltou que, no nosso cenário atual, a restauração é baseada na escassez financeira, o que leva uma falta de interesse público para que um projeto seja implantado. Por isso, observou o consultor, a população não consegue dimensionar a importância de um projeto de restauração ambiental.
– A essência do problema que vivemos hoje é que, se não nos sentimos parte da solução, nós nos tornamos parte do problema. A maneira como vemos a questão, é um empecilho. Ver a restauração de uma forma complicada, cara e difícil, se torna um obstáculo. O problema somos nós, todo mundo tem uma responsabilidade.