Dezessete anos após a morte do pintor brasileiro Candido Portinari, o filho do artista, professor emérito do Departamento de Matemática João Candido Portinari criou uma fundação para resguardar a obra do pai. Hoje, ao completar 40 anos, o Projeto Portinari ganha uma exposição no Solar Grandjean de Montigny com o propósito de comemorar o trabalho desenvolvido ao longo das últimas décadas. A mostra, intitulada Uma carta aos brasileiros, ficará aberta até o dia 19 de dezembro.
A abertura da exposição, ocorrida no dia 21, teve presença do Reitor da PUC-Rio, Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., professor João Candido Portinari, diretor do Projeto, professora emérita do Departamento de História Margarida de Souza Neves, diretora do Solar, e diversos professores e autoridades das mais variadas áreas da Universidade. O Reitor definiu a data como histórica e destacou a importância do Projeto para o Brasil e para a PUC-Rio.
- Acho que não tem algo tão significativo quanto celebrar os 40 anos desse trabalho dentro da Universidade e, sobretudo, a importância que ele tem para o Brasil. Acolher o Projeto Portinari dentro da Universidade é acolher um projeto de quem é o profeta da arte no país. Portinari conseguiu ver bem adiante a história e retratá-la em sua realidade mais crua e concreta. Tenho o maior prazer de dizer: o Projeto Portinari é da PUC, fica na PUC, e daremos todo o apoio a ele.
Fundador do Projeto, o professor João Candido Portinari considera a PUC-Rio como casa e chamou a Universidade de mãe da iniciativa. Ex-diretor do Departamento de Matemática, o filho do artista presenteou o Reitor com um quadro autêntico do pintor, um desenho em carvão do padre jesuíta Luís Figueira que, em meados do século XVI, publicou a primeira gramática de língua Tupi. O matemático afirmou que a mostra sobre a preservação da obra do pai tem a função de trazer para o público, principalmente da PUC-Rio, tudo o que o projeto realizou ao longo dos 40 anos de existência.
- Mais de 95% das obras de Portinari estão em coleções particulares, inacessíveis a vista pública. O que foi feito do trabalho de um homem que durante toda a sua vida exprimiu emocionadamente a vida, o povo e a alma brasileira? Reitero publicamente a missão do Projeto Portinari: levar a obra e o legado ético e humanista deste grande pintor aos quatro cantos do Brasil e do mundo, com anseio de dar acesso e perpetuar sua poderosa mensagem de paz, justiça social, fraternidade, respeito a vida e a dignidade do ser humano.
O acervo do Projeto Portinari reúne mais de seis mil cartas, 12 mil recortes de revistas feito pelo pintor, 130 horas de gravações com amigos e familiares, além de 1.200 fotografias que mostram a vida pública e privada do artista. Para a professora Margarida de Souza Neves, a exposição não tem apenas o intuito de expor os 40 anos do Projeto, mas provocar pesquisadores de diversas áreas a estudar e fazer uma imersão na vida de Candinho, como era conhecido pelos mais próximos.
- É uma provocação aos pesquisadores, para que pesquisem esse acervo. Este é o espírito da exposição. Comemorar os 40 anos e tudo que está implicado neste tempo, mas, também, fazer uma amostragem, provocar um pouco o mundo acadêmico e dizer: temos aqui um tesouro. Vamos tomar esse tesouro entre as mãos e fazer com ele alguma coisa que faça esse mundo mais humano, nos faça regar essa semente de esperança que temos agora. Estamos precisando.
A mostra conta com quatro salas principais. A primeira, intitulada Tesouro do Projeto, reúne o acervo de cartas, imagens, gravações e recortes de Portinari. A segunda, de nome Arte, Educação e Inclusão Social, mostra visitas do Projeto a escolas de rede pública, presídios, favelas, comunidades ribeirinhas e diversos outros lugares, como a Amazônia. A ideia é levar a arte de Portinari para quem foi a principal fonte de inspiração do artista: o povo brasileiro.
A terceira sala da exposição é chamada de Um Trabalho de Ternura e Técnica. Nela, há uma mesa repleta de livros em várias línguas, produzidos pelo Projeto, além daquele que é considerado o trabalho mais importante do projeto: o catálogo Raisonné, em que todas as obras do pintor - até à época da publicação do livro - estão catalogadas. Por fim, a quarta sala, Ateliê do Artista, mostra ao visitante objetos pessoais do pintor, como os pincéis, cavaletes e tintas usadas por ele.