Configurações da modalidade de guerra e normalização da violência foram as palavras-chaves do Seminário Everyday Modalities of War, que ocorreu na quinta-feira, 5, no auditório do RDC. Mediado pelas professoras Manuela Trindade, do Instituto de Relações Internacionais, e Jana Tabak, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o encontro reuniu pesquisadores para discutir temas relacionados à gestão da segurança e à banalização da violência.
A professora Arlene Tickner, da Universidad del Rosario, na Argentina, apresentou o projeto em desenvolvimento Going Local: Colombia’s role in military/ security knowledge production and circulation. Ela ressaltou que a Colômbia é um caso interessante, pois tem um longo relacionamento militar e policial com os Estados Unidos, que foi reforçado com o envio de tropas para a Guerra da Coreia (1950-1953).
– São dois momentos principais que estamos falando. Um começa há nove anos, quando a Colômbia vira um laboratório importante, e o segundo com a relação Estados Unidos e Colômbia. O país americano adotou, o que é para mim, o esforço de estabilização mais ambicioso na história da América Latina. Ele gasta uma quantia muito alta para aumentar a segurança e, em 2010, exporta a experiência para o país latino para consolidar as coisas.
O professor Bruno Cardoso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comentou a pesquisa que fez sobre a implementação dos sistemas de segurança e comando. Segundo ele, a principal política adotada para a segurança dos megaeventos é o Sistema Integrado de Comando e Controle, que foi caracterizado como o principal legado dos megaeventos no Rio. Para o professor, a proteção desses eventos é sensível, principalmente com novos problemas a serem enfrentados, como o terrorismo, ameaças e possíveis manifestações, além das questões constantes do Rio de Janeiro, como a criminalidade urbana, guerra de facções e as milícias.
Cardoso disse que gestão da violência no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, tem base nos mecanismos da guerra, com elementos de luta não pacíficos. De acordo com o professor, o Estado é pensado como uma empresa, com discursos sobre participação e prestação de contas, e técnicas de marketing, que não tornam a sociedade, necessariamente, segura.
– A segurança em megaeventos, festas, ENEM, carnaval e manifestações passa a ser tratada como uma operação militar de guerra. O que implica, muitas vezes, no uso de uma força desproporcional, e um efetivo muito superior ao necessário.
A professora Cynthia Enloe, do Departamento de Desenvolvimento Internacional, Comunidade e Meio Ambiente, na Clark University, Massachusetts, explicou que a palavra mais alarmante sobre o assunto é normalização. Segunda ela, o termo é assustador, porque as situações de violência diária passam a ser normalizadas. Cynthia disse que se inspirou na obra Banalidade do Mal, da filósofa alemã Hannah Arendt, para formular um novo pensamento, o da banalidade da violência. Segundo o conceito da professora, o indivíduo não é mais capaz de ver a violência como algo incomum, pois ela virou algo corriqueiro.
– O banal faz com que o indivíduo não exercite a capacidade humana de pensamento. A normalização torna a violência banal.
A professora Vera Malaguti, da UFRJ, pesquisa a questão de Crime e Guerra no Brasil contemporâneo. Ao citar o criminólogo italiano Mario Badalline, ela afirmou ser necessário entender a questão criminal para decifrar a demanda por ordem de cada conjuntura histórica. Vera criticou o aumento da segurança e a violência como punição nas favelas.
– O Rio de Janeiro foi um dos centros do escravismo brasileiro. O medo branco sempre foi um grande vetor de políticas de extermínio contra o movimento da população afrodescendente pelas ruas cariocas. A tortura e a morte dos corpos negros são uma permanência de longa duração na nossa história e uma espécie de paisagem natural do nosso cotidiano.