Cigarro Eletrônico: o risco sem informação
11/09/2019 18:11
Tatiana Abreu

Dispositivos eletrônicos de fumar são tema de debate para entidades governamentais e cientistas

Foto: Freepik

A comercialização, importação e propaganda de todos os dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, de acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. O produto ainda está em processo de regulamentação, pois os cientistas ainda estudam quais são os riscos que as substâncias contidas nos juices podem causar para os usuários. Além dos processos de avaliação da Anvisa, a PUC-Rio colabora com pesquisas do Departamento de Química como foi realizado o II Seminário – Produtos de tabaco de nova geração: o que diz a ciência?, no dia 5, que uniu especialistas na área para debater o avanço dos aparelhos de vaporização.

O cigarro eletrônico funciona por meio da vaporização do tabaco ou de um líquido, chamado de e-liquid ou juice, que pode conter ou não nicotina entre outras substâncias. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) utiliza o termo dispositivos eletrônicos de fumar. Estes se dividem, basicamente, em dois: o tabaco aquecido e o cigarro eletrônico. O aparelho surge como uma promessa de auxílio para os que desejam parar de fumar, porém quando não regulamentado pode expandir o uso sem dimensão dos riscos eminentes.

A Anvisa proibiu o uso dos aparelhos a partir do Princípio de Precaução, emitido de forma legal para a “garantia contra os riscos potenciais” que, até então, não podem ser ainda identificados. O risco de utilizar o produto com nicotina já é eminente, mas os estudos para entender quais são os efeitos tóxicos dos líquidos sem nicotina ainda são desconhecidos. De acordo com a gerente geral de Registro e Fiscalização de Produtos Fumígenos derivados ou não do tabaco da Anvisa, Glória Latuf, a atual etapa é de análise do impacto regulatório.

- Fazer essa análise é se precaver, é pensar no problema, entender o problema, caracterizá-lo bem e aí sim seguir para as próximas etapas.

Glória Latuf, gerente geral de Registro e Fiscalização de Produtos Fumígenos derivados ou não do tabaco da Anvisa. Foto: Amanda Dutra.

Por ser uma novidade e existirem inúmeras formas, gerações, marcas e líquidos, o controle do produto ainda não é feito de maneira efetiva no país. De acordo com a professora do Departamento de Química, Adriana Gioda, a forma como o produto vem sendo divulgado em diferentes países é problemática, pois leva as pessoas a acreditarem que é um produto menos nocivo do que os cigarros convencionais. Segundo ela, o papel de apreensão é da polícia federal.

- É um contrassenso, porque você usa um contrabando. As pessoas não sabem que é um contrabando porque o aparelho está sendo vendido livremente. A Anvisa é reguladora, por exemplo, ela tira do ar vários sites de cigarro eletrônico por dia.

A falta de informação sobre o produto tem um impacto negativo na sociedade. O aparelho que foi criado com o intuito de reduzir danos para os fumantes, hoje é consumido por pessoas que nunca foram usuárias do cigarro convencional.  Como é o caso do Luiz Felipe Marcondes, de 24 anos, que usa cigarro eletrônico há 2 anos e, em maioria, usa com nicotina por ser a opção mais fácil de encontrar no Brasil.

- Eu não sei bem os malefícios do vape, mas os malefícios do cigarro todos sabem. Acredito que o vape é menos prejudicial. Com ele é possível controlar o consumo de nicotina, que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo, pois o usuário pode dobrar o consumo de nicotina.

Luiz Felipe Marcondes, de 24 anos, usuário de vape. Foto: Arquivo pessoal

A falta de informação também é um risco para os jovens que, muitas vezes, são atraídos pela diversidade de sabor dos juices no mercado. O cigarro eletrônico é visto como um atrativo, é comercializado em diferentes formatos e não tem cheiro marcante como do cigarro convencional, o que dificulta a identificação. Marcondes comenta que, pelo o que tem visto, os dispositivos vão passar pela mesma ‘moda’ que o cigarro passou.

- O consumo de cigarro eletrônico por menores ocorre por conta do sabor dos juices... é basicamente o que foi na época do cigarro convencional em que as pessoas fumavam porque era legal/ cool.

A regulamentação do produto, pode propor limite de quantidade de nicotina nos líquidos que estão disponíveis para comercialização no país. Este, seria um ponto positivo para o apelo de redução de danos, no qual você pode começar a usar uma quantidade de nicotina e diminuir com o tempo até não ser mais dependente da droga. Como a Yasmin Pellegrino, de 23 anos, que usa o vaper há um ano na tentativa de parar de fumar.

- Eu saí do cigarro para fumar o tabaco, do tabaco fui para o vape e depois voltei para o tabaco. O vape ajudou a diminuir, mas hoje fumo tabaco e vape porque ainda sinto falto do ato de fumar que o vape não tem. Eu uso com e sem nicotina, mas prefiro com a substância porque eu sinto falta na hora de usar. Quando uso com nicotina, tenho a sensação que estou fumando.

Yasmin Pellegrino, de 23 anos, usuária de vape. Foto: Ana Carolina Moraes.

Yasmin destacou também, dois fatores que colaboram para o uso de dispositivos eletrônicos para fumar: condição financeira e a comodidade de poder usar o aparelho em ‘qualquer lugar’. Ela relata utilizar muito mais seu vaper por poder usar na cama, no computador ou em lugar fechado por ser um vaporizador. Mas, a estudante lembra que vai depender do quanto a pessoa está disposta a pagar.

- Vape é bem caro também, né. 30ml de juice é, em média, uns 50 reais aqui no Brasil. Enquanto isso, o maço de cigarro é 8 reais.

Os aparelhos podem custam desde 40 a 800 reais, depende da marca e das atribuições. O produto está cada vez mais barato conforme se populariza e, de acordo com a professora do Departamento de Química, Gisele Tonietto que acompanha a evolução do produto, o barateamento pode resultar em sérias consequências para os usuários.

- O problema de baratear sem ter controle é a qualidade do produto. Existem vários componentes para que o cigarro eletrônico seja produzido. Um produto que utiliza baterias e o aquecimento sem controle de qualidade pode oferecer o risco de explosões, por exemplo.

Gisele Tonietto, professora do Departamento de Química. Foto: Amanda Dutra.

A preocupação dos especialistas no assunto é que a ascensão e popularização dos dispositivos eletrônicos derrube toda política antitabagista construída no país. Na última década, o Brasil reduziu em 40% o número de fumantes e se tornou referência global no combate ao tabagismo. E, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil se tornou o segundo país do mundo a cumprir o mais alto nível das seis medidas de controle do tabaco recomenda pela entidade.

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