O jornalista e professor André Trigueiro, do Departamento de Comunicação Social, proferiu a palestra Viver é a melhor opção no dia 12 de setembro no Anfiteatro Junito Brandão. O encontro faz parte das atividades do Setembro Amarelo, organizado pelo Programa Equilibrium, com o objetivo de discutir assuntos relacionados à depressão, ao suicídio, e, principalmente, abordar formas de prevenção dos casos.
Segundo Trigueiro, pesquisa realizada pelo DataSUS apontou que, entre 2007 e 2016, foram registrados 106 mil casos de suicídios no Brasil. Ainda conforme o professor, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontaram que, todos os anos, 800 mil pessoas põem fim à própria vida. Isso significa que, no mundo, a cada 40 segundos ocorre um novo caso de suicídio. O jornalista afirmou que o suicídio é um fenômeno complexo e não deve inspirar generalizações. Para ele, a combinação de fatores biológicos, genéticos, culturais e ambientais podem determinar a fragilidade psíquica e emocional da pessoa.
O professor citou o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que contém estatísticas sobre a incidência de crimes no país. Os dados alusivos ao suicídio por agentes de segurança pública, segundo Trigueiro, são alarmantes. Para ele, o mito de que profissionais com funções militares enfrentam qualquer problema está baseado no contexto histórico, em que os valores de sociedades patriarcais estão enraizados.
– Uma das razões é a humilhação da pessoa que, submetida a um treinamento tão rigoroso, não se permite ter depressão, transtorno de ansiedade ou qualquer problema que inibe o exercício da sua função pública. Ela se sente constrangida e humilhada de procurar um psicólogo ou psiquiatra, com medo dos colegas saberem. Essa questão é mal resolvida historicamente, e agravada em um país machista, em que os valores da sociedade patriarcal são epidérmicos.
Trigueiro apontou, ainda, as redes sociais como um fator de isolamento, que tem gerado uma espécie de “ditadura da eterna alegria”, em que todos estão preparados para tirar fotos e mostrar a vida perfeita. Para ele, o fenômeno da terceirização da existência, quando as pessoas passam a resumir a vida ao ângulo da foto que mostra o que ocorreu, faz com que as pessoas se sintam mais solitárias e não pertencentes de um ideal de perfeição inalcançável.
– Precisamos reconhecer, no dia a dia, que estamos vivendo uma tragédia social: a ditadura da eterna alegria. É feio sofrer. Todos estão preparados para tirar fotos, tem gente que vive disso. Ficam atentos para, na primeira oportunidade, mostrar onde está, com quem está, falar que o dia está lindo. De certa forma, a pessoa terceirizou a existência. A pergunta chave é: por que você faz isso?
Centro de Valorização da Vida
O jornalista explicou o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV), que desde 1962, no Brasil, reúne voluntários sem nenhuma vinculação política ou religiosa, e permite que as pessoas liguem para o serviço ou façam contato por chats on-line. Com 3 mil ajudantes e sem grandes divulgações midiáticas, o CVV atende anualmente cerca de 3 milhões de pessoas. Reconhecido pelo Ministério da Saúde como um serviço de utilidade pública, desde o último ano as ligações passaram a ser gratuitas. Ao ligar para o número 188, a pessoa receberá um auxiliar treinado para ouvir e ajudar.
– A vida deve ser um interesse comum a todos nós. Sejamos, portanto, agentes da saúde, agentes da vida, agentes em favor da resiliência das pessoas. Há momentos em que a gente se sente um vaso de cristal, e ninguém perto de nós está percebendo isso. Tenha paciência de ouvir. Faça um rastreamento, crie o ambiente da cumplicidade. Não raro vai aparecer uma situação que exige de você a pronta resposta de sugestão para procurar ajuda – disse Trigueiro.