A crise socioambiental
23/09/2019 18:49
Clara Martins

A PUC-Rio recebe o VII Congresso do ANPTECRE com o tema Religião, Teologia e a Crise Socioambiental

Padre Luís Corrêa e o padre José Ivo Follmann iniciam a Primeira Conferência do Congresso. Foto: Amanda Dutra

A Primeira Conferência do VII Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) explorou as causas e os desafios da crise socioambiental. A palestra de abertura do encontro foi ministrada pelo professor e pesquisador padre José Ivo Follmann, S.J., da Universidade Unisinos, e mediada pelo padre Luís Corrêa S.J., do Departamento de Teologia.

Segundo José Ivo Follmann, a crise humanitária é uma das precursoras dos problemas socioambientais e da perda do sentido teológico na sociedade. De acordo com ele, a entrada do capitalismo na dinâmica global reconfigurou as relações pessoais, laborais e comunitárias, de tal maneira a torná-las individualistas.

– Vivemos em uma sociedade de injustiças sociais e ambientais, marcada pela escassez do horizonte comunitário e pela defesa da exploração humana. Precisamos cultivar a esperança e instaurar a promoção da justiça socioambiental.

O professor ressaltou a desigualdade social como uma das ferramentas agravantes para a crise socioambiental, sobretudo quando há uma projeção populacional de 9 bilhões de habitantes para o ano de 2050. De acordo com o pesquisador, atualmente, em inúmeras cidades espalhadas pelo mundo, mais de 70% da população residem em favelas, e aproximadamente um bilhão de pessoas sofrem de fome crônica. Segundo Follmann, o cenário nos países mais pobres é o mais preocupante, porque a alta taxa demográfica acompanha um percentual elevado de indivíduos em moradias precárias e em áreas de risco de inundações.

No Brasil, de acordo com o pesquisador, o sistema econômico é caracterizado por um capitalismo predatório e extrativista. Para ele, a megadiversidade e a larga extensão do território brasileiro são alvos de conflitos socioambientais de alta complexidade, em especial entre as empresas do agronegócio e as mineradoras que, em muitos casos, avançam de forma violenta sobre as terras indígenas.

– Estamos presenciando um verdadeiro genocídio dos povos indígenas. Os dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) apontam que, em 2017, 110 indígenas foram assassinados e houve cerca de 847 conflitos por terra.

Padre José Ivo Follmann comenta a situação de desastre ambiental na Amazônia. Foto: Amanda Dutra

O país é considerado um dos mais afetados pelo descaso ambiental, afirmou Follmann. Segundo ele, nos últimos 40 anos, cerca de 763.000 km² na Amazônia sofreram ações predatórias, o que equivale a 526 campos de futebol, devastados por hora. Para ele, o avanço do desmatamento e a paralisação de fiscalizações rurais intensificam o quadro. Ele apresentou dados que expõem a crescente diminuição no número de multas do IBAMA e de ações fiscalizadoras na região.

– Entre janeiro e maio de 2016, 2.000 multas foram registradas, número alto quando comparado com os dados deste ano no mesmo período, apenas 800. E, também é curioso notar a queda vertiginosa das ações de fiscalização, em janeiro, foram registradas 20, mas, em abril, não houve atuação.

Follmann realçou a prática da justiça socioambiental como um dos objetivos a serem alcançados para a tentativa de reversão da crise e superação das desigualdades. Para ele, é necessário excluir os preconceitos diante do outro, ter um compromisso social com a defesa dos direitos básicos de todos, e exercer o cuidado com a natureza.

De acordo com o pesquisador, o Sínodo para a Amazônia, que será organizado pela Igreja Católica em outubro, exerce um papel importante na preservação do meio ambiente. Segundo ele, desde 2017, o Sínodo atua como um processo de produção de conhecimento coletivo, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da sustentabilidade e de evitar prejuízos ambientais, econômicos, sociais e perdas de vidas humanas e não humanas.

– É lindo ver que, ao longo dos anos, aproximadamente mais de 80 mil pessoas já participaram do Sínodo e foram organizadas 57 assembleias preparatórias, 21 fóruns nacionais, 17 fóruns temáticos e 179 rodas de conversa.

A abertura do Congresso teve a participação do Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta O. Cist, o Reitor da Universidade, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., o coordenador do Congresso padre Waldecir Gonzaga, Diretor do Departamento de Teologia, a professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Goiás, Carolina Teles Lemos, padre Abimar Oliveira de Morais, professor do Departamento de Teologia, o coordenador da área Ciências da Religião e Teologia na CAPES, Flávio Senra, e a coordenadora da Pós-Graduação de Teologia da PUC-Rio, professora Maria Teresa Cardoso.

Composição da mesa de abertura do VII Congresso ANPTECRE. Foto: Amanda Dutra 

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