Foi em 1976 que Silviano Santiago e Italo Moriconi se encontraram pela primeira vez. Já professor na PUC, Santiago tinha deixado os Estados Unidos para dar aula no Brasil. O ensaísta acabou por inspirar Moriconi no momento em que o jovem pisou na sala de aula pela primeira vez. Hoje, Italo Marconi é autor do livro 35 Ensaios de Silviano Santiago, lançado na Livraria Travessa do Leblon, ocasião em que Moriconi e Santiago estavam presentes. No dia 23 de outubro, os dois autores se reuniram na Universidade para autografar obras escritas por ambos e conhecer a nova geração de alunos.
Moriconi conheceu Santiago na década de 1970 mas, antes mesmo de frequentar as aulas do escritor, já lia as publicações dele na imprensa. O autor, que define o mestre como “professor de vanguarda”, descreveu a escolha dos 35 ensaios contou que hierarquizou os ensaios por relevância e, assim, conseguiu formar a antologia.
- O que mais me inspira nas obras do Silviano é a desconstrução, o caráter provocador. Todo ensaio dele parte sempre da tentativa de desfazer equívocos ou verdades muito estabelecidas que ninguém mais questiona. Para mim, isso é o mais importante.
Santiago disse ter nascido com uma “curiosidade infinita”, que o levou a sair da cidade do interior Formiga e ir para lugares como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Paris, onde começou a ter uma vida cosmopolita. A capacidade de observação do autor foi ampliada e, nas palavras do escritor, foi como se passasse de uma tela pequena de cinema para uma de Cinemascope - técnica utilizada entre 1953 e 1967 nos Estados Unidos para gravação de filme com tela panorâmica.
- A minha viagem à França foi importantíssima, foi lá que me dei conta que o Brasil tinha sido uma colônia. Todo o ensino brasileiro da minha geração era feito a partir do século XIX, do romantismo, e não se falava que o Brasil tinha sido uma colônia por três anos. Na Europa, eu cheguei durante a Guerra da Argélia e imediatamente pude ver o que significa colônia.
Com a colonização francesa em países africanos, o professor disse que pôde identificar a transição de novas etnias, maneiras de pensar e diferentes modos de encarar o mundo. Ao ler a revista Présence Africaine, Santiago começou a conhecer poetas africanos. Quando foi aos Estados Unidos, percebeu que os brasileiros “são latinos”. Deste ponto em diante, o ensaísta disse que incorporou uma visão crítica de quem tinha o poder de falar e articular no Brasil. Segundo Santiago, a reflexão foi aplicada nos trabalhos escritos e nas aulas, como quando foi mestre de Moriconi.
- Eu orientei o Italo na tese de doutorado dele. Com um trabalho de muitas antologias e seminários/contos, seminários/poemas, ele é uma figura muito conhecida. O Italo tem um olho crítico muito afinado, já sabia que ele faria uma boa escolha dos ensaios.
Para discutir o livro, uma mesa foi organizada com os professores da PUC-Rio Marília Cardoso, Fred Coelho e Júlio Diniz. Os professores Eneida de Souza, da UFMG, e Schneider Carpeggiani, do Suplemento Pernambuco, também participaram da discussão. Segundo o Decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), Júlio Diniz, Santiago foi fundamental para a PUC-Rio, pois o ensino de literatura antes do ensaísta era tradicional.
- O Silviano introduziu uma ideia de comparativismo, ou seja, as literaturas comparadas se articulavam e dialogavam entre si. Você podia contrastar não só obras de tempos diferentes mas também de culturas, autores, línguas e países distintos.
Para o Decano, o papel de Santiago envolveu a retirada da literatura de um lugar quase inacessível, com uma “erudição transponível”, na tentativa de democratizar a arte, a literatura e a cultura de uma maneira geral. Diniz comentou que, com a abertura do diálogo, a literatura não está só no livro, ela se encontra no roteiro de cinema, na letra da música popular e nas artes cênicas, o texto está presente em todas as formas artísticas.