Dois patriotas com amor pelos oprimidos
11/11/2019 16:12
Clara Martins

Palestra aborda os reflexos dos pensamentos de Paulo Freire e Augusto Boal para o cenário educacional

Encontro sobre a obra Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Foto: Amanda Dutra

A obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, e a relação do autor com o ensaísta brasileiro Augusto Boal foi o tema de seminário realizado na quarta-feira, 23. O encontro debateu a internacionalidade de Freire, as contribuições do teórico para o ensino e a influência do filósofo para o livro Teatro do Oprimido, de Boal. Na mesa, estavam presentes o professor Bernard E. Harcourt, da Columbia University, a diretora do Departamento de Educação, professora Maria Inês Marcondes de Souza, a psicanalista e diretora do Teatro do Oprimido Cecilia Boal, o professor Antonio Pele, Departamento de Direito, e a professora Alessandra Vannucci, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Bernard E. Harcourt destacou Paulo Freire como um dos principais intelectuais no campo do ensino pedagógico internacional. Para o professor, as ideias de Freire impactaram o modo como se pensava a educação tradicional, na qual o aluno não tem uma atuação ativa na aprendizagem. De acordo com ele, Freire defendia o empoderamento dos sujeitos para haver uma inserção respeitosa e digna do indivíduo no processo educacional.

O professor Bernard E. Harcourt comentou a influência de Paulo Freire para a educação. Foto: Amanda Dutra

Segundo o professor Antonio Pele, além de objetivar a alfabetização nacional, a filosofia educacional de Freire visa transformar o povo brasileiro em indivíduos críticos, capazes de refletir sobre as questões cotidianas. Pele comentou que Freire era otimista em relação ao desenvolvimento reflexivo na sociedade, porque acreditava na coragem e no amor do cidadão para continuar a luta de libertação do oprimido.

O professor Antonio Pele destaca o otimismo de Paulo Freire diante do processo educacional. Foto: Amanda Dutra
 

De acordo com a professora Maria Inês Marcondes de Souza, a partir das experiências de Freire na América Latina e do Norte, o filósofo se consolidou internacionalmente. Ela contou que o educador não pretendia deixar o Brasil, mas com a instauração da ditadura militar no país, ele foi exilado no Chile. Anos depois, Freire foi convidado a visitar Nova Iorque pelo padre Joseph Fitzpatrick e monsenhor Robert Fox, da Fordham University, e, durante esse período, traçou elementos em comum entre as nações, comentou Maria Inês.

A diretora do Departamento de Educação ressaltou que o filósofo transformou a experiência fora do Brasil em uma oportunidade para se aprofundar em outras realidades e entender os pontos em comum entre os países. Segundo Maria Inês, a integração de Freire com diversos intelectuais forneceu base para o autor enraizar as reflexões teóricas sobre os problemas educacionais no cenário global.

– Em Nova Iorque, por exemplo, Freire observou o trabalho que os padres fizeram com os imigrantes porto-riquenhos e com os afro-americanos, que eram grupos discriminados. Ele percebeu que havia muita semelhança com o trabalho que realizava no Brasil.

A professora Alessandra Vannucci relacionou a obra Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, com a Pedagogia do Oprimido, de Freire. De acordo com Alessandra, o livro de Boal desenvolve uma luta política no palco teatral, com o objetivo de provocar a libertação dos oprimidos por meio da arte. Para a professora, o diálogo do dramaturgo com o educador pernambucano foi essencial para o desenvolvimento do engajamento político no teatro. Ela realçou que, para Boal, cidadão não é aquele que vive na cidade, mas quem a transforma.

– No livro de Boal, o teatro é entendido como uma ação cultural para a liberdade. Assim, o artista é todo e qualquer cidadão que, partilhando os seus meios de produção, faz da arte um instrumento de cidadania.

Dentro desse ponto, Cecilia Boal relatou que o título do livro Teatro do Oprimido não foi a intenção de Boal, porque ele queria que se chamasse Estéticas Políticas. Ela contou que um amigo do casal, que editou Pedagogia do Oprimido, propôs o nome quando viu a obra.

A psicanalista Cecilia Boal conta como surgiu o título da obra de Augusto Boal. Foto: Amanda Dutra

A psicanalista, que viveu mais de 40 anos com o diretor, abordou a influência de Freire na trajetória de Boal a partir da semelhança ideológica entre os autores. Segundo Cecilia, as teorias dos intelectuais se contemplavam, porque tinham o mesmo objetivo, o de melhorar a sociedade.

– Eles se interessavam pelo povo do país e buscavam soluções para erradicar a pobreza, a injustiça e a desigualdade brasileira. Boal e Freire eram dois patriotas que se comoviam diante dos problemas sociais.

 

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