Conexões entre comunicação e a cidade
02/12/2019 17:51
Mariana Albuquerque

Muniz Sodré e Julita Lemgrumber analisam os problemas que o Rio de Janeiro enfrenta  

Julita Lemgrumber e Muniz Sodré participam de bate-papo com alunos da PUC-Rio. Foto: Catarina Kreischer.

Para discutir como encaminhar uma sociedade mais pacífica, justa e com instituições eficazes, e refletir a vivência dos indivíduos nas condições atuais no Rio de Janeiro foi realizado um bate-papo com os alunos da PUC-Rio. Participaram da conversa o professor emérito da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO UFRJ), Muniz Sodré, e a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Julita Lemgrumber. O encontro foi uma iniciativa dos professores da cadeira de Cultura Brasileira Daniel Mesquita, Gabriel Neiva e Luísa Mello, e foi mediado pelo pesquisador da Rede Globo Eduardo Carvalho.

Membro da Academia de Letras da Bahia, Muniz Sodré assinalou a importância da comunicação para enfrentar e solucionar os problemas que o Rio de Janeiro enfrenta. Segundo ele, mecanismos colaborativos à cidade podem surgir de mecanismos digitais, como, exemplificou, um deslocamento de vozes da periferia para um centro de discussões sobre as questões da cidade. Sodré, em contraponto, disse que há falha na comunicação, porque os indivíduos, ao mesmo tempo conectados ao ambiente on-line, estão desconectados com o mundo real. 

 - A conexão no mundo virtual não é a mesma do mundo real. A conexão das pessoas com as mídias digitais se dá em uma outra esfera, uma esfera especial, que eu tenho chamado de BIOS virtual e BIOS midiático. São duas esferas que se superpõem, você entra em uma, sai da outra, mas em momentos de decisão, essas duas esferas podem se separar. É como se você estivesse participando de um game, jogando bem, e, de repente, você sai do game e não sabe o que está acontecendo em sua casa, ao seu redor. É por isso que falei de desconexão, tem que haver uma conexão entre a tecnologia e a vida real. 

Muniz Sodré defende a importância da educação como solução para os problemas que o Rio enfrenta. Foto: Catarina Kreischer.

O professor ainda abordou o problema do tráfico de drogas. Segundo Sodré, a entrada de drogas e de armas na cidade alterou a paisagem relacional, pois, de acordo com ele, incentivou o surgimento das grandes quadrilhas, do crime organizado, das facções, e as relações se tornaram mais violentas. Ele considera que uma das soluções para essas questões é investir na educação, mas por outro lado, pontuou, a educação, assim como a família, está em crise.  

Julita Lemgrumber, que nos últimos sete anos tem trabalhado com a questão das drogas no CESeC, alegou que o Rio de Janeiro decidiu lidar com as drogas de forma violenta, e, segundo ela, essa escolha transformou a cidade no que ela definiu como catástrofe. Primeira mulher a assumir o Departamento do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro, entre 1991 e 1994, a socióloga expôs dados que mostram o panorama do Rio de Janeiro, como o racismo no sistema de justiça criminal, que faz com que o número de negros nas estatísticas de homicídios e de morte pela polícia seja alto.

Julita Lembgrumber fala sobre a necessidade de comunicação na cidade. Foto: Catarina Kreischer.

Em concordância com Muniz Sodré, Julita afirmou que a comunicação na cidade e entre indivíduos é fundamental, pois, exemplificou, a mensagem que um governante passa aos funcionários determina o que eles fazem. A socióloga também apontou sugestões que os indivíduos, como cidadãos, podem fazer para melhorar o atual quadro do Rio de Janeiro. 

- Primeiro temos que tomar consciência do que está ocorrendo. Há questões básicas no espaço em que vivemos e que podemos mudar. Se estamos insatisfeitos e revoltados com questões como a mobilidade e o preço da passagem, temos que agir. Não vamos sair daqui e fazer revolução com armas, mas começar a olhar para o que está ao nosso lado e que nós ignoramos, e, assim, passaremos a entender os problemas da sociedade e mudá-los.

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