Novas Dinâmicas
10/07/2020 15:56
Gabriela Azevedo

PUC-Rio usa de agilidade e criatividade para manter o espírito da sala de aula vivo durante a pandemia

Campus da PUC-Rio. Foto: Acervo Comunicar

No dia 17 de março, o Ministério da Educação liberou a Portaria nº 343 que autoriza a substituição de aulas presenciais por aulas on-line enquanto durar a pandemia do  novo coronavírus. O ato administrativo dava às instituições de ensino duas opções: suspensão das aulas e alteração do calendário acadêmico ou realizar aulas por meios digitais. Diante deste cenário, a PUC-Rio decidiu prosseguir e se reinventou para que o corpo discente não perdesse a vida da sala de aula, mesmo em um momento de isolamento social.   

A Coordenadora Central de Graduação da PUC-Rio, professora Daniela Vargas, comenta que foi possível haver mais flexibilidade no processo porque a Universidade tem uma Coordenação Central de Educação a Distância (CCEAD) e o sistema Moodle, vinculado a todas as disciplinas. Assim, com o surgimento da pandemia, só algumas matérias precisavam ser ativadas na plataforma. Daniela também destaca que o número de professores ativos no sistema on-line não chegava a 300, mas hoje, após a crise provocada pelo coronavírus, já são mais de 2 mil turmas. A agilidade para virar o jogo foi fruto de um processo de observação do que ocorria nos Estados Unidos e na Europa.

 

- Estávamos acompanhando o posicionamento das universidades em países onde a pandemia já havia chegado. Começamos a trabalhar no plano de contingência do on-line no Carnaval, pois sabíamos que em algum momento a Covid-19 chegaria ao Brasil. Mas achávamos que seria em meados de abril. O governador, Wilson Witzel, decretou as medidas de distanciamento social na sexta-feira, 13 de março. Nós fizemos reuniões, por telefone, naquele fim de semana e presenciais na segunda e terça-feira da semana seguinte. Estabelecemos que os professores precisariam fazer contato com os alunos a partir do dia 23 de março e começar a se organizar.

 

Coordenadora Central de Graduação da PUC-Rio, professora Daniela Vargas. Foto: Matheus Aguiar 

A Coordenadora de Graduação diz ainda que a “grande jogada” foi o fato de poder contar com a expertise do coordenador da CCEAD, professor Gustavo Robichez, e do gerente de integração do Laboratório de Engenharia de Software (LES), Rafael Nasser, que já tinham familiaridade com algumas ferramentas e propuseram o uso do aplicativo para videoconferência Zoom. Uma vez tomada a decisão, a instituição comprou as licenças para que o corpo docente pudesse usar o aplicativo para ministrar os cursos. 

Daniela Vargas observa que há uma diferença entre o Ensino a Distância (EAD) e as aulas on-line ministradas neste momento de pandemia. Segundo ela, o primeiro é um ensino de massa enquanto o segundo é essencialmente a transposição da aula presencial para o ambiente digital, método que o MEC define como ensino remoto. 

- O EAD serve para turmas grandes, não há uma interação direta entre o aluno e o professor criador do material, a mediação é feita por tutores, que não necessariamente são professores. O aluno também adapta o horário em que vai assistir à aula. No ambiente on-line há uma interação direta entre professor e aluno, estamos, na medida do possível, fazendo o uso da aula síncrona, com aulas ao vivo e não gravadas. O método do digital ainda está sendo construído, estamos mesclando a metodologia do ensino presencial dos departamentos e transpondo isso para o on-line. Também queremos fomentar a interatividade. 

Além Zoom, comenta a Coordenadora de Graduação, os departamentos podem utilizar outras ferramentas e meios de comunicação como Facebook, WhatsApp, Google Classroom, Google Meet, Maxwell. Ela destaca, no entanto, que, de uma forma geral, os professores optam por três ferramentas: o Moodle - ambiente virtual de aprendizagem da PUC -, uma ferramenta de comunicação e uma plataforma de aula síncrona.

 

Desafios e modelos de interação

Coordenador da Coordenação Central de Educação a Distância, o professor Gustavo Robichez, afirma que foi preciso expandir a capacidade de acesso da plataforma do Moodle para atender a atual demanda. Segundo ele, foi necessário amadurecer protocolos de uso e utilizar um modelo híbrido, com várias ferramentas. Robichez comenta que houve a necessidade de habilitar o professor para gerar o próprio conteúdo - com modelos de interação e debate. Segundo ele, só na primeira semana, cerca de mil professores foram capacitados com a realização de oficinas. A CCEAD também orientou alunos e professores que não tinham aparatos tecnológicos e acesso a internet. A Universidade, inclusive, foi responsável por disponibilizar os equipamentos necessários tanto para o corpo docente como para o discente. 

- Anteriormente, a CCEAD era de apoio à produção do conteúdo e concepção de estratégias didáticas, pedagógicas, principalmente para disciplinas de cultura religiosa e filosofia, que eram em EAD. Mudamos este modelo que era feito. O professor é a fonte  e o curador do conhecimento. Por isso, possibilitamos meios de ele se comunicar com os alunos, gerar conteúdos, modelos de interação e debates próprios – assinala.

Coordenador da Coordenação Central de Educação a Distância, o professor Gustavo Robichez. Foto: acervo pessoal

Daniela ressalta que auxiliar alunos sem computador e internet tem sido um dos maiores desafios. Segundo ela, um levantamento do DCE mostrou que só 5% dos alunos que responderam identificaram que estavam com dificuldade de acesso, ou seja, não têm equipamento, pacote de dados ou internet com bom alcance em casa. A coordenadora lembra, ainda, que alguns estudantes  enfrentam questões domésticas.

 

- A nossa primeira preocupação foi não excluir os alunos. Além disso, fizemos o trabalho de identificar as disciplinas que poderiam ser transportadas para o on-line ou não. Em paralelo, veio a demanda do DCE de reabrir o De-Para.

 

Segundo ela, todas as matérias que dependem de laboratórios e máquinas que estão na Universidade não foram transportadas para o sistema on-line. Mas alguns laboratórios da engenharia funcionam no remoto, fazem experimentos a distância, e outros, quando possível, de forma virtual. A professora explica que, em determinados casos, os alunos vão cumprir a carga horária quando houver a liberação para o retorno ao presencial. 

 

Criatividade para lidar com o virtual

O momento atípico que se instalou no dia a dia dos brasileiros fez com que professores buscassem não só a tecnologia como também formas atrativas para o aprendizado ser bem aproveitado. Coordenador adjunto de tecnologia acadêmica do Departamento de Artes & Design, Marcelo Pereira, diz que o departamento adotou dois sistemas híbridos, Google Classroom e o Google Meet. Pereira observa, no entanto, que as disciplinas de projeto são muito práticas e demandam contato entre alunos e professores. De acordo com o professor, o início do processo foi complexo, pois o objetivo era que os estudantes sentissem que havia a energia da sala de aula, mesmo sem o método presencial. 

 

- Tentar replicar o funcionamento do presencial no digital não foi simples. Experimentamos ferramentas diversas e conseguimos manter uma dinâmica similar a que fazemos em sala de aula. Há um afastamento natural pela falta do contato pessoal, mas também existe outra forma de aproximação. Como agora estamos disponíveis em várias ferramentas, os alunos se sentem mais à vontade para  conversar e tirar uma dúvida, inclusive fora do horário de aula. Isso não ocorria no presencial, mas se torna possível no digital.

 

Pereira afirma que o modo de preparo das aulas no digital é diferente do presencial, e comenta que há dificuldade de interação durante as aulas realizadas ao vivo com o uso de aplicativos de videoconferência – muitos alunos, inclusive, não gostam de abrir a câmera e aparecer no ambiente digital. Por conta disso, ele mudou a dinâmica das aulas que leciona. 

 

- Deixo o momento final da aula para  perguntas e tenho gravado vídeos para eles assistirem com antecedência. Com isso,  a aula vira um momento de debate. Também estou fazendo um concurso de fundos de zoom, uma forma de incentivar os alunos a abrirem a câmera. Para os alunos isso também é legal, pois muitos não querem expor o ambiente de casa, dessa forma a privacidade é preservada. Assim eles passam a entender melhor como lidar com o ambiente virtual. 

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