Com a chegada do novo coronavírus, as atividades acadêmicas e administrativas precisaram fazer uma rápida adaptação ao cenário da pandemia, o que exigiu esforço e compreensão dos grupos docente e discente. Conjuntura que atingiu os alunos de formas diferentes, uma vez que eles estão inseridos em realidades particulares. Apesar disso, segundo a psicopedagoga Helen Oliveira, do Núcleo de Orientação e Atendimento Psicopedagógico (NOAP), os relatos mais comuns entre os alunos são os de ansiedade e insegurança.
Para a estudante do 4º período de Cinema Gabriela Callado, a questão emocional é um dos principais desafios a serem enfrentados. Mesmo com o uso de medicamentos, ela ressalta que a adaptação dos estudos para o ambiente virtual nem sempre foi produtiva, e que, mesmo com todos os equipamentos para acompanhar os conteúdos, a instabilidade provocada pelo momento se tornou um impasse.
— Acho que todo mundo se afetou porque foi do nada, e ninguém esperava que fôssemos parar por tanto tempo. O cenário caótico que estamos vivendo gera muita ansiedade. Eu tomo remédio para isso, mas às vezes é difícil e prejudica a concentração. Comecei a me sentir muito desmotivada e negativa em relação a tudo, e tinha dias que eu só passava dormindo. Mesmo em aulas on-line, com todos os equipamentos para participar, você tem que levantar e fazer. Se não temos força mental, é difícil, então, precisamos de coragem.
De acordo com Helen, a mudança de ambiente de estudos para a realidade domiciliar é outro ponto de destaque entre os alunos. Ela observa que, ao passar por dificuldades como esta, a pessoa deve fazer um exercício de autoconhecimento e descobrir em quais horários do dia há mais produtividade e, também, por quanto tempo a concentração consegue ser mantida. Analisar de forma realista essas características pode ser o primeiro passo, de acordo com a psicopedagoga, para uma nova organização.
— Muitos alunos utilizam o campus da PUC para estudar porque os espaços são mais silenciosos. A falta de concentração no ambiente domiciliar, a dificuldade de planejamento e a realização das atividades são os principais pontos.
É o caso da estudante do 4º período de Psicologia Victória Bazarov. Ela conta que o principal lugar de estudos antes do isolamento social era a biblioteca da Universidade e, para tentar contornar a dificuldade, estabeleceu uma grade de horários com tempos para outras atividades e lazer. A aluna considera que todos serão impactados por este momento, e que é importante procurar fazer o melhor possível dentro das possibilidades existentes, sem esquecer da saúde mental.
— Eu sempre aprendi mais fora de casa, então tem sido um desafio. Sempre tem algo tirando a atenção, e com as notícias é difícil manter o foco por muito tempo. Querendo ou não, estamos sempre ansiosos, e acho que é normal. Estou fazendo o que posso a cada dia, estabeleço metas para mim e tento cumprir ao máximo, mas sem me punir tanto, porque sei que é um momento atípico para todos nós. Acho que o rendimento vai ser afetado, e não tem como não ser, porque é uma situação de muita incerteza.
A psicopedagoga do NOAP relembra que o momento é atípico, e que a mudança do ensino presencial para o ambiente on-line não transformou, necessariamente, os cursos oferecidos pela PUC-Rio em conteúdos EAD. Segundo ela, este tipo de aprendizagem demanda um planejamento que a maior parte dos centros estudantis não tinha antes da pandemia.
— Foi uma coisa muito rápida, nós não estávamos preparados para o que aconteceu. A Universidade teve que transformar todo o seu conteúdo, ou tentar fazê-lo, para a aula virtual. Se estávamos voltados para a aula presencial, com determinadas estratégias de leitura ou assimilação do conteúdo, agora temos que mudar. Com certeza isso gera um impacto muito grande na aprendizagem.
A aluna do 9º período de Engenharia Química Beatriz Bastos afirma que, com a economia do tempo de deslocamento, conseguiu aproveitar melhor os estudos e realizar outras atividades dentro de casa. Mas, ao conhecer histórias de pessoas que encontravam dificuldades durante o isolamento, decidiu criar um canal de comunicação no WhatsApp para que os estudantes compartilhassem os relatos e ajudassem uns aos outros.
— Eu vi que havia muitas pessoas compartilhando as dores em relação à quarentena, com os medos e inseguranças do período em que estamos vivendo. Pensei que seria uma boa ideia criar grupos de autoajuda, para que as pessoas pudessem relatar o que estava acontecendo com elas e também compartilhar coisas que gostam de fazer. É uma forma de não nos sentirmos sozinhos. Acho que está sendo interessante a troca, espero que ajude a quem participa, influenciando as pessoas a manterem essa corrente do bem, porque é esse o objetivo.
Ajuda para compartilhar emoções
Ao detectar as dificuldades que os estudantes enfrentam durante o período on-line, a Rede de Apoio ao Estudante (RAE) montou um atendimento virtual e organiza rodas de conversas durante as quartas-feiras com diferentes profissionais que abordam as principais demandas que o isolamento social tem provocado. Helen reconhece que o momento não é de extrema produtividade para as mais diferentes áreas e considera que o compartilhamento das emoções entre amigos, familiares e profissionais disponíveis ajuda no processo.
— Em primeiro lugar, busque ajuda se precisar. Tenha em mente que tudo bem não conseguir ser produtivo. Vivemos em uma sociedade que dá muita importância para a produção, mas a pressão emocional neste momento também é grande. Acho que se acolher e não ter um nível de cobrança muito elevado é essencial. O respeito consigo deve ser mantido em primeiro lugar. E, para quem puder, claro, fique em casa. Se Deus quiser, tudo isto logo vai passar.