A quinta edição do Seminário Negócios de Impacto Social e Ambiental, organizado pelo Movimento Rio de Impacto com o apoio da FAPERJ, foi realizado entre os dias 25 e 27 de novembro. Os encontros virtuais tiveram como objetivo abordar o papel de setores da sociedade, atuantes no mercado fluminense, no fomento a projetos de empreendedores com impacto socioambiental positivo. O encontro reuniu 30 especialistas e foi mediado pela coordenadora do movimento Rio de Impacto e secretária-geral do Fórum da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) de Desenvolvimento Estratégico, Geiza Rocha.
A conferência contou com a presença de diversas instituições e empresas. Na abertura da reunião, foi lançado o Guia de Instituições de Apoio a Negócios de Impacto Socioambiental 2020, elaborado pela mestranda Monique de Costa, da UFRRJ, sob orientação do Sebrae e demais 24 entidades membros do Rio de Impacto.
O primeiro dia de palestras foi dedicado à discussão do papel do governo e da sociedade nos negócios de impacto. Ao falar sobre a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), o representante do Laboratório de Inovação Financeira (LAB) e Superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), José Alexandre Cavalcanti Vasco, destacou a importância de uma renovação financeira e do diálogo com a sociedade.
- Acho que temos um momento muito desafiador para todos os países. O pós-Covid encontrará nações mais pobres e desiguais. Eu penso que a inovação financeira e este diálogo são as soluções para financiar a retomada do crescimento no nosso estado de uma forma alinhada ao desenvolvimento sustentável.
Em outro momento, o coordenador da Enimpacto, Lucas Ramalho Maciel, ressaltou o papel do governo nos negócios de impacto e destacou três vertentes principais: o Estado como comprador, como regulador e como fomentador dos empreendimentos. Para ele, este modelo de negócios é estratégico e necessita de tratamento diferenciado.
- Ao gerarem efeitos positivos na sociedade e no meio ambiente, os negócios de impacto acabam diminuindo a demanda pelo Estado em ações mitigadoras, tanto de problemas sociais quanto de ambientais. Em tese, diminuiria a pressão por recursos públicos nessas áreas.
No segundo dia de debates o tema foi voltado para o papel das empresas e organizações não governamentais nos negócios de impacto. A representante da Assessoria e Planejamento para o Desenvolvimento (Asplande), Dayse Valença, apresentou projetos que visam apoiar o empreendedorismo feminino. O “Sabores do Rio” ampara cerca de 100 empresárias na área gastronômica em favelas e periferias. Já o programa “Raízes do Rio” tem como objetivo a produção de artesanato a partir de técnicas ambientalmente sustentáveis. Dayse pontuou a importância da ajuda monetária para a manutenção de alguns empreendimentos, uma vez que a pandemia de Covid-19 provocou abalo em certos setores de economia.
- O apoio financeiro é muito importante. Não adianta a gente fazer cursos incríveis, processos de mentoria bacana, se não houver também um apoio para que os negócios possam voltar a rodar, principalmente agora neste momento trágico que a gente está vivendo com a pandemia. Se não houver um apoio, realmente, o pessoal não consegue existir minimamente. Portanto, ele é fundamental.
Em sua apresentação, a Diretora Executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), Célia Cruz, ressaltou que atualmente 700 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza e meio bilhão de pessoas podem vir a viver em decorrência da pandemia da Covid-19, segundo o relatório “Dignidade, não indigência”, divulgado em 2020 pelo Comitê de Oxford para Alívio da fome (Oxfam), rede global que busca soluções para o problema da pobreza, desigualdade e injustiça. Célia ainda observou que o coronavírus escancarou as desigualdades e a falta de acesso à oportunidade e qualidade de vida da população de baixa renda.
- Eu acho que a gente precisa trazer uma abordagem sistêmica para este campo dos investimentos e negócios de impacto. Às vezes, os negócios são tão focados em resolver um problema que não olham sistemicamente. Precisamos levar isto para os empreendedores e atuar juntos.
O último dia do seminário teve como tema o papel da aceleração nos empreendimentos de impacto social e ambiental. O diretor executivo da WhyWhaste BR, Ricardo Salazar, salientou a falta de discussão da influência do desperdício de alimentos nos aspectos econômico, social e ambiental. Presente em 12 países, a empresa é dedicada à criação de ferramentas que ajudem negócios do ramo de alimentos a reduzirem o desperdício.
- Sempre que se fala em poluição, nós pensamos em gases ou em combustíveis fósseis, sendo que o desperdício de alimentos é responsável por um quarto da emissão de gases no nosso planeta - comenta.
Empreendimentos de mulheres da periferia carioca também foi tema de um debate. A fundadora do Josefinas Colab, Aira Luana do Nascimento, evidenciou o baixo número de mulheres nas empresas startup. O empreendimento tem como pilar o impacto social e, entre os serviços oferecidos, estão a mentoria para microempreendedores, consultoria em projetos, melhoria de processos para empresas e grupos de empreendedoras.
- Quando falamos em mulheres e mães, e comparamos com outras empresas startup e de tecnologia, percebemos que as mulheres são minoria. Quando a pensamos em um empresário, imaginamos um homem branco, de meia idade, mas nunca uma mulher da periferia criando um negócio ou arriscando o seu dinheiro. A Josefinas nasce como esse lugar onde as mulheres podem desenvolver os seus projetos.