Tango na beira do abismo
31/03/2021 18:25
Lorena Teixeira e Luanna Lino

Professor Wilson Gomes, da UFBA, abordou em Aula Inaugural os atuais problemas de comunicação que o Brasil experimenta nos dias de hoje

Professor Wilson Gomes

O professor Titular Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), analisou a comunicação na democracia brasileira contemporânea na Aula Inaugural que ministrou por videoconferência para alunos e professores do Departamento de Comunicação, no dia 22 de março. Wilson Gomes iniciou a participação na conferência com um questionamento: “O que estamos vivendo hoje no Brasil é um fenômeno político ou de comunicação?".

Ele utilizou várias perguntas para ilustrar o caso da pandemia, que afirmou ser um problema para os profissionais da saúde resolverem mas, também, uma questão econômica e política. Ressaltou que, embora não pareça dificuldade para os profissionais da área de comunicação, a pandemia, no entanto, diz respeito à comunicação sob diversos ângulos.

- O problema começa com a politização mundial da pandemia pela extrema-direita, pois por desventura o vírus se espalhou justo no momento da máxima expansão de governos e movimentos de extrema-direita no mundo. A extrema-direita é populista, identitária, digital, e o populismo precisa da comunicação direta febril e constante com o povo.

Mestre e doutor em filosofia pela Universitas a Scte. Thomae, Roma, Gomes explicou o fato de a extrema-direita ter nascido dentro de um ambiente digital ser o que a torna um fenômeno da comunicação, pois ela se dissemina por narrativas, enredos, histórias, scripts, imagens públicas e manipulação de grandes sentimentos. Ele exemplificou como uma forma de narrativa e imagem pública as fake news, as teorias da conspiração, que, segundo ele, podem conter protagonista, antagonista e colocam a esquerda e o centro como inimigos. Além disso, afirmou que a extrema-direita aderiu a vários scripts que são montados a partir de fatos inventados da cabeça de uma pessoa mal intencionada, cujo propósito é sustentar a posição epistêmica.

Gomes caracterizou a extrema-direita como conservadora, liberal, anti-iluminista e antidemocrática, uma vez que, segundo ele, os adeptos deste tipo de ideologia não são capazes de compreender os princípios básicos da democracia. De acordo com o professor, os extremistas tiveram como propósito na pandemia sustentar uma posição negativa.

O professor alertou sobre o perigo das fake news e comentou que durante este período de contaminação pelo novo coronavírus até mesmo os profissionais da saúde precisaram estudar as falsas notícias com medo do que elas poderiam causar. Ele apontou seis itens que são fundamentalmente de comunicação e não apenas políticos. O principal assinalado por ele é a forma como a ciência e a democracia vêm sendo contestadas ainda no século XXI.

- Como começou a demonização dos dois principais partidos brasileiros, PSDB e o PT, mesmo eles fazendo parte das melhores décadas do Brasil em um viés econômico e social? Como chegamos ao ponto de conceder o centro do poder a uma minoria que nunca passou dos 20% da população? – interrogou.

Ainda sobre as fake news, Gomes disse que elas são as responsáveis por grande parte dos problemas de comunicação que a sociedade enfrenta. Ele comentou que essas notícias são causadas pela política e são usadas a favor dela quando demonizam partidos, criam um pânico moral e radicalização. Gomes ainda observou que, atualmente, as informações podem ser repassadas por qualquer um, e, afirmou, o jornalismo de apuração sofre com esta questão.

- A comunicação nos colocou aqui dançando tango na beira do abismo, então a comunicação deve encontrar meios de nos tirar daqui- encerrou.

 

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