Empreender no jornalismo
22/06/2021 18:07
Rafael Serfaty

Editor do Projeto Colabora, Aydano André Motta aponta novos caminhos para os profissionais da área

O jornalismo mudou muito com o tempo. Enquanto antes o usual era trabalhar em grandes veículos de comunicação, hoje é possível empreender dentro da profissão. Jornalistas desenvolvem diferentes modelos de negócio na internet como empreendedores individuais ou se juntam a colegas para iniciar um novo projeto. Assim, criam-se as condições de mercado que incentivam os profissionais do século XXI a apostar em uma ideia própria e, assim, garantir o seu sustento.

A questão é que o empreendedorismo não surgiu como uma alternativa, e sim como uma tendência. Comentarista do canal Sportv e editor do Projeto Colabora, o jornalista Aydano André Motta afirma que os lugares assalariados do jornalismo têm desaparecido cada vez mais e considera que, hoje, há mais possibilidades para quem for empreendedor. E, para ele, há dois elementos responsáveis por esta mudança: um critério objetivo e outro de ordem social.

– O fator mais importante é a revolução tecnológica. Hoje você pode ignorar a existência de um eventual colunista que você não gosta e se concentrar em lugares em que você vai ler apenas as coisas que te interessam. Hoje  qualquer um pode construir a própria mídia. Segundo, houve aumento da demanda social por diversidade. As pessoas passaram a não aguentar mais só a perspectiva da elite branca. O mercado se ajustou a isto, com a criação de vários sites que tratam as questões no Brasil sob a ótica dos negros. É algo que influenciou até as empresas jornalísticas, para ter outra perspectiva sobre o mesmo assunto.

Aydano, que participou de uma videoconferência na Universidade sobre o assunto, revela que buscou satisfação pessoal dentro do jornalismo. Para ele, é importante se divertir com a profissão, já que, comenta, trabalhar é o que as pessoas mais fazem na vida. Aydano gosta de fazer o jornalismo das histórias humanas, e empreender na profissão lhe concede este privilégio.

– A principal vantagem é você viver o seu sonho. Quando você vai trabalhar para alguém, você está compartilhando o sonho daquela pessoa. Já no empreendimento, ele será do jeito que você quiser. Você monta um negócio de acordo com a convicção pessoal.

O jornalista, no entanto, vai além ao abordar essa diferença. Segundo ele, o assalariado é como criança, e o empreendedor é o adulto. Ele considera um sinal de maturidade ter que lidar com o negócio como todo, já que a responsabilidade pelo ganho é única e exclusiva do empreendedor. O repórter cita, inclusive, uma velha fórmula: se a pessoa não trabalhar, não ganha. Já no caso do empregado, observa, o profissional sabe que o salário estará lá no primeiro dia útil do mês.

– Vamos pensar em um garoto de 10 anos. Você se preocupava com a conta de luz na sua casa? Você se preocupava com a roupa estar lavada? Você se preocupava com o que ia ser o almoço ou o jantar do dia seguinte? Nada disso. O emprego é igualzinho. Eu trabalhei 30 anos em emprego formal, chegava para trabalhar no Globo e tinha lá meu lugar. Eu não precisava me preocupar com o prédio do Globo, como ele estava aberto e funcionando. Quem pagava o aluguel, a conta de luz, de água não era eu. Não fazia a menor ideia de quanto custava isso. O empreendedorismo, na comparação com a casa, eram os seus pais.

Aydano André Motta

Aydano também ressalta a importância da qualidade no jornalismo dos empreendedores. Segundo ele, não há uma estrutura em que um conserta o trabalho do outro. Deve-se buscar as soluções para fazer o empreendimento o melhor possível: se for trabalhar sozinho, é necessário garantir a qualidade da produção. É um processo muito mais rigoroso do que nas redações, acredita. E faz até um paralelo com um o serviço de táxi.

– Você me contrata para te levar em Niterói, mas você quer que eu te espere lá e não quer pagar a minha espera. Não vale a pena, vou ficar parado sem ganhar, enquanto eu poderia arrumar outro passageiro. Para você ser um empreendedor é a mesma coisa: é preciso ter muita qualidade, com a sua capacidade profissional sempre atualizada. O profissional terá menos oportunidades no mercado se apresentar mais deficiências no seu trabalho.

O jornalista enxerga um longo caminho para se capacitar neste cenário: é preciso muita dedicação, visto que a qualidade jornalística depende de uma série de aptidões. Portanto, ele julga imprescindível o profissional investir para se aprimorar.

– É necessário ter um português excelente, o domínio de pelo menos uma língua estrangeira, um conhecimento profundo do assunto que você quer se especializar e estar atento às novidades de um mercado sempre em mutação. É uma demanda insana de informação, e você tem que estar o tempo todo voltado para isso.

Além disso, Aydano aborda a relevância de saber o valor do próprio trabalho, o que é fundamental na hora de negociar valores. Para o jornalista, é necessário fazer uma conta para saber o que é preciso no seu trabalho e, com isso, saber quanto é preciso cobrar para torná-lo viável. Segundo ele, são diversas variáveis na hora de estabelecer um valor, o que muitas vezes pode levar a um cálculo errado.

– Nesse mundo do empreendedorismo jornalístico muitas vezes te pedem um orçamento. ‘Quanto você cobra?’ é a pergunta mais terrível que existe. Dependendo do que você disser, na hora você já sabe que cobrou pouco, como quando aceitam de cara sem pechinchar. Aí já era, faz parte.

Aydano conclui ao afirmar que empreender nesta área é defender um jornalismo mais plural, mais democrático e com mais possibilidades. Não por acaso, revela que adoraria começar na profissão hoje.

– Minha carreira foi ótima. Fui a três Copas do Mundo, fiz um monte de matéria legal, passei a vida me divertindo com o meu trabalho. As melhores experiências eu devo ao jornalismo. No entanto, eu queria estar começando hoje, porque me permitiria viver o jornalismo na sua plenitude. Eu ia poder fazer 100% do que eu quisesse, com muito menos concessões do que fui obrigado a fazer pela natureza do jornalismo na época em que eu estava começando.

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