A covid-19 alterou drasticamente a vida dos humanos. Mas pouco se fala, no entanto, dos impactos que a pandemia provocou nos bichos de estimação, que sofrem para encontrar um lar estável durante o caos. Em meio a isso, instituições que trabalham com a causa animal fazem o possível para se adequar à nova realidade.
Localizada em um bazar no centro de Barra Mansa, Rio de Janeiro, a ONG Late e Mia foi uma das muitas afetadas pelo cenário surgido com novo coronavírus. A instituição, que resgata animais em situação de emergência e os reintegra à sociedade por meio de adoção, se mantém com doações e abriga cerca de 60 bichos. Houve, entretanto, acréscimo de despesas desde o começo da pandemia, visto que o número de resgates aumentou ao mesmo tempo que o de adoções diminuiu. Responsável pela ONG, Maria Lúcia Gama afirma que muitos abandonos têm relação direta com a covid-19.
– Existem relatos de bichos que perderam os seus donos. Às vezes ficam na casa, os parentes não querem dar seguimento ou não se identificam com eles. O abrigo incentiva o abandono, todos querem te deixar o animal. A pessoa não quer a responsabilidade de castrar, de impedir que tenha crias indesejáveis, aí quer logo um lugar para descartar. Usam muita má fé para te entregar o bicho. O animal abandonado é diferente do que vive em casa, ele chega em outras condições.
Esta realidade é ainda mais cruel com os gatos. Segundo Maria Lúcia, o cachorro é muito mais aceito, tanto que a Late e Mia é a única ONG da região a ter um gatil. Há bastante preconceito contra os felinos e, dado o contexto de pandemia, a questão financeira também os prejudica.
– Há muita rejeição. Às vezes chega alguém na entrada do bazar, aí quando vê gato já não quer entrar. Preto, então, dá azar. É cultural, as pessoas estão atrasadas neste sentido. Fora que a ração é cara. Deixam de adotar porque há muito desemprego, então uma coisa puxa a outra. Há um gasto, não é só levar o animal.
Maria Lúcia alega, no entanto, que a adoção de um animal se torna ainda mais benéfica durante a pandemia. Para ela, a presença de um mascote só acrescenta em tempos de isolamento social. A pessoa dá e recebe muito amor. A prova disto é o estudante de Engenharia Mecânica Rodrigo Serfaty, dono da gatinha Judi há quase dois meses. Alegre e esperta, a felina deu novo sentido a uma vida bastante abalada pela quarentena.
– Por muito tempo eu fiquei trancado estudando para o Enem. Eu não podia sair de casa para nada, no máximo ver um parente ou outro, ir para o médico, saídas pontuais bem específicas. É uma rotina monótona, mesmo após o vestibular ficou chato. As pessoas com quem eu convivo se tornam desinteressantes ou insuportáveis. Quando a Judi chegou foi um alívio, porque se tornou uma companhia carinhosa e brincalhona, tipo uma criança. Ter um animal de estimação durante a pandemia foi excelente, deixou a família mais unida. Dá trabalho, mas é uma luz dentro da casa.