Cuidado com a saúde mental na pandemia
01/10/2021 13:47
Vitória Barreto

A psiquiatra Fátima Vasconcellos e o professor Rafael Zaremba, do Departamento de Psicologia, fornecem dicas para driblar os efeitos da Covid-19

O tema do quarto dia de palestra da SIPAT, no dia 16 de setembro, foi a Saúde Mental na Pandemia. Nesta apresentação, a Presidente da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro, psiquiatra Fátima Vasconcellos, e o Coordenador do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) discutiram sobre os fatores que afetaram emocionalmente as pessoas desde a chegada do novo coronavírus.

Fátima começou a palestra e trouxe a questão de como a pandemia, pela primeira vez em muito tempo, instigou a incerteza e certamente aumentou um sentimento de impotência coletivo. Ela comentou que, antes do vírus, havia uma sensação de controle, como se os seres humanos tivessem algum poder com relação ao futuro, algo que a proliferação contínua e acelerada do SARS-CoV- 2 provou o contrário.

A Presidente da Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro mencionou vários fatores que criaram o sentimento de impotência, que se estendem até os dias de hoje. Ela citou que no começo da pandemia havia uma desconfiança de todos nos processos de gestão e coordenação dos protocolos de biossegurança. Além disto, com a falta de equipamentos de proteção individual e álcool gel, a sensação de desconfiança era muito forte. Ao mesmo tempo, esta ansiedade não desapareceu, pois mesmo com mais informação, as pessoas ainda não sabem quando os protocolos do distanciamento social não serão mais necessários.

A médica observou o quão importante é ter um tempo limitado com as notícias, pois, comentou, que é necessário delimitar um tempo para escutar sobre as informações da Covid-19. Ela também ressaltou a importância de consumir informações de fontes confiáveis, como no site da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Fundação Oswaldo Cruz e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Fátima Vasconcellos

- Durante a queda das torres gêmeas, que está fazendo 20 anos, houve mais quadros de Transtorno de Estresse Pós-Traumático pelo fato de que as televisões dos Estados Unidos e do mundo ficavam passando a queda das torres gêmeas o tempo todo. E isso afetou muita gente que nem estava nas torres gêmeas, e nem tinha parentes no local, mas de tanto ver as cenas do primeiro avião batendo na torre, muitos quadros de estresse pós-traumático aumentaram. É importante estar informado, mas são muitos processos acontecendo ao mesmo tempo e todos eles bastantes intensos: mudança na rotina de trabalhos, do relacionamento com amigos e família, dilemas políticos e financeiros em todo mundo. Estipule quanto tempo do seu dia você pode se dedicar ao consumo de notícias, e, se necessário, reduza.

Ela listou cinco itens que ela considera fundamentais para melhorar a saúde mental neste momento: dormir bem, alimentação de qualidade, movimentar o corpo, fortalecer contatos à distância, buscar momentos de lazer. Fátima observou que estes tipos de cuidado são importantes não só para a pessoa como para os outros que convivem com ela. A psiquiatra lembrou o aumento de casos de violência doméstica na pandemia, muitas vezes causados pelo isolamento e problemas econômicos, mas, ressaltou,  que eles acontecem também devido ao consumo de álcool e outras drogas. Por isto, ela orientou que é bom evitar o consumo de entorpecentes para aliviar as angústias da rotina na pandemia.  

Olhar para o futuro

O professor Raphael Zaremba, que já trabalhou com diversos atletas ao longo de sua carreira como profissional da saúde mental, destacou a importância da meditação, pois, segundo ele, é o melhor exercício para trabalhar a respiração. De acordo com o professor, ela é o mecanismo que manda a informação ao cérebro em ocasiões de risco e, consequentemente, impulsiona a produção do hormônio do estresse, a cortisona. Ele ainda comentou sobre como é fundamental para a saúde emocional ter perspectivas. 

Professor Raphael Zaremba

- Uma outra coisa que eu procuro provocar nas pessoas é a reflexão: não vamos pensar neste ano ou no ano que vem. Vamos pensar daqui a cinco ou até dez anos. O que você vai fazer daqui a dez anos? Como você gostaria que fosse a sua vida daqui a cinco ou dez anos? Vamos olhar para além.

Ler, fazer exercício e outros hobbies foram apontados pelos dois profissionais como atividades que podem ajudar a driblar o dia a dia da pandemia. Padre Waldecir observou que ajudar o próximo nestes momentos difíceis, muitas vezes pode agregar muito felicidade à rotina. O presidente da CIPA comentou que, apesar de todas as incertezas, também é interessante aproveitar este momento para ver como sairemos seres humanos melhores no final deste momento difícil.

Padre Waldecir Gonzaga

- É preciso saber lidar com este momento, a organização do tempo é dura, é muito difícil. Mas diria que é preciso que aproveitemos isto também e saiamos lá no final, quando chegar o momento, para sermos seres humanos melhores.

Os palestrantes lembraram que a PUC-Rio tem uma estrutura que pode auxiliar as pessoas que enfrentam problemas físicos ou emocionais. Fátima Vasconcellos citou o atendimento do ambulatório São Lucas, que oferece um programa para pessoas que ficaram com sequelas por causa da Covid-19 ou que não foram contaminadas pelo novo coronavírus, mas podem estar comprometidas psicologicamente por causa da pandemia.

 

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