Passaporte para correspondente internacional
01/10/2021 15:59
Gabriel Meirelles

Ex-aluno da PUC-Rio, jornalista Marcelo Courrege revela em palestra os caminhos que percorreu para trabalhar no exterior

Marcelo Courrege em uma praia na cidade de Palanga, na Lituânia

O correspondente da TV Globo em Londres Marcelo Courrege abriu a Semana do Audiovisual 2021.2 da PUC-Rio com histórias e dicas sobre jornalismo esportivo e internacional. Diante do cenário paradisíaco do litoral da Lituânia – onde ele está por causa da cobertura da Copa do Mundo de Futsal –, o ex-aluno da Universidade compartilhou a trajetória profissional e contou os principais desafios que enfrentou para conseguir trabalhar no exterior. Com duas Copas do Mundo e duas Olimpíadas no currículo, o repórter se prepara, agora, para uma nova experiência: será transferido para Paris em 2022.

Conhecido pelos colegas de turma como Marcelinho Mega-fone, Courrege ingressou na PUC-Rio para cursar Comunicação Social – Jornalismo em 2000. Começou a carreira no jornal esportivo Lance!, em 2002, quando estava no 5º  período da Universidade. No ano seguinte, passou no processo seletivo para o Infoglobo e se formou na graduação. Em 2004, foi contratado pelo Sistema Globo de Rádio, onde trabalhou na equipe de esportes com o radialista Eraldo Leite.

A ida de Marcelo Courrege para a televisão ocorreu entre julho e agosto de 2007. O repórter havia recebido convite da TV Record, mas achou que seria um gesto de ingratidão com a Globo migrar para uma emissora concorrente depois de todo o investimento colocado nele desde a época de trainee. Durante a cobertura de um treino do Vasco, a dúvida em aceitar ou recusar o chamado ficou evidente em seu rosto e despertou a atenção do colega Eric Faria, que o apresentou ao então diretor executivo da Central Globo de Esportes, João Pedro Paes Leme. Courrege fez alguns testes e foi contratado no período dos jogos Pan-Americanos do Rio.

Uma vez na televisão, o jornalista percorreu um longo caminho até se tornar correspondente internacional. Primeiro, se destacou com reportagens sobre vôlei e foi designado, em 2012, para cobrir a Fórmula 1. Durante cinco temporadas, viveu experiências semelhantes às de um correspondente, já que o repórter desta competição de automobilismo viaja a 19 países diferentes, no mínimo. Após a Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016, Courrege recebeu o convite para se mudar provisoriamente a Moscou, por ocasião da Copa do Mundo de 2018. Além do torneio, ele cobriu o centenário da Revolução Russa, a última eleição de Vladimir Putin, protestos locais e a visita do presidente do Brasil, Michel Temer, em 2017.

Esportes e Breaking News

O repórter precisou conquistar a confiança dos chefes por meio da versatilidade antes de se tornar correspondente internacional. Apesar de trabalhar sobretudo com esportes, ele  já demonstrava capacidade e disposição para realizar coberturas de outros setores desde a época do rádio. Ele enxerga a especialização como algo bom, mas acredita que o jornalista não pode desprezar o conhecimento de outras áreas e deve estar preparado para falar sobre qualquer assunto. Como exemplo, citou a chegada à Rússia para cobrir a Copa, quando a primeira entrada ao vivo não foi para falar de futebol, mas sim sobre um ato de terrorismo.

– Eu fui para Moscou em maio de 2017. Cheguei num dia, e, no dia seguinte, houve um atentado ao metrô de São Petersburgo. Dois terroristas do Tajiquistão explodiram uma bomba, e aquilo ali é Breaking News. Eu não tinha me preparado para fazer aquilo, mas o repórter precisa estar pronto para entrar a qualquer momento no ar, independentemente da razão primária da viagem que está fazendo - relatou.

Crédito: Globo/Divulgação

Morar em outro continente permitiu a Courrege acompanhar de perto a deterioração da imagem externa do Brasil ao longo dos últimos oito anos. Segundo o jornalista, o Oriente consegue entender a situação política brasileira com mais facilidade do que o Ocidente por conta da familiaridade da população com golpes de Estado e perpetuações no poder por parte de alguns líderes do Leste Europeu e da Ásia. O correspondente fez uma autocrítica à imprensa brasileira, que, para ele, não conseguiu lidar com o público conservador e com a ampliação do compartilhamento de informações pela internet.

– A gente não soube se comunicar com este público de pulsão conservadora. Muitos brasileiros foram migrando para o hábito de se informar pelas redes sociais, de grupos de WhatsApp. A gente perdeu a interlocução que se fazia  com estas pessoas e a gente vê hoje um estágio avançado da ruína da democracia brasileira – analisou.

Marcelo Courrege acredita na importância de se viver o ambiente universitário para o desenvolvimento do jornalista. Ele recordou que descartou uma proposta de estágio da professora Sônia Miranda, no 2º período, porque ficou com medo de entrar no ritmo do mercado muito cedo e negligenciar o conhecimento oferecido pela Universidade. O ex-aluno da PUC-Rio destacou, ainda, como a disciplina sobre jornalismo internacional o ajudou a chegar ao posto de correspondente, tão desejado desde a juventude.

– Muitas pessoas depreciam o aprendizado recebido no meio acadêmico, e eu acredito que a construção do currículo do jornalista, especialmente em uma universidade como a PUC-Rio, é muito pensada e é útil em vários pontos da nossa carreira, na ação prática do dia a dia. O mercado empurra para longe do ambiente acadêmico, e a gente perde essa época tão curta e tão especial da vida, de momentos importantes para a nossa formação e para as nossas memórias no futuro – observou.

A palestra está disponível no canal do Departamento de Comunicação da PUC-Rio no YouTube. No mesmo perfil, estão publicadas as gravações dos outros convidados para a Semana do Audiovisual 2021.2, como os executivos da Play9 João Pedro Paes Leme e André Boaventura, e o apresentador e comentarista Carlos Eduardo Eboli. Para acessar todos os vídeos, clique aqui.

Mais Recentes
Alunos terão desconto em moradia universitária
PUC-Rio fechou parceria com Uliving, maior rede deste tipo de serviço no país
Álvaro Caldas lança quinto livro de sua carreira
Nos anos de pandemia, a janela se tornou uma ligação vital para mundo exterior
Tecnologia, Inovação e Negócios no Instituto ECOA
Encontro reúne alunos e convidados para discutir o fornecimento de água e saneamento no Rio de Janeiro