Alternativa Sustentável
20/12/2021 18:47
Giulia Matos

Estudo de ex-aluno da PUC-Rio usa cascas de tangerina para produção de biogás

Engenheiro civil e mestre em engenharia urbana e ambiental pela PUC-Rio, Rafael Carvalho sempre se interessou por temáticas ligadas ao meio-ambiente e utilizou o trabalho de conclusão de curso do Mestrado para chamar atenção para esta área. Por meio de estudos e experimentos, ele descobriu que é possível obter um biogás,  que seja uma alternativa para reduzir a emissão dos gases na atmosfera, por meio do tratamento de um resíduo orgânico, no caso da pesquisa, das cascas de tangerina.

Carvalho conta que decidiu usar esta fruta cítrica como objeto de estudo porque ela é importante para a indústria nacional e, por outro lado, gera muitos resíduos ao longo da produção. Esta questão e o fato de não ter encontrado previamente nenhum trabalho que utilizasse a tangerina como base contribuíram para que ela fosse escolhida pelo ex-aluno da PUC-Rio.

- A tangerina é uma fruta muito importante no cenário brasileiro, ela é o segundo grupo de cítricos mais produzido no país, atrás da laranja, que é o maior, além de o Brasil ser o terceiro maior produtor de frutas no mundo. Acho que é uma fruta com grande geração, com processo produtivo extenso, desde a colheita até chegar ao consumidor, seja por suco, por fruticultura, ou por consumo direto, com muitas perdas, muitos resíduos gerados ao longo do procedimento. Por isso, quis aproveitar para verificar se poderia ser uma aliada na geração de biogás.

Mestre em Engenharia Urbana e Ambiental, Rafael Carvalho.

O aquecimento global é um problema sério que os países ao redor do mundo enfrentam nos dias de hoje. Ele é causado pelo acúmulo excessivo dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, que são substâncias naturalmente presentes na atmosfera que absorvem parte da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre e pelo sol e dificultam a liberação dessa radiação para o espaço. Assim, o planeta Terra é mantido aquecido, o que possibilita a manutenção da vida. Entretanto, devido às ações humanas, o constante uso de combustíveis fósseis, como o petróleo, carvão, entre outros, ocorre um aumento da concentração destes  gases que culminam no aumento da temperatura média global.

Em 2016, durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), que uniu representantes de vários Estados pelo mundo, foi adotado um acordo com o objetivo de reduzir a emissão dos GEE e amenizar os impactos negativos no meio ambiente. Este pacto ficou conhecido como Tratado de Paris e marcou o período de transição das economias dependentes de carbono, para uma economia repleta de alternativas sustentáveis.

De acordo com o engenheiro, é possível estudar o potencial de geração do biogás com o próprio material que consumimos e produzimos. A partir de um trabalho de engenharia mais técnico com o biodigestor, explica Carvalho, é gerado um ambiente adequado para a criação desta substância. 

- O resíduo orgânico é posto em um ambiente anaeróbico, sem oxigênio e, desta forma, os microorganismos consomem a matéria orgânica da comida. Durante o processo, eles liberam gases, o metano e o CO2, que compõem o biogás. Se aumentarmos a concentração de metano, podemos gerar o biometano, o qual pode ser usado como combustível veicular proveniente de resíduos, sem produzir os impactos dos combustíveis fósseis. Portanto, ele funciona como alternativa sustentável para a produção de energia, entre outros.

Equipamento usado durante o estudo / Foto: Divulgação

O mestre em engenharia urbana e ambiental utilizou uma metodologia alemã para a realização do trabalho, que segue as normas DIN, um acrônimo de "Deutsches Institut für Normung" ou “Instituto Alemán de Normalización”. Isso corresponde à organização com sede em Berlim, estabelecida em 1971, e encarregada de estabelecer padrões técnicos para a garantia da qualidade de produtos industriais e científicos no país. Carvalho comenta que usou estas regras porque estava em contato com uma universidade alemã, que lhe permitiu troca de conhecimento sobre a temática da pesquisa com os europeus.

- No mestrado eu fiz o contato com a Universidade de Tecnologia de Braunschweig e, basicamente, tínhamos aulas aqui no Brasil com os professores da PUC e com os professores alemães. Assim, conseguimos interagir e obter a visão de uma perspectiva europeia sobre o tema, considerada uma superpotência em relação às alternativas de baixo carbono. Para o experimento e para montar o equipamento, utilizamos a metodologia alemã, padronizada pelas normas DIN, na qual pude me basear para proporcionar as condições adequadas para analisar as cascas de tangerina dentro do laboratório da PUC.

Carvalho espera que o trabalho incentive os estudantes e as universidades a investirem em teorias científicas, para que possam colocá-las em prática, e deseja que a sua dissertação ajude a disseminar a educação ambiental para a população. Ele diz que muitas pessoas não possuem conhecimentos sobre como podem utilizar os restos de alimentos e resíduos que produzem para ajudar o meio ambiente.

- Eu sempre busco alinhar a tecnologia, o mercado, as pessoas que trabalham e estas questões no meio acadêmico, para tirar a pesquisa em teoria e colocá-la em prática. Além do contato direto da academia com o mercado, é necessário disseminar o conhecimento ambiental, que ainda é um ponto sensível. Muita gente não sabe que pode gerar um biogás, um combustível, uma energia, com resíduos orgânicos. O indivíduo pode tratar a própria destinação, o manejo destes materiais, entender o que pode ser reciclado, reutilizado, o que pode e não pode ser tratado. Espero que isso se espalhe, que as pessoas tenham mais conhecimento, mais consciência da problemática ambiental geral, mas também da própria casa, isto é, do que podem fazer para melhorar.

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