Tudo é fruto das sementes
15/12/2022 14:44
Sophia Marques

Relacionamento entre a PUC-Rio e a favela da Rocinha é celebrado na inauguração do TMJ Rocinha+Sustentável.

Uma parceria da PUC-Rio com o Instituto TMJ Rocinha, foi inaugurado no dia 22 de novembro o projeto TMJ Rocinha + Sustentável. A iniciativa pretende combinar tecnologias da Universidade e da Rocinha para reduzir a poluição urbana na favela, e gerar retorno para a comunidade a partir da reciclagem e reutilização de resíduos

A colaboração tem patrocínio da FAPERJ, e diversos segmentos da PUC-Rio participam do projeto, como os departamentos de Artes & Design e Engenharia Química e de Materiais, além de órgãos externos, como a Cooperativa Rocinha Recicla e Salvemos São Conrado. A cerimônia de lançamento teve a presença de representantes da maioria das entidades envolvidas, além do Vice-Reitor Geral, Padre André Luís Araújo, S.J, o Vice-Reitor Comunitário, professor Augusto Sampaio, e a diretora do Núcleo de Estudos e Ação sobre o Menor (NEAM), professora Marina Moreira.

Um dos fundadores do coletivo TMJ Rocinha, o professor Davison Coutinho explicou que o projeto é dividido em três partes. Haverá a transferência de tecnologia para melhorar o gerenciamento dos resíduos na coleta e também a criação de espaços de inovação para o design de produtos que serão criados a partir desse material descartado. A terceira parte deste tripé será a disseminação de campanhas e conteúdo com foco na educação ambiental, inclusive nas escolas locais. Davison, que é coordenador dos cursos de extensão do NEAM, comentou que a colaboração é resultado de uma longa relação entre a favela e a Universidade, desenvolvida pelo Núcleo há muitos anos.

- A PUC-Rio, com o TMJ Rocinha, vem pensando soluções para realizar a transferência de tecnologias da Engenharia e do Design, por exemplo, para trabalhar com a tecnologia desenvolvida pela comunidade da Rocinha. E, nessa troca de saberes, o que mais vale é o respeito entre as experiências mútuas. Não estamos falando de saberes hierarquizados, estamos falando da Universidade de mãos dadas com a comunidade.

Padre André Luís Araújo, S.J., disse que a razão da PUC-Rio toma sentido a partir da compreensão do papel social da instituição. Ele relembrou o lema que vem sendo mantido desde o início da nova gestão que acredita que as perguntas e as respostas para as questões da Universidade estão presentes dentro da própria PUC-Rio.

Padre André citou também uma frase de Padre João Batista Libânio, S.J, ao falar sobre o papel de responsabilidade social que as universidades devem cumprir na sociedade: “Quanto maior for a contradição, maior é a possibilidade da intervenção.”

- Isto significa que em situações muito complicadas, um ato bondoso, por menor que seja, gera consequências muito positivas. Universidades precisam existir em resposta àquilo que o ecossistema pede, e sabemos que é um ecossistema bastante complexo, que precisa muito de nós. Portanto, sejam muito bem-vindos à PUC-Rio, que se faz cada dia mais presente com vocês, e uma casa aberta para esses projetos acontecerem.

Vice-reitor, Padre André Luís Araújo. Foto: Kathleen Chelles

O Vice-Reitor Comunitário, professor Augusto Sampaio, relembrou a primeira vez que esteve na Rocinha, acompanhado da professora Marina Moreira e alguns outros nomes que guiaram a história do campus, na Gávea. Ele definiu a relação da favela com a Universidade como uma semente que foi plantada há anos e floresceu em verde, cor da esperança.

- Tudo é fruto dessas sementes, que anos depois nos gera frutos. A PUC-Rio está cercada de comunidades: o Parque da Cidade, o Vidigal, o Santa Marta e a Rocinha. Isto é parte da missão da PUC-Rio. Sonhar não custa nada. Vamos sonhar e tornar os sonhos realidade.

Vice-Reitor Comunitário, Professor Augusto Sampaio. Foto: Kathleen Chelles

Em uma fala emocionada, a professora Marina Moreira recordou a trajetória do NEAM, núcleo do qual é diretora. Ela contou que 41 anos antes, quando o núcleo voltado para a formação integral de jovens de baixa renda foi criado, o acesso à tecnologia ainda era um cenário distante.

- A PUC-Rio se transformou. Estamos na era da beleza, criatividade e compreensão maior. Quando abrimos as portas para este povo maravilhoso, não imaginávamos a possibilidade de acesso à tecnologia. Mas eu esperava que poderíamos alcançá-la. Construímos um prédio aqui dentro, fizemos muitos bolsistas e alunos credenciados que tinham competência. São 41 anos que subimos uma escadinha e dizemos “bom dia” ou “boa noite”, e fazemos o que podemos. Todos nós podemos fazer alguma coisa pelo outro. E vamos nos juntando, para transformar a realidade melhor, para que todo mundo possa ser um pouco mais feliz.

Diretora do NEAM, professora Marina Moreira. Foto: Kathleen Chelles

Foram inaugurados o Laboratório de Sustentabilidade e Empreendedorismo PET (LAB-SUSTEMP-PET), que vai ser utilizado para os trabalhos com resíduos de plástico, e o Laboratório de Sustentabilidade e Empreendedorismo Óleo (LAB-SUSTEMP-ÓLEO), que vai trabalhar com resíduos de óleo. O terceiro, o Laboratório de Sustentabilidade e Empreendedorismo Papel (LAB-SUSTEM-PAPEL) será inaugurado em breve, no campus da PUC-Rio. Envolvidos nestes espaços de inovação, além dos departamentos de Artes & Design, Engenharia Química e de Materiais e o BIODESIGN Lab, estão também as empresas Na Laje Design e Maré Relógios e Bonde da Gambiarra.

Espaço de inovação do Projeto TMJ Rocinha + Sustentável. Foto: Kathleen Chelles


TMJ Rocinha + Sustentável
A partir do tripé estipulado, o projeto se desenvolverá em etapas. O primeiro passo é otimizar os processos de melhoramento de resíduos recolhidos pelos catadores, procedimento sistematizado pela Cooperativa Rocinha Recicla desde 2017. Nesta fase, o material será transformado em matéria-prima para diversos produtos. Uma das utilidades pode ser em construções imobiliárias, em substituição à areia lavada, que causa danos ao meio ambiente quando extraída de forma irregular.

Depois, entra a participação dos laboratórios makers, onde serão realizados designs de produtos com material reciclado. No caso do LAB-SUSTEM-PET, por exemplo, o plástico será triturado e derretido dentro de máquinas específicas, e transformado em filamentos. Estes, por sua vez, servirão de abastecimento para impressoras 3D, que poderão criar uma grande variedade de produtos destinados a doações e ao comércio local, o que vai gerar retorno financeiro para os catadores e produtores.

Prancha de skate produzida a partir dos resíduos coletados na Rocinha. Foto: Kathleen Chelles

A terceira etapa é a produção e disseminação de conteúdo educativo sobre preservação do meio ambiente, e também organização de oficinas de educação ambiental nas escolas locais.

- O nosso morador convive com o lixo de uma forma tão latente, inclusive com as doenças que vem junto com a falta de saneamento. A nossa vida inteira foi acordar pisando no lixo, na vala. Não adianta a gente fazer nada disso se a gente não tiver um trabalho forte de educação ambiental, que já está sendo realizado nas escolas, para as crianças e adolescentes - finalizou Davison.

Mais Recentes
Alunos terão desconto em moradia universitária
PUC-Rio fechou parceria com Uliving, maior rede deste tipo de serviço no país
Álvaro Caldas lança quinto livro de sua carreira
Nos anos de pandemia, a janela se tornou uma ligação vital para mundo exterior
Tecnologia, Inovação e Negócios no Instituto ECOA
Encontro reúne alunos e convidados para discutir o fornecimento de água e saneamento no Rio de Janeiro