Com o objetivo de apresentar pesquisas concluídas e o processo de elaboração de teses de doutorado, o fórum do Grupo de Estudos de Direitos, Reconhecimento e Desigualdade (GEDRED) se reuniu no dia 24 de março. Com mediação dos professores Angela Paiva e Fernando Lima Neto, do Departamento de Ciências Sociais, temas como saúde, moradia e relações entre centro e periferia serviram para fomentar o debate sobre movimentos sociais. Todas as teses discutidas no encontro estão disponíveis no banco de dados do sistema de bibliotecas da PUC-Rio.
Na abertura da conferência, Angela ressaltou a importância de discutir as ideias entre os pares de pesquisadores, pois, segundo ela, isto é essencial para a construção de uma tese. Assim, a palavra foi passada a André Sobrinho, que é vinculado à Fiocruz, e participou de forma remota. Ele demonstrou entusiasmo ao comentar as lutas por reconhecimento no campo da saúde, no Brasil, e como diferentes gerações foram capazes de se mobilizar de diversas formas, ainda que o objeto de disputa fosse o mesmo. A historicidade dos movimentos sociais relacionados à saúde foi um grande foco do interesse do pesquisador. Segundo Sobrinho, este recorte de gerações aparece de forma diferenciada no próprio discurso dos entrevistados durante o processo de levantamentos de questões e desenvolvimento da tese. Antes mesmo de se colocar enquanto cientista social, ele já tinha uma proximidade pessoal com a temática, e comentou que o seu trabalho aproximou o mundo teórico do empírico.
— Fui colocando algumas questões e observações a partir do que me falavam os ativistas do campo da saúde, percebi que algumas das declarações falam muito sobre o pertencimento geracional no movimento social. ‘Na minha época’ e ‘no meu tempo’ foram expressões que me despertaram para esse olhar. Me interessei por discutir qual era a condição geracional e seus elementos constitutivos. Isto em um recorte temporal de quase quarenta anos.
Por sua vez, quem continuou com as exposições, mas de forma presencial, foi Taísa Sanches, especialista dos estudos sobre lutas por moradia e reconhecimento. Taísa trabalhou tanto com a sociologia da experiência quanto com a teoria do reconhecimento para entender como se constitui a ideia de identidade e pertencimento. Ela comparou experiências na Vila Autódromo e a Comunidade do Horto, no Rio de Janeiro, com as campanhas SaveTheNorth e Focus E15, em Londres. Para ela, o residencial é político e alvo de disputas nesse sentido. A curiosidade em pauta era a precariedade habitacional e a relação com o movimento social como a dinâmica de uma coisa alimentava a outra.
— Meu problema de pesquisa sempre foi tentar entender lutas por moradia. Tive a possibilidade de passar um ano morando e estudando em Londres e minha curiosidade era saber como, principalmente em classes menos favorecidas, a questão da moradia levava os indivíduos a atuarem politicamente, nas ruas, por conta disso. E quais as formas de mobilização dessas pessoas dentro dos movimentos sociais.
O último a falar no fórum foi Yans Dipati, que concebeu a tese sobre a construção interseccional das condições de mulheres negras na Baixada Fluminense. Dipati, que mora na região, refletiu sobre teorias da justiça recente e analisou as relações de poder com base na construção da identidade, levando em consideração também uma dicotomia entre centro e periferia. Ele entrevistou 35 pessoas, dentre as quais 15 eram empregadas domésticas e 20 envolvidas em militância. A complexidade do trabalho de Dipati discute raça, gênero, classe e território.
No encaminhamento para a conclusão, o coordenador da pós-graduação do Departamento Ciências Sociais, professor Fernando Lima Neto, teceu comentários que colocavam todas as pesquisas da reunião em paralelo. Segundo ele, os estudos que foram apresentados durante o encontro demonstraram, de alguma forma, a relação do pesquisador com os respectivos objetos e, ao mesmo tempo, mostraram também um olhar de estranhamento para aquilo que é familiar.
— É renovador participar de um encontro como este, que é estimulante e permite efetivar aquilo que se espera de um grupo de pesquisa. Um momento de troca e, além disso, celebração. São trabalhos que mostram forma original, criativa e que se apropriam de uma tradição consolidada da sociologia sobre os movimentos sociais como um motor de transformação cultural das sociedades. São cientistas sociais que estão problematizando questões que afetam a vida cotidiana e produzem um distanciamento para imprimir nossos olhares sobre aquilo.