Momento de troca
29/03/2023 17:01
Mauro Machado

Fórum do GEDRED discute pesquisas pautadas por movimentos sociais

Professora Angela Paiva, professor Fernando Lima Neto e pesquisadora Taísa Sanches. Foto: Kathleen Chelles

Com o objetivo de apresentar pesquisas concluídas e o processo de elaboração de teses de doutorado, o fórum do Grupo de Estudos de Direitos, Reconhecimento e Desigualdade (GEDRED) se reuniu no dia 24 de março. Com mediação dos professores Angela Paiva e Fernando Lima Neto, do Departamento de Ciências Sociais, temas como saúde, moradia e relações entre centro e periferia serviram para fomentar o debate sobre movimentos sociais. Todas as teses discutidas no encontro estão  disponíveis no banco de dados do sistema de bibliotecas da PUC-Rio.

Na abertura da conferência, Angela ressaltou a importância de discutir as ideias entre os pares de pesquisadores, pois, segundo ela, isto é essencial para a construção de uma tese. Assim, a palavra foi passada a André Sobrinho, que é vinculado à Fiocruz, e participou de forma remota. Ele demonstrou entusiasmo ao comentar as lutas por reconhecimento no campo da saúde, no Brasil, e como diferentes gerações foram capazes de se mobilizar de diversas formas, ainda que o objeto de disputa fosse o mesmo. A historicidade dos movimentos sociais relacionados à saúde foi um grande foco do interesse do pesquisador. Segundo Sobrinho, este recorte de gerações aparece de forma diferenciada no próprio discurso dos entrevistados durante o processo de levantamentos de questões e desenvolvimento da tese. Antes mesmo de se colocar enquanto cientista social, ele já tinha uma proximidade pessoal com a temática, e comentou que o seu trabalho aproximou  o mundo teórico do empírico.

Fui colocando algumas questões e observações a partir do que me falavam os ativistas do campo da saúde, percebi que algumas das declarações falam muito sobre o pertencimento geracional no movimento social. ‘Na minha época’ e ‘no meu tempo’ foram expressões que me despertaram para esse olhar. Me interessei por discutir qual era a condição geracional e seus elementos constitutivos. Isto em um recorte temporal de quase quarenta anos.

Professora Angela Paiva media encontro do GEDRED. Foto: Kathleen Chelles

Por sua vez, quem continuou com as exposições, mas de forma presencial, foi Taísa Sanches, especialista dos estudos sobre lutas por moradia e reconhecimento. Taísa trabalhou tanto com a sociologia da experiência quanto com a teoria do reconhecimento para entender como se constitui a ideia de identidade e pertencimento. Ela comparou experiências na Vila Autódromo e a Comunidade do Horto, no Rio de Janeiro, com as campanhas SaveTheNorth e Focus E15, em Londres. Para ela, o residencial é político e alvo de disputas nesse sentido. A curiosidade em pauta era a precariedade habitacional e a relação com o movimento social como a dinâmica de uma coisa alimentava a outra.

Meu problema de pesquisa sempre foi tentar entender lutas por moradia. Tive a possibilidade de passar um ano morando e estudando em Londres e minha curiosidade era saber como, principalmente em classes menos favorecidas, a questão da moradia levava os indivíduos a atuarem politicamente, nas ruas, por conta disso. E quais as formas de mobilização dessas pessoas dentro dos movimentos sociais.

Taísa Sanches apresenta a pesquisa desenvolvida em doutorado. Foto: Kathleen Chelles

O último a falar no fórum foi Yans Dipati, que concebeu a tese sobre a construção interseccional das condições de mulheres negras na Baixada Fluminense. Dipati, que mora na região, refletiu sobre teorias da justiça recente e analisou as relações de poder com base na construção da identidade, levando em consideração também uma dicotomia entre centro e periferia. Ele entrevistou 35 pessoas, dentre as quais 15 eram empregadas domésticas e 20 envolvidas em militância. A complexidade do trabalho de Dipati discute raça, gênero, classe e território.

No encaminhamento para a conclusão, o coordenador da pós-graduação do Departamento Ciências Sociais, professor Fernando Lima Neto, teceu comentários que colocavam todas as pesquisas da reunião em paralelo. Segundo ele, os estudos que foram apresentados durante o encontro demonstraram, de alguma forma, a relação do pesquisador com os respectivos objetos e, ao mesmo tempo, mostraram também um olhar de estranhamento para aquilo que é familiar.

É renovador participar de um encontro como este, que é estimulante e permite efetivar aquilo que se espera de um grupo de pesquisa. Um momento de troca e, além disso, celebração. São trabalhos que mostram forma original, criativa e que se apropriam de uma tradição consolidada da sociologia sobre os movimentos sociais como um motor de transformação cultural das sociedades. São cientistas sociais que estão problematizando questões que afetam a vida cotidiana e produzem um distanciamento para imprimir nossos olhares sobre aquilo.

Mais Recentes
Alunos terão desconto em moradia universitária
PUC-Rio fechou parceria com Uliving, maior rede deste tipo de serviço no país
Álvaro Caldas lança quinto livro de sua carreira
Nos anos de pandemia, a janela se tornou uma ligação vital para mundo exterior
Tecnologia, Inovação e Negócios no Instituto ECOA
Encontro reúne alunos e convidados para discutir o fornecimento de água e saneamento no Rio de Janeiro