Espaço em Transformação
12/05/2023 16:04
Henrique Barbi e Mauro Machado

NIREMA promove discussão a partir de lançamento de livro da filósofa Sueli Carneiro nos pilotis

Flávia Oliveira, Sueli Carneiro e Thula Pires em noite de lançamento de livro. Créditos: Kathleen Chelles

Como início da celebração dos 20 anos do Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (NIREMA), a filósofa Sueli Carneiro lançou o livro Dispositivo de Racialidade, nos pilotis do Edifício da Amizade. A obra é originária da tese de doutorado da autora, defendida na USP há 18 anos. Também estiveram presentes a jornalista Flávia Oliveira, mediadora do encontro, e a Coordenadora Geral do Nirema, professora Thula Pires. Na noite do dia 10 de maio, temas como racialidade e inclusão social pautaram o debate.

A Vice-Reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica, professora Jackeline Farbiarz, representou o Reitor da PUC-Rio na impossibilidade da presença dele. Ela leu um texto escrito por Padre Anderson que destacava os desafios e os caminhos possíveis para uma convivência mais inclusiva em uma instituição que se propõe a formar integralmente a pessoa humana. 

Na mensagem enviada, o Reitor ressaltou que a presença da filósofa e escritora nos pilotis da Universidade foi uma escolha acertada para dar início às comemorações dos 20 anos do Nirema. Padre Anderson também observou que o fato de trazer para o campus uma discussão sobre relações raciais é   fundamental para que a sociedade brasileira compreenda de forma ampla as questões das desigualdades e injustiças sociais.  

Dispositivo de Racialidade procura entender o domínio das relações raciais por meio dos conceitos de dispositivo e biopoder do filósofo Michel Foucault. Ao refletir sobre uma dualidade entre positivo e negativo, a autora argumenta que a identificação do que é normal é representada pela “brancura”.  

Sueli Carneiro, autora de 'Dispositivo de Racialidade'. Créditos: Kathleen Chelles

O debate foi aberto pela Coordenadora Geral do Nirema, que selecionou um trecho do livro e leu para uma plateia entusiasmada. Entre os presentes, a escritora Conceição Evaristo e a jornalista da TV Globo Maju Coutinho. Thula apresentou considerações suas a partir da leitura proposta.

Sueli Carneiro não se considera pesquisadora profissional, apesar de ser doutora em filosofia. Ela se define como uma militante. Entre vida teórica e prática, a filósofa entende a universidade como motor de transformação social e, ao mesmo tempo, termômetro para esse tipo de mudança. 

- Eu não sou uma acadêmica, sou ativista líder de ONG. Esta é a minha verdadeira identidade há 35 anos. Me considero uma intelectual orgânica do movimento negro do Brasil, por ele forjado. Não foi a USP que me transformou na pessoa que eu sou, mas não vejo um bicho de sete cabeças em sentar e escrever uma tese por quatro anos.

Público presente nos pilotis na noite de lançamento. Créditos: Kathleen Chelles

A atualidade do texto de Sueli foi percebida pela editora Companhia das Letras, mesmo após quase duas décadas da finalização da tese, pois ainda se trata de uma análise contemporânea. Outra entusiasta da publicação da pesquisa foi a professora Thula Pires, que se disse influenciada pelo trabalho da filósofa. Os temas levantados pela autora na obra  - racismo, invisibilização e desqualificação de saberes construídos pelo outro - ressoam no Brasil de 2023, mesmo com avanços consideráveis em políticas sociais.

O encontro das três mulheres negras proporcionou, além da comemoração da obra, uma série de discussões, uma delas referente à Lei de Cotas e Lei 639, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Sueli acredita, no entanto, que, com relação ao sistema educacional, a política de cotas foi a mais exitosa das lutas. 

- A luta pelas cotas tirou a branquitude do lugar de conforto, perderam o monopólio de reprodução das elites intelectuais. Mudou a cara dos campi universitários e a expectativa das famílias negras - declarou Sueli.


Quando questionada por Flávia se a obra de Sueli funcionaria como um manual anti-racista, a professora Thula reforçou que Dispositivo de Racialidade não se trata disto. Ele parte de afirmações e pressupõe que o leitor já esteja familiarizado com o tema.

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