Reflexões sobre o mundo acadêmico (II)
14/05/2013 19:15
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J.

Nesta edição, o Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., trata sobre os desafios do mundo universitário, que deve manter um equilíbrio entre reflexões, pesquisas e soluções para os problemas globais e locais.

O campus universitário é um espaço privilegiado para a convergência de muitos problemas da sociedade, fazendo com que o exercício da razão mantenha uma permanente sensibilidade e abertura para a reflexão de temáticas emergentes. Aberta para acolher as demandas da sociedade, a universidade brasileira vem rompendo as barreiras intramuros, incorporando à estrutura acadêmica as questões socioambientais de nossos tempos. Passamos do puro academicismo para um pragmatismo empreendedor e inovador, atendendo às demandas do mercado e o suprimento das carências de profissionais na sociedade. Esta flexibilidade do mundo acadêmico é algo extraordinário, embora devamos buscar um equilíbrio para não enfatizar de maneira demasiada a racionalidade operacional e de resultados imediatos, em detrimento da racionalidade axiológica e reflexiva. A universidade não pode furtar-se ou colocar em segundo plano a sua missão de construção de saberes, contribuindo intelectualmente para a formação crítica e profunda do pensamento e das ideias.

Um dos desafios do mundo universitário, consiste em manter a aporia permanente entre reflexões, pesquisas e soluções para os problemas globais e locais. No mundo globalizado a universidade tem que se abrir para a internacionalidade e o diálogo com outras instituições, numa busca permanente das questões que inquietam a sociedade global. Por outro lado, temos o dever ético de responder aos apelos de nossa realidade local onde estamos inseridos, levando em conta não apenas o nosso entorno geográfico mais limitado, mas também às questões regionais de caráter humanístico, social, técnico e ambiental. Neste sentido podemos afirmar que a universidade é uma instituição capaz de agregar, tanto o globalismo como o localismo.

Parabolicamente podemos tomar como imagem o exemplo de uma árvore, para entendermos melhor a nossa identidade, onde raízes e ramos estão unidos numa missão comum. Uma universidade deve ter raízes na sociedade local, abrindo-se para as temáticas, problemas e soluções do contexto geográfico onde estamos inseridos, pois, do contrário, podemos nos transformar em estruturas "abstratas", excelentes em questões universais de nossas ciências, porém, distantes dos processos e apelos regionais e locais. Nossas raízes estão inseridas nesse chão concreto, embora nossos ramos devam estar acima para aspirar valores maiores e universais, na busca permanente da verdade. A universalidade da ciência e o compromisso com a verdade são ramos que fazem parte da identidade da universidade. Não temos como fugir dessa aporia entre a universalidade e a regionalidade, pois somos ao mesmo tempo raízes e ramos.

Hoje, mais do que em outras épocas, vivemos esta integração entre questões globais e locais, colocando para a universidade a missão de pensar e agir globalmente e localmente. Tudo o que é pensado e vivido no território local repercute mundialmente, assim como tudo o que acontece planetariamente produz ecos e efeitos na territorialidade limitada de nossas instituições. Saber administrar e conviver com estas diferentes escalas é um desafio permanente de nossas instituições de ensino superior.

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