A cultura da paz e da tolerância na Universidade
01/04/2014 20:10
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J. Reitor da PUC-Rio

O Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., aponta a Universidade como o lugar adequado para debater e dar soluções ao que tem deixado a sociedade perplexa, como o crescimento da violência e da intolerância. Ele diz que a instituição deve estar aberta para debater e construir saberes que promovam a tolerância entre pessoas, classes, raças e religiões.

Todos os dias, nos diferentes extratos sociais, e nas marcas territoriais tão diversas de nossas cidades, deparamos com o aumento da violência e da intolerância em nossa sociedade brasileira, assunto que nos preocupa não apenas pelos fatos isolados, mas pelo perigo de que a somatória dos mesmos possa minar a nossa cultura, que sempre procurou mediações de paz e tolerância com as diferenças que historicamente plasmaram o ethos de nossa brasilidade.

Embora reconhecendo as desigualdades sociais, e as distâncias ainda existentes entre os padrões econômicos e culturais, muitas vezes geradores de violência e de intolerância, a nossa cultura sempre foi mais voltada para a busca da paz e da tolerância e, contrariamente avessa às diversas formas de ações radicais e extremistas, a não ser em circunstâncias muito especiais de nosso país, sobretudo em tempos mais recentes, onde a democracia se via ameaçada pela impossibilidade do exercício pleno da liberdade. Nos últimos anos, com a diminuição gradativa das desigualdades sociais, embora tenhamos muito a melhorar, imaginávamos uma situação mais harmoniosa entre as diferentes classes sociais, onde a violência e a intolerância perderiam força, dando lugar à paz e a tolerância, princípios fundamentais de uma sociedade mais fraterna e democrática. Infelizmente, parece que o problema vai além do econômico, pois a violência e a intolerância aumentam no dia a dia, até mesmo em espaços voltados para o lazer, como nas disputas desportivas, entre outros. Diante desta realidade é que nos perguntamos: qual é a problemática de fundo, ou quais são os verdadeiros fatores condicionantes do crescimento da violência e da intolerância em nossa sociedade?

Creio que esta é uma das inquietações que está presente no meio universitário. Cabe então à Universidade a missão de refletir, discutir, debater e tentar dar respostas e soluções a tudo isso que tem deixado a sociedade perplexa. O meio acadêmico sempre foi um palco privilegiado para a colocação e busca de mediações de conflitos, com o objetivo de promover uma cultura de paz e de tolerância, muito além das opções ideológicas e partidárias. Não nos contentamos apenas com fatos isolados, mas com um conjunto de fatores que são desafiadores para as gerações atuais, sobretudo aqueles que incomodam o nosso ethos cultural brasileiro, podendo gerar consequências para as futuras gerações.

Como instituição que tem a missão de contribuir com a formação da cultura, a Universidade deve estar aberta para debater e construir saberes que promovam a paz e a sadia tolerância entre pessoas, classes, raças e religiões, contribuindo com o Estado na implantação e execução de políticas públicas que ajudem na busca de soluções dos processos incompatíveis com a nossa Constituição, e os direitos fundamentais da liberdade humana. A PUC-Rio, que sempre se empenhou historicamente em ações e estudos voltados para uma cultura de paz e de tolerância, certamente continuará contribuindo para a solução destes problemas que inquietam e incomodam a nossa sociedade, procurando testemunhar e conviver, no dia a dia, de maneira respeitosa e fraterna, com as diferenças culturais, raciais, religiosas e geracionais.

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