Um fenômeno do mundo contemporâneo, a internet, revelou uma série de inquietações, dificuldades e problemas que serviram de material para o Seminário Internet e a Nossa Vida: Razão, Afeto e Convivência. O encontro trouxe à tona a discussão de pontos positivos e negativos existentes no mundo virtual. O debate, no dia 5 de setembro, levantou questões como a ética e os desafios dos comunicadores frente ao intenso fluxo de informações nesse novo espaço de comunicação.
O Reitor da Universidade, padre Josafá Carlos de Siqueira S.J., abriu o encontro e afirmou que este tipo de debate fornece subsídios fundamentais para que possam ser tratadas questões cotidianas, que oferecem grandes desafios, como as novas tecnologias.
Para Muniz Sodré, professor da UFRJ, a internet é um meio que impulsiona a produção capitalista, além de significar o auge do desenvolvimento tecnológico.
– Hoje é o próprio acontecimento da realização tecnológica, é o acabamento histórico da técnica como ápice da racionalidade ocidental, pressionada pela energia da informação enquanto eficiente operadora da economia financeira. É isso que revela para mim a natureza organizativa da comunicação. É puro capitalismo financeiro combinado com tecnologia.
A presença da internet na vida das pessoas, como um espaço que não é diferente do espaço da vida cotidiana, foi apontada pelo coordenador de pós-graduação do Departamento de Comunicação Social e do Projeto Comunicar, professor Miguel Pereira, organizador do encontro.
Esta ideia foi reforçada pelo professor Danilo Marcondes, do Departamento de Filosofia, ao falar da ética no universo virtual. Marcondes afirmou que a internet e as redes sociais são parte da vida cotidiana e não de um mundo à parte. Por isso, assinalou, não existe uma ética da internet.
– Ou somos éticos ou não tem ética. Nós vivemos como se isso fosse parte da nossa vida desde sempre. É um momento importante para refletir o que isso significa para nós, como usamos essa ferramenta, para quê e com quem.
Marcondes considera que o Marco Civil da internet é um instrumento fundamental, um avanço muito grande. Mas, segundo ele, a prática é que vai efetivamente construir aquilo que se entende por ética.
O marco é composto por três principais pontos: neutralidade da rede, proteção da privacidade e liberdade de expressão. O relator do Marco Civil, deputado estadual Alessandro Molon (PT), explicou que a lei é algo novo e avançado no mundo. O objetivo, segundo ele, não é mudar o funcionamento da internet, mas sim, garantir que permaneça democrática, descentralizada, livre de barreiras e aberta a pesquisas.
– É a lei maior da Internet, Sendo a primeira lei sobre internet, tende a balizar o que virá depois. E como foi muito participativa, discutida e amadurecida, não será fácil alterá-la.
Para a professora Lilian Saback, coordenadora do Núcleo de Assessoria de Comunicação e Rádio, do Projeto Comunicar, os conceitos de público e privado estão cada vez mais frágeis e existe um desejo de tornar público o que antes era privado.
O potencial da internet trouxe desafios, observou o professor Arthur Ituassu, do Departamento de Comunicação Social. Para Ituassu, se por um lado, o ambiente virtual propicia debates sobre assuntos de interesse público com participação, interação e diversificação das informações, por outro, a falta profissionalismo na produção das notícias abala a credibilidade.
O ritmo acelerado de informações expõe o papel do jornalista nos dias de hoje, assinalou a jornalista Adriana Barsotti, que considera que a função do comunicólogo como mediador foi reativada pela internet. Adriana apontou que as ferramentas interativas fizeram com que o jornalista mobilizasse o público para diversas questões.
Também estiveram presentes os professores Adair Rocha, Adriana Braga e Claudia Pereira; o jornalista Luis Erlanger e Rene Silva, do jornal comunitário A Voz da Comunidade, do Complexo do Alemão.