Passeio por debaixo do campus
29/10/2014 16:43
Gabriel Pinheiro / Foto: Gabriela Doria e Weiler Filho

Previsão para entrega da Linha 4, que vai ligar a Zona Sul à Barra, é 2016

Três toques de sirene seguidos de uma explosão, as janelas e o chão tremem. Alertas e vibrações que se tornaram parte do cotidiano da comunidade PUC com a obra da Estação da Gávea, da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro, no campus da Universidade, prevista para ser entregue em junho de 2016. A construção terá dois acessos na altura da Universidade: um na Avenida Padre Leonel Franca e outro na Rua Marquês de São Vicente.

Por causa da formação geológica do bairro, as perfurações necessitam ser feitas em rocha, e as escavações são realizadas de acordo com o Novo Método de Tunelamento Austríaco (NATM), em que detonações são controladas por níveis de vibração, som, impacto e quantidade de explosivos. De acordo com o engenheiro e diretor de contratos do Consórcio Construtor da obra, Lúcio Silvestre, as explosões não oferecem riscos à Universidade e nem aos prédios do entorno.

– É feito um grande monitoramento, com equipamentos que são colocados na área de abrangência daquela detonação. Todas os resultados aferidos estão dentro dos padrões, e não oferecem risco.

As obras começaram em 2010 e têm como objetivo ligar a Zona Sul e a Barra por seis estações: Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah, Antero de Quental, Gávea, São Conrado e Jardim Oceânico. Os dois túneis escavados entre a Barra e São Conrado foram concluídos em janeiro deste ano. Ao todo, eles têm cinco quilômetros de extensão e são os maiores túneis metroviários construídos em rocha do mundo.

Já foram instalados 3,9 quilômetros de trilhos e construídos 9,3 quilômetros de túnel. As máquinas trabalham 24 horas por dia, seis vezes na semana. Só no canteiro de obras da Gávea, estão envolvidos 5.300 funcionários, entre eles engenheiros civis, engenheiros de minas, geólogos, arquitetos, assessores de comunicação, chefes de cozinha, e outros. Uma curiosidade é que cada túnel tem um altar de Santa Bárbara, considerada a padroeira dos tuneleiros.

Silvestre explica que, para evitar transtornos dentro do campus, duas obras diferentes são realizadas. Uma no estacionamento, em que duas plataformas paralelas são construídas para receber os trens que vêm da Zona Sul e da Oeste. A outra é a escavação da parte principal do túnel, nos fundos da PUC. A logística, explica o engenheiro, foi pensada para evitar o trânsito de caminhões, equipamentos e funcionários da obra com estudantes, professores e funcionários da Universidade.

O engenheiro ressalta duas vantagens da estação que ficará cerca de 50 metros abaixo do solo. Após o término das obras, cerca de 2 mil veículos em horário de pico serão retirados das ruas. Além disso, a estação vai ter 350 metros a mais para que seja possível expandir futuramente o sistema metroviário da cidade para a Tijuca e o Centro.

► O mundo subterrâneo observado por um jovem repórter

A experiência já começou engraçada e curiosa quando tive que calçar botas, capacete, máscaras, colete e óculos de proteção. Especialmente para mim, que uso óculos de grau, colocar outro par no rosto fez a coisa ficar ainda mais cômica. Foi estranho entrar na obra por onde antes ficava a cancela de entrada e saída do estacionamento. Caminhões, tratores, pedras, fios e cimento estavam por toda parte. Enquanto eu me adaptava ao ambiente diferente, percebi os olhares curiosos dos trabalhadores que reparavam no grupo de estudantes que faziam a visitação. Entrei em um dos dois enormes buracos cilíndricos que estão sendo escavados para chegar até as plataformas nas quais os trens vão trafegar. A profundidade total é de cerca de 50 metros, mas só pude descer até os 18 metros. É estranho e meio claustrofóbico ficar dentro de um buraco, ouvir o barulho das máquinas, sentir aquela poeira no ar e, ao olhar para cima, ver o céu, ainda mais distante do que já é. Depois, para minha surpresa, porque eu não sabia que estavam sendo feitas duas obras diferentes, entrei no “real” buraco do metrô, nos fundos da Universidade. Desci por uma ladeira por cerca de 400 metros, que pareceram quilômetros. Lá embaixo, pude ver os dois grandes túneis: o sentido Zona Oeste e o Zona Sul. Caminhões cheios do material escavado subiam a ladeira para levar para fora do buraco aquilo que já não pertence mais àquele lugar. Aquela imensidão de terra parecia outro mundo, do tipo Vida de Inseto. Um mundo em que milhares de pessoas trabalham embaixo de nós e não temos noção disso porque não vemos. E depois dessa experiência, fiquei pensando como é difícil imaginar como tudo vai ficar quando estiver pronto. É, mas deve ser porque faço humanas. Para as engenharias da vida, isso deve ser mole.

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