Crise migratória em discussão
02/10/2015 17:55
Caio Sartori e Pedro Malan / Foto: Matheus Salgado

Debate reúne refugiado, advogado e professores para analisar o tema em questão

Charly Kongo, Roberto Yamato, Fabrício Toledo e Bruno Magalhães debatem no auditório B6

Com medo de guerras civis, conflitos violentos e a constante ameaça do Estado Islâmico, milhares de imigrantes – principalmente sírios, afegãos e somalis – morrem todos os dias na tentativa de chegar à Europa para uma vida melhor. Este fluxo crescente de migrantes coloca em cheque os compromissos europeus de livre-circulação e respeito aos direitos humanos. Foi para entender melhor estas questões que o Instituto de Relações Internacionais (IRI) organizou, na quinta-feira, 1, o debate Entendendo a Crise de Refugiados: Causas, Consequências e Soluções, com os professores Bruno Magalhães e Roberto Yamato, do IRI, o refugiado Charly Kongo e o advogado Fabrício Toledo, ambos da Cáritas-RJ.

Segundo a ONU, cerca de 2.500 pessoas morreram nestas travessias em 2015, mas Bruno, o mediador e primeiro a falar no debate, apontou que, de acordo com a estimativa não-oficial, o número de mortes sobe para 3.500. O professor de Relações Internacionais também disse que o fluxo migratório atual representa a maior movimentação de pessoas pós Segunda Guerra Mundial, com quase 60 milhões de pessoas em deslocamento, principalmente para a Europa. A partir desses dados, Bruno revelou que a Alemanha, um dos países que abriu as portas para imigrantes, recebe atualmente 224 pedidos de refúgio por hora. Neste ritmo, ao final do ano, o país receberá quase um milhão de solicitações.

O outro professor do IRI que compôs a mesa, Roberto Yamato, comentou que os avanços relacionados aos direitos humanos universais desde a Segunda Guerra Mundial ainda são lentos. De acordo com Yamato, a própria vida é mutável e, portanto, deve ultrapassar barreiras e fronteiras. O professor destacou o amor e a força que os imigrantes têm pela vida, e explicou como o nascimento de sua filha fez com que ele entendesse a dor e o desespero dos refugiados.

- Se alguma coisa acontecesse com a minha filha, e eu tivesse que migrar, eu migraria. Acho que é esse tipo de relação que o refugiado nos ensina em relação ao que ser, fazer e pensar, que faz com que a gente queira escutá-los.

Refugiado congolês que vive há mais de sete anos no Brasil, Charly Kongo optou por contar experiências e histórias que emocionaram os alunos presentes no auditório. Acolhido pela Cáritas-RJ, entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário, Charly enumerou os motivos que causam as fugas e migrações em massa de países em guerra.

- O principal motivo é a guerra e toda a violência presente nela. Estupros, famílias despedaçadas, doenças e a pobreza são motivos reais. A falta da democracia e da liberdade de expressão também pesam na hora da decisão de deixar seu país – observou.

O congolês também destacou o quanto os brasileiros são acolhedores e hospitalares, mas confessou que sofreu racismo pela primeira vez aqui no país, algo que passava despercebido no Congo, onde a maioria absoluta da população é negra. Além disso, ele criticou a falta de conhecimento do povo brasileiro sobre o que representa e significa a palavra “refugiado”. Segundo ele, muitos acham que um refugiado é um fugitivo, numa conotação pejorativa.

O advogado da Cáritas-RJ Fabrício Toledo ressaltou que Charly Kongo tem sido um grande mentor nos últimos anos, ao retratar a crise em uma dimensão trágica, contada a partir de um ponto de vista diferente do midiático. Para Toledo, é perigoso limitar a vida dos refugiados à mera sobrevivência. É necessário, observou, pensar também nos desejos que cada um carrega consigo ao mudar de país. E, além disso, outra ideia defendida pelo advogado é a de questionar não só os fluxos migratórios, como também as guerras e ditaduras que atormentam os países de origem dos deslocados.

- Cada uma dessas fugas está dotada de uma vontade, de um desejo de viver. O fato é que toda essa classificação, todo o mecanismo de distinção dos refugiados, é uma tentativa de neutralizar a força desse êxodo e colocar tudo isso como uma questão individualizada.

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