E tudo começou com um engenho
23/11/2015 04:24
Giulia Saletto / Fotos: coleção CBG

Bairros surgiram ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas

Vista da Praia de Ipanema nos anos 50, sem prédios altos e com poucos carros, uma visão bem diferente da movimentada região de hoje

A cidade do Rio de Janeiro, especialmente a Zona Sul, não foi sempre separada da forma como conhecemos hoje. No livro A Fazenda Nacional Lagoa Rodrigo de Freitas, de Claudia Braga Gaspar e Carlos Eduardo Barata, os autores contam de forma vívida e com imagens inéditas a formação específica de cada um dos bairros que cercam a Lagoa. O livro recebeu o patrocínio da prefeitura e ganhou o selo oficial da Biblioteca Rio 450 por ajudar a compreender a história da cidade carioca.

Desde o início do século XIX as terras que cercavam a Lagoa eram propriedade do capitão português Rodrigo de Freitas e, por isso, chamadas de Engenho da Lagoa Rodrigo de Freitas. Em 1808, quando o capitão retornou a Portugal depois da morte da mulher, a região foi incorporada pelo país como a Fazenda Nacional da Lagoa Rodrigo de Freitas. A partir dai, o território se desdobrou em várias terras ocupadas por chacareiros. Foi somente na passagem da Monarquia para a República que essas terras foram desapropriadas e os arrendatários tiveram que comprar os próprios lotes ou devolvê-los à União. Com esta partilha e o crescimento da população que buscava a área, os bairros da Zona Sul começaram a ser desenhados e urbanizados.

Os autores, o diretor do Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, museólogo Carlos Eduardo Barata, e a historiadora e pesquisadora Claudia Gaspar, desenvolvem pesquisas sobre os bairros cariocas há mais de 20 anos. Por causa da grande quantidade de arquivos e dados valiosos que encontraram ao longo dos anos, eles se juntaram para escrever vários livros sobre o desenvolvimento da Zona Sul, como Villa Ipanema, sobre a formação do bairro, e De Engenho a Jardim sobre o Jardim Botânico.

– Toda vez que nós escrevíamos um livro, encontrávamos ainda mais informações sobre o Rio. No final, vimos que, de todo o conteúdo que sobrou, dava para sair um livro completo sobre todos os bairros da Zona Sul. E aí foram mais alguns anos de pesquisa para finalizar – lembra Carlos Eduardo.

Imagem da Avenida Epitácio Pessoa, nos anos 30, trecho de Ipanema

De acordo com Claudia, o interessante desta edição é que ela engloba a criação dos bairros do Jardim Botânico, Horto, Gávea, Leblon, Ipanema, Lagoa e Fonte da Saudade, porque foi encontrada uma grande quantidade de arquivos inéditos sobre essas áreas. Além disso, a autora acredita que esse tipo de história é essencial para a educação dos cariocas em geral e desenvolve um senso de pertencimento da cidade.

– Só passamos a ter carinho por algo quando nos sentimos pertencentes, e esse sentido se desenvolve quando temos mais conhecimento sobre o assunto. Com esse conhecimento, as pessoas passam a ter maior amor e carinho pela cidade e assim passam a preservar e amá-la ainda mais.

O que mais encanta os autores são os arquivos únicos que eles conseguiram achar durante as pesquisas, que foram todas feitas de forma manual em bibliotecas ao redor do Rio. Uma dessas descobertas é o desenho panorâmico da escritora e ilustradora britânica Maria Graham, feito em 1821, que demonstra toda a vista da Lagoa e seus arredores.

De acordo com os autores, este seria o primeiro panorama da cidade pintado em sépia e bico de pena. Para Carlos Eduardo, essa parte de iconografia, as imagens, é muito importante para enriquecer o texto do livro, elas detalham as histórias que são contadas em cada capítulo.

– É a história de uma capital ainda desconhecida, pois muitas dessas informações nunca foram divulgadas. Esse trabalho foi composto por muitas alegrias e tristezas. Alegrias por encontrar documentos e imagens únicos, e tristezas por às vezes não poder usá-los como gostaríamos – afirma.

Independentemente dessas tristezas, ele acredita que a memória resgatada no livro Fazenda Nacional Lagoa Rodrigo de Freitas foi feita para alegrar todos os cariocas da gema.

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