O primeiro ano de existência do Coletivo Nuvem Negra, formado por alunos negros da PUC, foi comemorado com a mesa Racismo no Ensino Superior e a Colonização do Pensamento: Discussões sobre a Lei 10.639/03 e, em seguida, a festa Quilombo de Lélia, no dia 14 de abril, na Universidade. O coordenador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Leafro) da UFRRJ, Otair Fernandes, e a doutoranda do Departamento de Educação da PUC Sandra Marcelino destacaram a importância de debater a questão racial na universidade.
Sandra Marcelino comentou que o Nuvem Negra parece ser mais velho do que é. Em apenas 12 meses, os membros do coletivo organizaram palestras com a escritora Conceição Evaristo e Claudete Alves e outros intelectuais importantes para o movimento negro. Eles trouxeram para a PUC o espetáculo de dança Na Batalha, antes dele ser apresentado no Teatro Municipal, e ainda reivindicaram uma disciplina sobre movimento negro, que compõe a grade complementar de Ciências Sociais.
Lucas de Deus, membro do Coletivo Nuvem Negra e aluno de Ciências Sociais da PUC, afirmou que o grupo surgiu da necessidade de um espaço de troca e fortalecimento da identidade negra.
- O Coletivo surge, uma vez que a gente não se vê nesse espaço, da necessidade de se alto organizar. Surge da angústia compartilhada por todos os negros e negras que não se sentem representados. A necessidade que se tem de construir um quilombo dentro da casa grande. O Nuvem Negra tem essa força e por isso que estamos aqui.
Na palestra, Sandra destacou o papel da Lei Federal N°10639, de 2003, que determina a inserção do ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira no currículo oficial das escolas. Para Sandra, a educação tem obrigação de trabalhar essa questão e convidar todos a pensar como o racismo está colocado na instituição. Para ela, o conhecimento é uma forma de emancipação e fortalecimento do negro.
- Já passaram 13 anos e ainda precisamos falar as mesmas coisas que eram para serem superadas. O mundo não começa na Europa, será que não tem intelectual negro produzindo? Precisamos pensar e repensar o que está sendo posto. O racismo no Ensino Superior é muito perverso porque age de forma sutil. Nós, negros, devemos existir, insistir e resistir dentro desses espaços.
Para Odair, a quase inexistência de negros no ambiente universitário confirma a exclusão social no sistema educacional brasileiro. Ele acredita que é difícil combater o racismo se a lógica dele faz parte da estrutura jurídica brasileira. De acordo com ele, a lei ajuda a pensar em uma educação étnica e racial no país.
- A nossa luta é contra a hegemonia do racismo que está em todos os lugares da sociedade. Tanto em nível social quanto em coletivo, em casa, na rua, e principalmente nas instituições de ensino. É preciso entender melhor essa complexidade da dinâmica social e repensar a educação brasileira, isso sim aponta para uma revolução.