Impulsionado pelos serviços de áudio via internet, como Spotify, Deezer e Pandora, o mercado de música agora precisa converter a audiência crescente numa receita sustentada e distribuída de forma equilibrada na cadeia produtiva. O diagnóstico, feito pelo diretor de Música da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Daniel Domingues, em palestra na PUC-Rio, vai ao encontro do avanço mundial do consumo de arquivos sonoros por streaming – o que fez essa indústria crescer, no Reino Unido, em 2014, 2,4% a mais do que a economia britânica, por exemplo, segundo a UK Music. Domingues considera as redes sociais a bola da vez, e sugere desenvolver um modelo de negócios que melhor explore o potencial desses espaços no mercado brasileiro:
– O dinheiro repassado pelos serviços de streaming aos produtores musicais ainda é dividido entre artistas, gravadoras, compositores e editoras. Como em nosso país a rede social é um fenômeno, pode constituir um modelo de negócio mais rentável para o meio da música. O desenvolvimento de espaços de relacionamento em que os produtores possam ganhar dinheiro com seus produtos compartilhados é a alternativa da vez – argumenta.
Uma das iniciativas do gênero é o CulturaXchange. Criado pelo produtor musical José Celso Guida, nasceu para simplificar o contato entre os detentores de direitos autorais e agências publicitárias, emissoras de TV e produtoras. A ideia central, explica Guida, é reunir, em um banco de dados, o “máximo de informações sobre diferentes músicas”. Ainda de acordo com o idealizador da página eletrônica, o este tipo de serviço substitui o antigo processo de licenciamento que “demorava a apresentar resultados” por uma plataforma na qual faixas são cadastradas e “o acesso das agências e empresas é direto”. Ele diz que a mistura do mercado digital auxilia na capacitação dos artistas, por conta da influência de outros produtores:
– O meio digital obriga o artista a se destacar, visto que muitas vozes têm espaço nesse universo. No entanto, ele também é influenciado pelo que escuta, ganhando referências. O artista precisa se diferenciar para ganhar destaque, mas também é impossível não se assemelhar com o que recebe – poderá Guida, também convidado, pelo professor do Departamento de Comunicação Carlos Antônio da Costa, para a palestra na PUC-Rio.
Domingues e Guida compararam a nova fase do empreendimento na música brasileira, sob a regência digital, com os movimentos observados nas décadas de 1980 e 1990. Naquela época, lembraram os palestrantes aos alunos de Comunicação, as gravadoras tinham domínio dos direitos autorais e dos lançamentos, enquanto hoje, devido ao avanço das plataformas digitais, as estratégias de propagação das músicas ganham força nas redes sociais da internet. Para Guida, a mudança não diminui os lucros nem a renda dos artistas, “apenas deslocam o consumo para outras plataformas”:
– As vendas de CD e DVD podem diminuir, mas novas possibilidades são abertas. Além disso, a tecnologia se destaca como divisor de nichos. Os sites de busca e redes sociais direcionam o internauta diretamente para o conteúdo que deseja consumir dentro do formato esperado.
Alinhado à multiplicação de iniciativas voltadas a potencializar o casamento entre tecnologia digital, redes sociais e indústria da música, o projeto Elos RJ, da Secretaria de Cultura fluminense, mapeia, com o auxílio da internet, os agentes culturais do estado envolvidos no setor musical. Depois de se cadastrarem, eles passam a integrar um grupo de pesquisa focado na identificação das características e necessidades da área relatadas pelos próprios agentes. Coordenador do Elos RJ, Domingues destaca que o objetivo final consiste na “capacitação e elaboração de políticas públicas com base nas demandas observadas, tentando aproximar os agentes para a troca de experiências e auxiliar o mercado da música no momento de crise”. O especialista reitera a importância da tecnologia para o sucesso não só da empreitada, mas da produção musical:
– O estado do Rio é desigual econômica e estruturalmente, o que dificulta a logística de atuação do projeto. O suporte digital que usamos nos dá um poder de organização e alcance muito maior – justifica – Já são 94 gêneros musicais registrados no nosso site, por exemplo – constata.
Baseada também nesse novo modelo de negócio, a rede social Tsu, por exemplo, tem se destacado com a proposta de remunerar os usuários (artistas, músicos, compositores) pelo volume de publicações (curtidas) referentes às músicas ali cadastradas. Um ano depois do lançada, em outubro de 2014, já tinha ultrapassado o ritmo de crescimento de Facebook e Twitter. O fundador e CEO da Tsu, o polonês Sebastian Sobczak, promete repassar 90% da receita arrecadada com anúncios para os usuários que desenvolverem conteúdos originais publicados primeiro nesta rede. Dela fazem parte, observa Domingues, artistas como o compositor americano Andrew Fromm, autor de sucessos dos Backstreet Boys e de Selena Gomez. Fromm teria lucrado seis vezes mais com a Tsu do que com os serviços de streaming tradicionais.