Em abril de 1998, quando foi criado, o Jornal Extra já tinha um canal ligado aos leitores, por telefone, carta e e-mail. Na época, o índice de desemprego beirava os 4%, e o leitor que procurava conseguia emprego. A tiragem de 150 mil exemplares teve uma virada fenomenal com o avanço das mídias sociais, que hoje fazem com que as notícias sejam compartilhada por 30 milhões de internautas. O desafio, agora, afirma o editor-chefe do Extra, Marcelo Senna, é moldar uma linha editorial clara de acordo com o que o leitor vive:
– O jornal fazia questão de estar próximo e ser útil. Com isso, ele fez sucesso, porque o leitor se sentia abraçado pelo jornal, que foi se qualificando junto com o leitor. As críticas construtivas sinalizam os erros, portanto, necessita-se atenção para não perder público.
Em palestra a alunos no Departamento de Comunicação Social, o jornalista apresentou dados sobre o impacto do digital, as dificuldades e estratégias implantadas no jornal:
– Há dez anos, o jornalista tinha 24 horas para se informar e as pessoas compravam as notícias aprofundadas nas bancas. Atualmente, se o papel não estiver com acesso facilitado, o leitor não desviará o seu caminho para consegui-lo, pois há uma escala enorme de informação imediata nas plataformas digitais e redes sociais. Meu maior concorrente não é O Dia, nem o Meia Hora; meu concorrente é o celular, o Google, o Whatsapp, o Facebook. O leitor está no Whatsapp, ouvindo música e lendo notícia, não comprando jornal.
Senna ressaltou que a audiência cresceu exponencialmente no digital, embora os jornais não abdiquem do impresso, porque novos modelos de negócio ainda não estão consolidados – 90% da receita ainda advém do impresso e do comercial. A questão a ser solucionada é como essa plataforma daria mais dinheiro. Enquanto isso, acredita, é necessária uma leitura diferente que fidelize os antigos e atraia novos leitores.
– O desabamento da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, em São Conrado, teve 1,8 milhão de visualizações. Entretanto, o leitor não pagará por uma notícia já publicada. No papel, ele dá valor. No mundo digital o Extra tem 34 milhões de leitores, só que 9% apenas de anúncio. No papel, 135 mil leitores em dia útil e 260 mil no domingo. Portanto, a publicidade tem um valor infinitamente menor que o papel.
Senna acrescentou que o jornal oferece assinatura digital no tablet, o Extra Notícias, um aplicativo de notícias, e o site XD, com notícias de polícia, cidade, esporte para curtir, compartilhar, chorar. “Vai pela emoção. Mas está faltando outra receita” disse Marcelo, que também comentou um caminho para esse obstáculo: tornar essa audiência digital lucrativa:
– A pessoa compra música, mas não compra informação. O desafio é reter o leitor, e essa retenção é vista no site hoje. Mais que a audiência, o Extra busca métodos para o engajamento de 34 milhões de leitores.
Uma das estratégias foi investir em um perfil mais humorado, nem por isso menos crítico. Produções de direitos humanos atraem muitos leitores no Facebook. Outra tática foi apostar no que está gerando audiência: o Extra criou uma ferramenta para cadastrar comentários, há uma equipe de mídia social responsável por verificar o que está viralizando e criar pautas. O grande volume de informação, porém, esbarra em banalização, pois muitas pessoas comentam e compartilham conteúdos sem checa-los ou mesmo sem ler.
– Cerca de 85% do que está sendo compartilhado é mentira. A diferença do jornalista é que ele apura e checa antes de compartilhar. O Extra criou o “É boato/ É verdade”. O público se fidelizou com a sua veracidade, gerando expectativas de o jornal se manifestar em relação à publicação de determinada notícia.
O jornalista explicou que o jornal categoriza as reportagens em dois eixos: as Interessantes, que são as notícias com audiência fácil; e as Relevantes, furos de reportagem de polícia ou de política regional. Uma das suas características são os conteúdos de celebridades, esportes e o noticiário policial.
Atualmente, o jornal tem uma base de 72 mil pessoas adicionadas, 80% homens da classe C. Com as redações cada vez mais enxutas, outra técnica é a articulação com o jornal O Globo, do mesmo grupo. Repórteres do Extra cobrem prioritariamente as zonas Norte, Oeste e Região dos Lagos, enquanto a do Globo cobre principalmente a Zona Sul, e o material é publicado nos dois veículos com diferentes enfoques – isto porque, no Extra, se experimenta uma maior liberdade:
– Fazemos uma leitura diferente. O Globo tem que ser algo mais equilibrado. Isso é desafiador porque temos que ter cuidado para não passarmos da ética ou não termos mau gosto.