"A solução para o meio ambiente é criar novos espaços sistêmicos"
14/06/2016 14:49
Mariana Casagrande

Jorge Biolchini e Hedy Vasconcellos ressaltam importância da cultura ecológica na saúde e educação para a ressignificação dos espaços públicos, na XXII Semana do Meio Ambiente

Arte: Mariana Salles

Durante anos, a Medicina esteve apenas voltada para o tratamento de doenças, agindo ativamente no “mal”. Hoje, no entanto, médicos incentivam a promoção do bem-estar, que, além de garantir benefícios à saúde individual, agride menos o meio ambiente. Ao mesmo tempo, a educação também vem se modificando, tentando acelerar a consciência ecológica na população.

Coordenador acadêmico do curso de formação docente em Medicina e Ciências da Saúde da Medicina da PUC-Rio, Jorge Biolchini defende a “mudança conceitual e operacional” da medicina, sustentada pela prevenção das doenças e pelo uso de medicamentos naturais. “Cultura e natureza devem andar juntos”, afirmou a professora de Educação Ambiental do Departamento de Educação da PUC-Rio e ex-coordenadora do Nima-Edu, Hedy Vasconcellos. Ambos participaram da XXII Semana do Meio Ambiente da PUC-Rio, organizada pelo Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente (Nima) no Auditório do RDC.

Jorge Biolchini. Foto: Cecília Bueno

De acordo com Biolchini, a preocupação preventiva começou no Canadá, nos anos 1970, trazendo à luz a positividade oncológica, que visava ao bem-estar em oposição à ausência de mal-estar. Segundo ele, uma importante relação para o tratamento individual é o contato com a natureza:

– Numa sociedade em que os produtos farmacológicos mobilizam bilhões de dólares por ano, é essencial o relacionamento com espécies vegetais, que oferecem cura a muitas doenças num estado natural e sem sintéticos – defendeu o médico, que é especializada em homeopatia.

Biolchini ressaltou ainda, que no campus da PUC-Rio, há possibilidade de encontrar muitos medicamentos naturais, inclusive na horta medicinal que criou no campus da Escola Médica, na Estrada da Gávea, em 2015. “Escolher alimentação é ação política”, afirmou, lembrando que as vantagens das espécies vegetais se expandem para vários setores:

– A agricultura orgânica produz impactos positivos planetários devido ao descarte e produção sem uso de monoculturas e agrotóxicos. Devemos pensar que o ecossistema é um ciclo, que cada papel e copo seguirão uma jornada de volta para a terra – disse Biolchini, advertindo que mesmo os contatos físico e visual com a natureza produzem efeitos benéficos à saúde.

Biolchini pretende ampliar a criação de hortas domésticas. O próximo destino é o Campus Rural de Tinguá da PUC, em Nova Iguaçu, cercado pela Mata Atlântica. Para o médico, as novas hortas são símbolo da prevenção e ressignificação da relação com o meio ambiente: “É importante criar mais espaços sistêmicos”.

Hedy Vasconcellos. Foto: Cecília Bueno

Hedy Vasconcellos acrescentou que essa é uma das ações que devem “estruturar o campus para transformá-lo em um laboratório vivo de educação ambiental”, por meio de práticas sustentáveis, ações concretas e operacionais e linhas de pesquisas multidisciplinares, que interliguem os departamentos. Ponderando que esse resultado da educação demora a chegar, ressaltou que a coleta seletiva de lixo e a ausência de pichações no campus já são exemplos de consciência ambiental que são praticadas na Universidade. “Se superarmos a crise ética que vivemos, teremos bons resultados”.

Hedy elencou ainda fatos históricos que ilustram a educação ambiental mundialmente, como o Clube de Roma, que tratou do tema ambiental pela primeira vez (leia mais aqui); Estocolmo 72, primeira reunião que citou o termo “sustentabilidade”; e Rio 92 e Rio+20, que mantiveram a questão em debate. E ressaltou que esse movimento terá maior êxito se for interdisciplinar, reunindo conhecimentos de áreas como educação ambiental, ética, política, ciência e teologia.

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