Reflexões sobre o ensino brasileiro
15/06/2016 15:34
Camila de Araujo/foto: Nina Cardoso

Reforma na área demanda investimento a longo prazo

Pedagoga desenvolve pesquisas sobre História da Profissão de Docente, Ideias e Instituições, em Educação

Professora do Departamento de Educação, Ana Waleska Pollo Campos Mendonça foi contemplada, em maio, com o título de professora titular da Universidade. Recentemente, organizou com outros professores o Movimento Ocupa PUC, no dia 18 de maio, no RDC, com estudantes das escolas ocupadas, e o Ocupa Ensino Médio, no dia 6 de junho, na Associação Brasileira de Imprensa. O profundo envolvimento com a Educação revela à professora que o fenômeno das ocupações, os investimentos insuficientes, a politização do ensino e a desvalorização do magistério são algumas das questões que devem ser refletidas para a evolução do ensino no país.

Ana Waleska tem a história profissonal atrelada à PUC-Rio. Ela ingressou na Universidade em 1964 para graduação em pedagogia e, mais tarde, concluiu mestrado e doutorado na área de educação. Em mais de cinquenta anos dedicados à docência, entre o magistério, produção e administração acadêmica, ela fez pós-doutorado na Universidade de Lisboa, escreveu 41 artigos, publicou dez livros, e orientou o total de 55 alunos, em dissertações de mestrado, teses de doutorado, pós-doutorado e iniciação científica. Para ela, ser professora titular é resultado natural do percurso.

– Fiz toda a minha carreira docente dentro da PUC. Para mim, é a culminância de uma longa trajetória desenvolvida. – diz Ana Waleska.

À frente das salas de aula da Universidade há quase 50 anos, Ana Waleska permance atenta aos histórico da educação no Brasil. Atualmente acompanha os desdobramentos das ocupações de estudantes nas escolas da rede pública. Ela ressalta que no Rio de Janeiro, onde cerca de 70 escolas foram ocupadas, os jovens levantam questões pedagógicas numa postura ativa e não mais à mercê de decisões partidárias.

– Um dos temas mais interessantes que o movimento dos alunos na Ocupação das escolas levanta são as reinvindicações pedagógicas, como a ampliação da carga horária das disciplinas de filosofia e sociologia e a eleição de diretores da unidade escolar ligados à comunidade. Até então, os diretores eram nomeados pelo secretário de Educação e escolhidos por razões partidárias, sem que eles tivessem envolvimento com o ambiente.

A mobilização dos estudantes teve início em São Paulo, contra a medida do governo que ordenou o fechamento de unidades municipais e estaduais, em novembro de 2015. Nos outros estados, jovens brasileiros seguiram o exemplo em busca de melhores condições de ensino. Entre as exigências estão investimentos na infraestrutura, revisão na grade curricular e ajuste salarial para professores e profissionais da Educação. Segundo Ana Waleska, esse entendimento surge da conscientização da escola como um ambiente pertencente aos estudantes e à sociedade.

– Os alunos perceberam que a escola também é formada por eles. Do ponto de vista da ideia de cidadania, essa percepção é fantástica. A noção da escola pública como um bem comum é sintoma de uma mudança radical – diz.

Para Ana Waleska, o quadro atual do ensino público é resultado de investimentos insuficientes, somado à administração inadequada dos recursos e à falta de incentivo para os que procuram a licenciatura. Os professores, aponta a pedagoga, convivem com baixa remuneração, falta de infraestrutura, e más condições de trabalho. Ana Waleska indica a desvalorização do professor e a descontinuidade das políticas públicas como o cerne da crise na educação, o que favorece a instabilidade na área como é possível observar hoje.

– Os investimentos sempre foram parcos e insuficientes. Os recursos são escassos e, frequentemente, mal aplicados. Além disso, um dos grandes problemas com os quais nos defrontamos é a questão da instabilidade e descontinuidade das políticas públicas em educação, em todas as instâncias da máquina pública – federal, estadual e municipal. Ou seja, cada governo que se sucede no exercício do poder apaga as medidas realizadas anteriormente – avalia.

Segundo ela, há também um déficit de professores no estado porque a profissão de docente está deixando de ser atrativa. Com salários baixos, condições precaríssimas de trabalho, violência dentro das escolas, principalmente, nas que estão em áreas de risco. Por isso, defende que o sucesso das políticas públicas em educação é o investimento planejado a longo prazo.

– As políticas de educação precisam ser efetivas, e, para isso, devem ser pensadas e implementadas a longo prazo, até porque os resultados não são imediatos.

Ana Waleska comenta a atitude dos jovens envolvidos na ocupação das escolas. O que observou durante o Movimento Ocupa PUC, seminário no qual recebeu líderes das escolas ocupadas, no RDC.

– Surpreende a maturidade da garotada. No Ocupa PUC, observei a mudança da visão da escola pública.

Neste âmbito, pensa, o papel da universidade é fundamental ao formar profissionais da educação para desempenhar funções em todas as séries pedagógicas.

– A universidade tem uma enorme responsabilidade porque ela forma os professores para atuar em cada nível de ensino. A formação sólida desses profissionais é importante. Vemos o curso de pedagogia voltado para os professores das séries iniciais e Educação Infantil, e as licenciaturas para a formação dos professores das séries terminais do Ensino Fundamental e Médio – diz.

Professora titular da Universidade, Ana Waleska também integrou a coordenação, direção e administração do curso de Educação, gerenciou a central de graduação acadêmica e participa de órgãos colegiados da PUC-Rio.

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