Drible feminino para desafiar dificuldades
15/06/2016 17:25
Matheus Paulo Melgaço / Foto: Fernanda Szuster

Falta de investimento afeta o avanço da modalidade no país

Na foto maior, Larissa Coutinho treina com a equipe no campo de São Cristóvão, na Zona Norte 


Conhecida como Esquerdinha, Larissa Coutinho, de 17 anos, tem uma rotina compatível com seu sonho: ganhar uma Olimpíada pela seleção brasileira de futebol feminino. Moradora de Araruama, na Região dos Lagos, ela estuda, na parte da manhã, no terceiro ano do Ensino Médio. Durante toda a tarde, treina na equipe sub-20 do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, e volta para casa às 22h. A difícil rotina da atleta reflete também o quadro atual do futebol feminino no Brasil: a falta de apoio.

No Rio de Janeiro, dos quatro clubes de maior expressão nacional, apenas o Vasco e o Flamengo disputam o campeonato estadual feminino; dos dois, apenas o Vasco mantém uma categoria de base com sub- 17 e sub-20.

No que se refere às competições de expressão nacional, o campeonato brasileiro da modalidade ocorre desde 2013 e reúne 20 times. Já a Copa do Brasil, que existe há quatro anos, na última edição, de acordo com o Ministério do Esporte, teve um investimento do governo federal de aproximadamente R$ 3 milhões.

O coordenador de Futebol Feminino da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Aurélio Cunha, acredita que há uma parcela de responsabilidade dos clubes para a profissionalização do esporte no país. Ele diz que a CBF criou algumas medidas para estruturar o futebol feminino.

– A CBF não é clube, nosso dever é incentivar o esporte e criar competições para sua estruturação. Não podemos obrigá-los a fazer times femininos. Até sugiro, mas não posso impor. É livre arbítrio deles. Ao fazermos a seleção permanente, queremos dar todo suporte profissional para as meninas, que normalmente não têm.

Há poucos meses da Copa do Mundo de Futebol Feminino Sub-20, que ocorre na Papua- Nova Guiné em novembro, e da Olímpiada 2016, Cunha ressalta a importância da construção de ídolos no esporte para incentivar as jogadoras que estão começando a praticar futebol. Para ele, independente do resultado no Rio de Janeiro, os Jogos Olímpicos vão ser importantes para incentivar novas gerações a jogar bola.

– A menina de 12 anos que está vendo a Marta, a Formiga ou a Andressinha tem que se sentir inspirada e com gana de querer estar ali. Mas ela precisa iniciar a prática e, na maioria das vezes, está nas escolas. Todos os países que têm grande relevância na educação têm bom futebol feminino como os EUA, Alemanha e Suécia. Os Jogos Olímpicos podem ser uma euforia ou uma frustração. O que conseguirmos vai ser importante para a manutenção do sonho de meninas jogarem futebol.

Com 70 mil pessoas no Maracanã, Jorge Barcellos era o técnico que comandava a seleção brasileira feminina medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Oito anos depois, ele afirma que a estrutura do esporte no país continua precária. O técnico relembra o trabalho que fez na seleção desde o título do Mundial sub-20 até a conquista do ouro.

– A modalidade cresce a passos lentos. Trabalhamos por dois anos e, até hoje, há algumas jogadoras que atuam na seleção atual. Depois, fomos bicampeões do jogos Pan-Americanos, sendo um deles no Rio. Mas, naquele momento, faltou feeling das pessoas que estavam dentro do futebol. Elas não pensaram na modalidade, mas em si próprias.

Atual campeão brasileiro, o Flamengo é um exemplo para o treinador de como se deve gerir o futebol feminino no país. Na equipe, embora as atletas vistam a camisa do clube, quem administra é a Marinha. Ele defende que seja criado um departamento de futebol feminino dentro dos clubes em parceria com empresas privadas que tenham o interesse de incentivar a modalidade.

 – Manter uma equipe é um gasto, que a maioria dos clubes da elite do futebol brasileiro não tem condições de arcar. Eu acredito que deveria ser criado um departamento e entregá-lo a uma empresa interessada em gerir a modalidade.

Larissa já foi convocada cinco vezes para a seleção brasileira feminina de base 


Apesar do quadro difícil, muitas atletas lutam diariamente para manter vivo o sonho de vestir a camisa da seleção. E, se depender da Larissa Coutinho, jogadora sub-20 do Vasco, o sonho já está concretizado em parte. Convocada cinco vezes para as equipes de base da seleção, ela acredita que o futebol vai crescer quando os empresários olharem a modalidade como um investimento.

– Somos atletas assim como a modalidade masculina. É a mesma quantidade de jogadores no campo, é a mesma bola e uniforme. Vamos enfrentar pessoas que não nos aceitam. Mas fazemos a mesma coisa que os meninos e, às vezes, até melhor.

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