Fruto do cenário político conturbado e da economia instável, o desemprego já atinge 11,4 milhões de brasileiros, o equivalente a 11,2% no trimestre de março a maio. Os jovens são os mais afetados: são um entre cinco (20,4%) no primeiro trimestre de 2016, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estética (IBGE). Apostar em um negócio próprio tem sido uma alternativa diante da escassez de vagas. Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor de 2015 (GEM), realizada no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), 21% dos empreendedores iniciais têm entre 18 e 24 anos.
Desde junho de 2007 o país não registrava uma porcentagem tão elevada de desemprego entre jovens. Apesar de muitos estarem formados, o diploma não é mais a garantia de emprego. Ainda segundo a pesquisa, homens e mulheres entre 25 e 34 anos e igualmente ativos em empreendimentos em estágio inicial constituem a maior porcentagem, 26%. Ou seja, a dificuldade em conquistar um trabalho direciona esses jovens ao mundo do empreendedorismo. Apesar de serem os menos ativos, pela falta de experiência, os mais novos vem ganhando terreno: 12% dos empreendedores estabelecidos têm de 25 a 34 anos, e 5% entre 18 e 24 anos.
Apesar de que ser de fato um caminho para enfrentar a crise, abrir um negócio não é algo trivial, como afirma a professora Ana Heloisa Lemos, coordenadora da Escola de Negócios da PUC-Rio:
– A pessoa que deseja empreender tem que ter capacitação e perfil, além de entender o que é empreender e saber fazer um plano de negócios. Como em todo negócio, há riscos, então é preciso procurar saber de todos eles e refletir se há condição de correr esses perigos, inclusive financeiros. Existe uma série de aspectos que devem ser pensados antes de tomar uma decisão.
De acordo com especialistas, é preciso promover ações que reduzam a burocracia para incentivar a educação empreendedora, assim, aumentaria o número de iniciantes no negócio, movimentando a economia.
O mundo do trabalho passa por diversas transformações. Na visão da diretora da empresa Intelectus Gestão Estratégica de Pessoas, Lidiane Bertê, a tendência é que não se fale mais em uma carreira profissional, pois os trabalhadores terão mais de uma carreira, somando diferentes formações e experiências ao seu histórico técnico. Como consequência, surge um novo termo: carreiras profissionais, referentes às trajetórias de sucesso e crescimento dentro de diferentes áreas.
Apesar da elevada taxa de desemprego entre a faixa etária de 18 a 24 anos, a gestora de carreira completa que os jovens talentos estão crescendo de forma acelerada dentro das organizações, ao contrário do que ocorria anos atrás, quando era necessário muito tempo de dedicação à empresa para que se alcançasse um cargo de gerente. Por outro lado, acrescenta que o desejo de crescimento e desenvolvimento impulsiona esses profissionais a migrar para novos e diferentes desafios.
Esta falta de foco, aliada à ansiedade, pode ser comprometedora, adverte Lidiane:
– O desenvolvimento profissional é resultado de todas as escolhas feitas. Assim, é importante que, quando for necessário buscar oportunidades fora de sua área de atuação ou formação, estas experiências contribuam para o progresso profissional, auxiliando na evolução das competências que, no futuro, sejam interessantes para a carreira.
A professora Ana Heloisa Lemos lembra que também é comum entre os jovens um excesso de exigência, e afirma: “Emprego bom é o que você tem”, especialmente no atual cenário de crise, os jovens tornaram-se personagens importantes no andamento financeiro da família.
– O jovem, geralmente, tem uma visão muito idealizada do trabalho, então costuma ser muito seletivo. Porém, é preciso lembrar que as empresas preferem contratar aqueles que estão empregados. Há preconceito e desconfiança por parte das firmas com os desempregados.
Ana Heloisa sugere que, em épocas de crise, convém aceitar todas as oportunidades que surgirem. A explicação é simples: o aprendizado e o conhecimento adquiridos ao longo desses trabalhos qualificam e ajudam o indivíduo a conquistar o emprego dos sonhos. O resultado, portanto, é a capacitação, aspecto valorizado pelos contratantes.
Porta de entrada de universitários no mercado de trabalho, o estágio é visto como oportunidade de pôr em prática os ensinamentos teóricos e comprovar se a escolha da profissão foi acertada. Especialistas alertam, contudo, que é importante não priorizar o trabalho em detrimento do conhecimento adquirido em salas de aula, afinal a formação sólida e boa base técnica são fundamentais para o crescimento e sustentação da carreira.
O estudante de jornalismo da PUC-Rio Thiago Alexandre afirma que estagiar proporcionou um novo olhar a respeito da carreira que escolheu:
– Estagiei por dois anos na rádio do Portal PUC-Rio Digital. Essa experiência me fez ter uma nova visão sobre o jornalismo e o hard news. Mal ou bem, quando você é um adolescente sonhando em entrar no jornalismo, não sabe a responsabilidade que se tem ao passar a informação. A história muda completamente quando você vive essa realidade: torna-se uma peça importante para a sociedade – lembra o estudante.
Terminando o curso de jornalismo e há seis meses desempregado, Thiago busca novos caminhos para estar em contato com a sua área, mesmo que indiretamente. Acompanhado de seus amigos, o estudante tem um canal no YouTube, o Bate Pronto, no qual aborda os bastidores do futebol com notícias e informações financeiras de clubes, federações e torneios. No entanto, o projeto não gera renda, o que obriga Thiago a buscar alternativas, como atuar como fiscal de provas e tocar violão em missas: “Em tempos difíceis, não sou muito exigente, aceito as oportunidades que surgirem”, diz o futuro jornalista.
Entre os alunos da Escola de Negócios, 80% estão empregados, parcela composta por funcionários (26%), empresários (20%) e estagiários (34%). O sucesso, no entanto, é resultado, entre outras coisas, da rede de relacionamentos, afirma a professora Ana Heloisa, que realiza uma pesquisa de fim de ano com todos os formandos para averiguar a média de inserção no mercado de trabalho desses jovens. Os jovens empregados afirmam que a indicação vem principalmente dos amigos e familiares, o que corresponde a uma taxa de 25%, segundo o levantamento.
– Quanto maior for a cadeia de relacionamentos, mais chances e oportunidades vão surgir. O interessante é que os jovens aumentem sua bagagem de contatos, importantes no processo de indicação. É um ciclo: hoje, algum amigo ou familiar vai recomendar você; amanhã, você será o indicador – lembra Ana Heloisa.
O estudante Thiago Alexandre afirma que os amigos têm grande participação no processo de busca por empregos, comunicando sobre vagas abertas. Sites de currículos também são boas opções, pois mandam regularmente e-mails a respeito de cargos disponíveis.