Impulsionada pela Lei da TV Paga, que obriga a televisão nacional a transmitir 1.070 horas anuais de conteúdos produzidos no país, a produção nacional de animações vem surpreendendo, e não apenas em live-action (com atores). O menino e o mundo, de Alê Abreu (Garoto cósmico), competiu com longas americanos e japonesas na categoria Animação do Oscar deste ano. Contudo, mesmo que boas oportunidades estejam nascendo, este mercado ainda é restrito no país. Para quem sonha em trabalhar na área, profissionais indicam a divulgação de trabalhos na internet.
Fernando Mendonça, sócio do Combo Estúdio , que produz Any Malu, a primeira youtuber animada, expôs as dificuldades da profissão em palestra realizada na terça-feira, 14, pela professora do Departamento de Comunicação Clélia Bessa e pela estudante de Cinema Fernanda Brandalise, sobre a rotina dos profissionais de animação.
– É difícil saber como ingressar no mercado de animação e como entrar em contato com os profissionais desse ramo. Por isso, eu investi em dublagens amadoras e outros vídeos para divulgar no YouTube. Somente dessa forma consegui visibilidade e recebi propostas – contou Mendonça, que nasceu no Rio Grande do Norte, onde as chances são ainda mais raras que no Sudeste.
Há sete anos morando no Rio, o editor, diretor, produtor e dublador já enfrentou crises na profissão, principalmente a escassez de trabalhos. Uma brincadeira o tirou do anonimato, quando criou imagens ou “memes” de personagens da série americana Game of Thrones como se fossem príncipes da Disney e os divulgou nas redes sociais:
– No início, fiz esses desenhos só para me divertir, mas eles ganharam proporções mundiais e até viraram lista do BuzzFeed. Com eles, recebi várias propostas como freelancer – contou Mendonça. – Para viver da arte, no Brasil, você precisa apostar em dois lados.
Valentina Castello Branco, roteirista de Irmão do Jorel, animação produzida para o canal Cartoon Network desde 2014, disse que gosta de trabalhar com desenhos porque se “pode ter o que quiser, o que a imaginação permitir”, uma vez que o investimento para inserir na história elementos como helicópteros é bem menor que alugá-los para live-action. Além disso, ela observa que a edição e adaptação de conteúdos para diferentes faixas de público é mais fácil na internet que na televisão.
Produtor-executivo e sócio da Combo Estúdio, Marcelo Pereira, responsável pelo planejamento financeiro e pela execução dos projetos(se considera o “mercenário do grupo”), diz não concordar com a ideia de que arte não pode gerar riqueza:
– No mercado do cinema, muitos menosprezam o blockbuster, mas eu acho importante criar um produto que possibilite lucros e reconhecimento dos personagens para um público amplo, permitindo vender outros itens relacionados ao filme – defendeu Marcelo, que lamenta o baixo capital para publicidade destinado ao mercado de animação no Brasil: – A divulgação é quase exclusivamente na internet.