Transporte agrada, mas Estádio Olímpico falha na organização do entorno e interior
08/08/2016 14:39
Lucas Paes

Torcedores que assistiram aos primeiros jogos no Engenhão dão show nas arquibancadas, mas sofrem com longas filas e falta de sinalização nas rampas e setores do estádio.

Foto: Lucas Paes


Ao longo de quatro dias de competição e oito partidas de futebol disputadas, o Estádio Olímpico do Rio se consolidou como um dos principais palcos das Olimpíadas 2016. Aproximadamente 100 mil pessoas já passaram pelo estádio, conhecido como Engenhão, gerando uma onda de cores, bandeiras, sotaques e idiomas diferentes. Apesar das preocupações que existiam com o transporte até a região do Engenho de Dentro, esse não tem sido um problema para o público. O fator mais preocupante até agora foi, na verdade, a organização no entorno e interior do estádio, com falta de sinalização adequada e longas filas nas lanchonetes. A reclamação dos torcedores encontrou coro até entre policiais que fazem a vigilância das arquibancadas:

– Vocês querem organização? Isso aqui é Brasil. Se fosse para ser organizado, deveria estar acontecendo no exterior – disseram alguns PMs a um grupo de fãs que lhes pedia orientação no jogo entre Honduras e Argélia, dia 4.

O deslocamento até o Engenhão surpreendeu positivamente os visitantes. Se antes havia preocupação com o serviço de transporte, não foi raro ouvir brasileiros elogiando a rapidez e facilidade do sistema de trens da Supervia e a quantidade de pessoas uniformizadas para oferecer informações aos transeuntes nas estações. Além disso, foram disponibilizadas composições novas e com refrigeração eficiente – algo difícil de se ver no dia a dia de quem utiliza metrô e trem no Rio de Janeiro. Mesmo os ambulantes que se deslocavam entre os vagões compunham bem o cenário de felicidade e empolgação que parecia tomar conta do espaço. Doce ou salgado, refrigerante ou cerveja, tudo podia ser encontrado nas mãos dos vendedores.

Os problemas só começavam na chegada ao Estádio Olímpico. A entrada para as arquibancadas foi dividida em dois setores: Leste e Oeste. No entanto, não existia nenhuma grande indicação que pudesse situar os torcedores, guiando-os para a entrada apropriada. Era só por meio das perguntas aos voluntários que os torcedores menos acostumados ao Engenhão conseguiam encontrar seus rumos.

Ao chegar ao portão, longas filas, de aproximadamente 15 minutos, foram formadas para a rigorosa inspeção de raio-x. Alguns torcedores reclamavam da cautela excessiva na fiscalização. Os membros da Força Nacional responsáveis pela segurança dos Jogos alegavam que o procedimento seguia ordens dos organizadores. Somada à inspeção cuidadosa, a presença de grandes contingentes policiais, inclusive da Cavalaria da Polícia, reforçava a preocupação com a segurança.

Fila na entrada do Engenhão Foto: Lucas Paes


Poucas opções de entretenimento eram oferecidas do lado de fora. Proibidos de atuar na calçada do Engenhão, ambulantes eram figuras raras até em espaços mais afastados, deixando brechas para a criatividade dos moradores do Engenho de Dentro. O mecânico Jeferson abriu as portas de sua oficina para vender bebidas a quem chegava:

­­­­– Vou pedir a minha esposa para fritar uns pasteizinhos, o que diversificaria nossos produtos e atrairia mais clientes.

Oficina virou barzinho. Foto: Lucas Paes


Poucos eram os que se arriscavam a fazer comércio na área restrita. E os que tentavam pareciam mais preocupados em se esconder dos policiais que faziam rondas do que propriamente anunciar as mercadorias. Bandeiras de Portugal eram vendidas a R$ 70, enquanto as argentinas podiam ser compradas por R$ 50. Segundo os ambulantes, a diferença no preço se justificava pelo fato de “os brasileiros não serem malucos o suficiente para comprar bandeiras da Argentina”.

Dificuldades também dentro do estádio

Depois de passarem pela barreira de segurança, os torcedores precisaram enfrentar uma romaria para encontrar o local exato de seus assentos. A sinalização nas rampas e corredores do Engenhão deixou a desejar, com destaque para o erro de sinalização dos setores do estádio ­– o que deveria ser 510, por exemplo, está numerado como 512. Algumas placas estavam danificadas, prejudicando a leitura.

Foto: Lucas Paes


Torcedores também protestaram contra os preços cobrados nas lanchonetes. Refrigerantes de 600 ml, por exemplo, custam R$ 10, e um saquinho de amendoim chega a R$ 8. Não bastasse os altos custos com alimentação, quem se dispunha a comprar precisou enfrentar longas filas, que chegaram a 30 minutos nos intervalos dos jogos. Alguns fãs mais exaltados chegaram a cobrar dos voluntários e organizadores providências para diminuir as filas, mas ouviram apenas a justificativa de que o melhor já estava sendo feito.

Na saída do estádio, as rampas de acesso aos trens da Supervia ficaram lotadas, causando aglomerações. Alguns focos de confusão surgiram entre os que não conseguiam chegar às roletas.

Fila para o embarque nos trens. Foto: Lucas Paes


Com a bola rolando, entretanto, o que se viu foi um show nas arquibancadas, principalmente na estreia da Seleção Brasileira feminina. As meninas foram o maior destaque do país até agora, aplicando duas goleadas – 3x0 sobre a China e 5x1 contra a Suécia. A torcida apoiou em peso a equipe de Marta e a todo momento exaltou o poder das mulheres no esporte mais tradicional do Brasil.

A situação dos atletas argentinos ganhou também muito destaque, mas não pelo mesmo motivo. Devido à rivalidade existente entre os vizinhos sul-americanos, a torcida brasileira apoiou em peso os portugueses e argelinos, adversários que enfrentaram a Argentina até agora. Seja exaltando Pelé e criticando Maradona ou lembrando os cinco títulos mundiais do Brasil, a maioria presente no Engenhão contribuiu para a vitória de Portugal e o jogo difícil que a Argélia impôs, mesmo com o resultado de 2x1 a favor dos hermanos.

A experiência de fazer parte dos Jogos Olímpicos e se misturar ao sentimento de vários povos diferentes foi marcante para muitas das pessoas que compareceram ao Engenhão. O estudante Renato, de 19 anos, que pela primeira vez foi ao estádio, disse ter vivido “um momento transformador”:

– A atmosfera criada no interior do Engenhão foi algo inacreditável. Eu não tinha a perspectiva de assistir a uma partida dos Jogos Olímpicos, mas ganhei um ingresso e estou muito feliz. Vou me lembrar desse dia para o resto da minha vida.

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