Arquibancadas informais transformaram a Lagoa em Maracanã
22/08/2016 12:01
Carolina Ernst

Na grama, atrás de grades, em quiosques e pontos da ciclovia, espaços improvisados reforçaram a torcida por remo e canoagem

Foto: Carolina Ernst


Acostumado ao movimento na barquinhos na Rodrigo de Freitas, o carioca viveu uma relação ainda mais festiva com este vaivém aquácio ao longo dos Jogos Olímpicos. Rodeada pelas sedes náuticas de Flamengo, Vasco e Botafogo, a Lagoa revigorou a vocação natural ao sediar provas de  canoagem de velocidade e remo. Ali o canoísta Isaquias Queiroz fez história ao tornar-se o primeiro brasileiro a conquistar três medalhas numa Olimpíada (duas de prata, uma de bronze).  Boa parte dos que testemunharam a façanha reforçou o time de arquibancadas informais que, numa cena bem carioca, caracterizaram também algumas compeiçoes da Rio 2016.

Embora o Estádio de Remo fosse, como sugere o nome, o espaço oficial para se acompanha aquelas  modalidades, cariocas e visitantes sem ingresso concentraram-se em diferentes trehos da ciclovia em busca de uma casquinha das provas. As raias de dois quilômetros de comprimento transformaram pontos em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas em arquibancadas improvisadas. Chegaram até a despertar um comércio ambulante de almofadas. Cena mais carioca, impossível.

Esses assentos informais contrastavam com a estrutura montada para as provas. Nas semanas que antecederam o início dos Jogos, foram instaladas grades de proteção em volta da ciclovia e arquibancadas na sede náutica do Flamengo. Para o local da largada foi escolhido o chamado Baixo Bebê, perto da Fonte da Saudade e do viaduto Saint Hilaire. Já a linha de chegada ficava estrategicamente no Estádio de Remo, onde também montou-se uma arquibancada extra, além de estruturas adicionais para atletas, imprensa e plateia. Os ingressos variaram entre R$ 40 e R$ 280. Do outro lado da Lagoa, no entanto, o espetáculo era de graça.

As baterias começavam logo cedo, às 8h30. Na fase incial, apenas três remadores de cada bateria se classificam para a etapa seguinte. A maratona de provas, algumas interrompidas por condições climáticas adversas, reuniu 14 categorias, acompoahadas por arquibancadas formais e informais.

No primeiro dia de competições, na ressaca da cerimônia de abertura, dia 6, às nove da manhã já havia interessados assistindo pelas frestas da grade. Os primeiros a chegar ali foram interantes das equipes de remo do Botafogo e do Vasco recém-saídos do treino e outros praticantes da modalidade. “Se precisarem de mim, eu assumo”, brincou um remador amador do Botafogo com o amigo ao lado. Como em qualquer outra manhã de sábado, o movimento na ciclovia crescIa à medida que o dia avançava. Às dez e meia da manhã, não havia mais espaço junto à grade, e a estrutura de metal, instalada para o alongamento, era a alternativa para dar uma espiada. Estrangeiros também aproveitaram a passagem pela largada para encorajar os atletas dos respectivos países.

Enquanto o juiz da largada não indicava o número da raia, a plateia se divertia tentando adivinhar a que país pertencia cada atleta.

Foto: Carolina Ernst


“Aquele ali de verde e amarelo é brasileiro?”. A pergunta era frequente quando havia australianos prontos para largar. Apesar da galhofa e do clima de festa, alguns espectadores se queixaram da falta de informação quanto à ordem de chegada das equipes. Outros logo tratavam de checar o resultado com o celular em mãos.

– Pena que o percurso é muito longo e não dá pra ver tudo. Mas gente está de 0800, então tudo bem, a gente procura na internet mesmo – divertia-se uma senhora, com o smartphone em punho, anunciando os resultados para ouvidos curiosos.

Chamaram a atenção do público as instalações modernas e a participação dos voluntários e fotógrafos sob o sol escaldante do inverno carioca. No deque de largada, cada voluntário ficava deitado de bruços em uma prancha segurando a popa do barco. A proa do barco tem que estar corretamente encaixada para que a regata inicie. “Olha papai! Está saindo da água!”, exclamava um menino nos ombros do pai, com os olhos arregalados.

Céu azul, sol bonito, a Lagoa inundada de gente nas arquibancadas oficiais, nos mirantes improvisados. Alguns jamais haviam visto remo e canoagem. O vendedor de água de coco do Baixo Bebê comemorava o recorde de movimento.

Foto: Carolina Ernesto


– Veio mais gente do que o esperado. Fiquei sem troco, com o coco a 6 reais. Tive que abaixar para 5. É o único lugar no Rio onde o preço está abaixando e não aumentando –, sorri o vendedor, enquanto vende para um ciclista, que olha para a paisagem e logo comenta:

– Você tem uma vista de camarote daqui! Já pensou em cobrar pelo quiosque?

Ana Paula Carneiro, moradora do Corte Cantagalo, tentou acompanhar o remo de diferentes pontos da ciclovia. Ela avalia:

– Este ponto é o melhor para ver os atletas. Do resto da Lagoa só dá para ver os atletas passando.

Outros, digamos, moradores da área também marcaram presença durante as disputas. Um biguá, ave que vive nas árvores em torno da ciclovia, pousou do lado de um fotógrafo no deque da largada. Em bando, mais tarde, causaram um impressionante atraso técnico de 15 minutos ao nadarem nas raias, divertindo o público e impressionando os atletas estrangeiros. Garças também pousaram no deque, enfeitando ainda mais a paisagem.

Próximo da arquibancada no Estádio de Remo da Lagoa, na Avenida Borges de Medeiros, a aglomeração também era festiva. Torcedores sentados na grama e apoiados na grade somavam-se à média de média diária de 450 espectadores no etádio. Pelo telão era possível acompanhar todo o trajeto de dois quilômetros da competição.

Quando a vez era dos brasileiros, a torcida vibrou. Xavier Vela Maggi e Willian Giaretton, na categoria double skiff leve masculino, conquistaram o 17o lugar nas baterias, o 10o na repescagem, 1o lugar na 1ª semifinal C/D e 2o lugar na final C. Já Vanessa Cozzi e Fernanda Leal Ferreira conquistaram o 12o lugar nas baterias, o 9o na repescagem, o 2o na 2a semifinal C/D e o 3o na final C na categoria double skiff peso leve feminino. Apesar de não terem ganhado medalhas, nas duas pontas da raia os atletas escutaram palavras de apoio e incentivo da torcida fervorosa.

Já na canoagem de velocidade, disputada entre os dias 15 e 20, o baiano Isaquias Queiroz, de 22 anos, arrebatou a galera. Conquistou, no dia 16, a primeira medalha de prata da canoagem brasileira na categoria canoa individual 1.000 metros masculino. Depois da vitória e com o gostinho de quero-mais, a venda dos ingressos para a canoagem, com preços entre R$ 40 a R$ 210, deu um salto. Doi lado de fora da arquibancada oficial, o número de espectadores também cresceu. O assédio seria recompensado com mais duas medalhs: bronze na canoa individual 200m masculino e prata na final de dupla de 1.000m, sábado passado, ao lado de Erlon Souza.

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