“Comportamento ético não pode ser seletivo”, defende Danilo Marcondes
26/08/2016 17:16
Carolina Ernst

Professor de filosofia ressalta o valor do comportamento ético dentro e fora do ambiente de trabalho em palestra para funcionários da PUC-Rio.

Foto: Gabriel Molon

Crises éticas não acontecem pontualmente no curso da história, mas em alguns momentos esse sentimento é mais ou menos presente, dependendo das circunstâncias. A percepção de uma crise ética internacional – com o avanço do extremismo religioso no Oriente Médio, a crise dos refugiados e o crescimento da extrema direita na Europa e a crise econômica e política brasileira – foi tema da mais recente edição do Papo de Quinta. O encontro, organizado pelo Programa de Desenvolvimento para os Funcionários da PUC-Rio, contou com o professor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio Danilo Marcondes para tratar dos desafios da ética no mundo contemporâneo sob a perspectiva filosófica.

Autor de obras como A pragmática na filosofia contemporânea e Textos básicos de ética, diretor do Departamento de Filosofia da PUC-Rio de 1986 a 1989 e vice-Reitor Acadêmico da Universidade de 1999 a 2007, Marcondes lembrou que a ética em empresas e organizações começou a ser discutida só recentemente, a partir da década de 1980, e acredita que no momento atual haja um movimento de recuperação da importância de se investir no pensamento ético como prática dentro e fora do ambiente de trabalho.

– Nunca podemos discutir a conduta do indivíduo isoladamente: o que eu faço influencia os outros. Ser ético é entender que é um trabalho participativo. Na empresa isso se traduz na comunicação e na interação. Também não podemos separar a postura ética no trabalho da que temos em casa, por exemplo; não existe essa dicotomia. A ética é a busca pela integridade, a sua prática requer coerência. Temos também que pensar nas consequências em longo prazo. Acredito fortemente que podemos mudar a situação ao nos conscientizarmos da ética, nos afastando do conformismo e da ética pessimista – ressaltou.

Foto: Gabriel Molon

O professor Marcondes ponderou que a sociedade atual é complexa, heterogênea e suscetível a rápidas transformações que nem sempre consegue acompanhar. Citou como exemplo casos da genética moderna que chegam aos tribunais, envolvendo “barrigas de aluguel” ou inseminação artificial.

– O que podemos fazer para encontrar um ponto comum a todos? O que é ser ético? É seguir as leis, a religião ou o que foi passado pelos pais? A diversidade de populações levanta questões éticas graves, como acontece na Europa – questionou o professor.

Na opinião dele, o comportamento ético depende de diferentes fatores no processo de tomada de decisões e envolve dilemas:

– A ética não trata de um só indivíduo, pois une a malha social. Todos temos que fazer o esforço de sermos o mais ético possível, mas mesmo assim não estamos imunes ao erro. Entre os valores, os deveres, as obrigações e as consequências, devem-se priorizar as consequências, que, por sua vez, devem retroalimentar as outras dimensões.

A escolha do tema pelos funcionários sinaliza, para Marcondes, um sintoma do anseio por uma explicação para o momento que vivemos:

– No Brasil, temos um problema de falta de liderança, a questão do exemplo. Além disso, acredito que hoje encaramos uma crise de confiança. Acho que as pessoas estão preocupadas, elas têm esse sentimento de frustração e insatisfação. Estamos vivendo uma ausência de líderes que possam articular e negociar respeitando as diferenças de seus grupos como forma de chegar a um denominador comum. Quem tentar resolver aquele problema vai se tornar uma espécie de referência, vai conquistar a confiança, virar um exemplo.

Marcondes alertou que a crise que se vive no momento parece sempre a pior: “Temos que tomar cuidado para não gerar crises futuras. Acredito que essas situações podem ser enfrentadas, e que cada um traz uma contribuição”, afirmou, ponderando que a busca por respostas no passado, no que chamou de “mito da época de ouro”, a seu ver não resolve as questões modernas, e ainda desvia o indivíduo de uma resolução efetiva. E encerrou otimista e satisfeito com a participação dos funcionários:

 – Acredito que ao discutir, refletir e trazer questões, as pessoas saem daqui, pensam e reproduzem essa mensagem. Eu gosto de usar a imagem da pedra jogada na água que gera um círculo, e esse círculo vai se ampliando cada vez mais. Os efeitos são reprodutíveis, mas têm que ser pensados em longo prazo.

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