Engenharia investe na automação para melhorar a produtividade
09/09/2016 12:02
Mariana Salles

Tendência é confirmada por projetos desenvolvidos pelo Instituto Tecgraf PUC-Rio para empresas como Petrobras, Globo e Infraero

Arte: Mariana Salles

 

A computação se consolida como uma das principais aliadas da engenharia, avaliam especialistas reunidos na Semana Integrada de Engenharia PUC-Rio (SIEng). O casamento com a informática amplia não só a produtividade do setor, mas também as oportunidades profissionais, observa o coordenador técnico do Instituto Tecgraf de Desenvolvimento de Software Técnico-Científico da PUC-Rio (Tecgraf), Paulo Ivson:

 

– Automação de engenharia é o desenvolvimento de tecnologias e processos para otimizar o dia a dia de um engenheiro. Trabalhamos muito com ferramentas que fazem simulações e integram informações, justamente porque, para tomar uma decisão, o engenheiro precisa de várias visões do mesmo item que ele está projetando ou construindo – justifica.

 

Dos trabalhos desenvolvidos neste sentido pelo Tecgraf/PUC-Rio, em parceria com empresas como Petrobras, Globo e Infraero, Ivson destaca aqueles centrados na chamada “automação de engenharia”. Reforçam, segundo ele, a tendência de integração:

 

– Desenvolvemos este princípio de colher informações espalhadas em vários sistemas e bases de dados para integrá-los. Com as novas tecnologias, temos um processamento mais eficiente das informações integradas, o que gera um melhor entendimento para o engenheiro – reitera o especialista.

 

Criado em 1986 por meio de um convênio entre a Universidade e a Petrobras, justamente para suprir as necessidades computacionais da empresa, o Tecgraf congrega profissionais das áreas de ciências da computação, informática e das várias engenharias. Os esforços multidisciplinares irrigam a desejada articulação entre centros de pesquisa e o mercado. Grande parte deles tem sido embalada pelos ventos da automação.

 

Para Ivson, a automação de engenharia pode ser resumida pela palavra “otimização”, pois “este é o objetivo”. Na prática, tais avanços tecnológicos pavimentam a missão do Tecgraf de produzir soluções computacionais aos desafios apresentados pelas empresas parceiras. São desenvolvidas por uma equipe de aproximadamente 400 profissionais, divididos em 13 grupos de diferentes perfis, com o suporte de alunos de diversas formações. (Para integrar a equipe, o estudante deve cursar das disciplinas que fazem ponte com o instituto, como a Tópicos em Engenharia de Computação II, do Departamento de Informática: todos os participantes fazem cursos no Tecgraf e aqueles que se destacam são convidados para se juntar ao instituto.)

 

Paulo Ivson, coordenador do Tecgraf, em palestra na Semana de Engenharia. Foto: Mariana Salles


Uma das iniciativas que ilustram a automação da engenharia é o Proteus (Projeto de Tecnologias Unificadas), desenvolvido para a Petrobras. O programa publica e converte maquetes desenvolvidas para variadas áreas. Equipes que antes trabalhavam de forma isolada em diferentes setores de um mesmo projeto agora têm acesso a um sistema voltado a facilitar o processo de criação para todos. O ganho, portanto, não é diretamente na economia, mas no rendimento, pois a falta – ou a dificuldade – de comunicação entre as áreas atrasaria o projeto. Com sistemas automatizados e integrados, este risco torna-se desprezível. “Além de agilizar o processo, há também um ganho na qualidade de informação”, acrescenta Ivson. Ele explica:


– Quando trabalhamos integrando os dados, precisamos garantir que a informação é consistente. Isso é um problema: há muita informação, normalmente duplicada ou ultrapassada, e o engenheiro não sabe qual está atualizada e correta. As decisões acabam sendo prolongadas, e isso gera um custo. Com as ferramentas que desenvolvemos, garantimos que, desde o início do projeto, os dados estão integrados e consistentes. A confiabilidade da informação é outro segredo para ter um ganho na produtividade, e essa eficiência gera economia.

A integração e a consistência das informações são costuradas por dois novos sistemas: Auditor, especializado na conferência de dados; e Environ, que promove a visualização dos dados em modelos 3D de fácil manipulação. A tais recursos, somam-se esforços permanentes alinhados a novas demandas profissionais e tecnológicas.


Um dos desafios das organizações associadas ao mercado tecnológico, lembra Ivson, é o de se manter atualizado. “As tecnologias evoluem muito rápido, e os institutos precisam estar sempre não só correndo atrás, mas também correndo junto – buscando sempre inovar e gerar novas tecnologias”, observa.


Uma das novidades, por exemplo, é o chamado big data, o volume imenso de dados armazenados por empresas. Embora represente uma questão primordial da web, é possível, ainda de acordo com o coordenador técnico do Tecgraf, fazer um paralelo com a engenharia: a área também lida com grandes volumes de dados e enfrenta desafios para processá-los de modo eficiente – o que impulsiona o desenvolvimento de tecnologias em torno da automação. Embora apresentem diferentes nomes e aplicações, comunga do mesmo princípio. O sistema BIM (Building Information Modeling), por exemplo, aplica o modelo na construção civil.


Ivson acrescente que, apesar de a automação estar mais ligada à informática, este campo emergente mostra-se pródigo também para estudantes e profissionais de engenharia e outras áreas. Alunos de graduação e pós-graduação podem compartilhar conhecimentos e experiências em projetos do Tecgraf. O instituto se destaca também na modelagem geológica, gerenciamento de reservatórios e na realidade aumentada.


– Temos a missão de não só sermos um polo tecnológico para o mercado brasileiro, e promovermos esse crescimento do conhecimento técnico, mas também de contribuirmos à formação universitária. É natural, portanto, que as pessoas não só trabalhem cumprindo os compromissos delas, de projetos e pesquisas, mas que também busquem formas inovadoras de fazerem o que fazem. Sempre temos alunos de mestrado e doutorado envolvidos nos projetos, e eles levam os desafios da indústria para a pesquisa acadêmica. Conseguimos, assim, capturar uma novidade, uma nova técnica, um algoritmo novo, e muitas vezes até criando soluções novas, inéditas. Estimulamos o crescimento profissional das estudantes, que saem daqui com um conhecimento que nem sempre é aprendido no mercado de trabalho – ressalta o coordenador.

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