Escolas precisam revalorizar a arte e a brincadeira para formar pessoas inventivas e felizes
16/09/2016 08:37
Mariana Salles

O alerta foi feito pela pesquisadora Camila Leite em aula inaugural do Departamento de Educação. Ela aponta a qualificação como chave para reacender “cultura da infância” nas redes de ensino

Livros sobre a arte-educação expostos na aula inaugural. Foto: Mariana Salles

Essencial à formação criativa, a aula de arte precisa ser mais valorizada por alunos e até por professores nas redes públicas e privadas de ensino. Só assim, pondera a mestre em Educação pela PUC-Rio Camila Leite, as escolas poderão produzir não “cópias, e sim pessoas inventivas”. O alerta foi feito na aula inaugural do Departamento de Educação da Universidade, nesta quinta-feira (15):

– A disciplina de arte é fundamental para a escola produzir seres humanos com capacidade de criar e inventar. Precisamos desconstruir preconceitos em relação a este campo de ensino.

Para a especialista, é preciso arejar o ensino da arte, ampliar os horizontas ainda restritos, segundo ela, a padrões técnicos tradicionais. A perpetuação desses modelos, ainda de acordo com Camila, não raramente “afastam pessoas que não se encaixam nos padrões técnicos e inibem o artista dentro delas”.  Ela considera a inclusão da educação artística no currículo escolar, em 1971, um tiro no pé:

– Os professores faziam uma licenciatura de dois anos, nos quais aprendiam um pouco de todas as artes. Justamente pelo período muito curto, em relação à quantidade de artes estudadas, não havia aprofundamento. Acabou que arte passou a ser menosprezada.

A revitalização da área nas escolas, ressaltou Camila na aula inaugural, “começa com a formação de professores”. Ela sugere a adoção de aulas de arte-educação até hoje nos cursos de pedagogia. Este conhecimento seria, assim, desdobrado no ensino escolar.

Não menos importante, acrescenta a especialista, é fortalecer a área com um suporte político e legal. Neste sentido, uma das referências, observa ela, remete à iniciativa que torna o ensino da música obrigatório na educação fundamental no Rio (projeto de lei n° 145/2013). Mesmo com isso, é preciso garantir que todas as linguagens estejam presentes em todos os anos da educação básica.

Camila Leite. Foto: Mariana Salles

A arte-educação, lembra Camila, começa com o corpo e recorre à brincadeira como “uma ótima forma de incentivar esse aprendizado, até pelos elementos comuns à arte: criatividade, espontaneidade, alegria. Até porque, como ensinou a educadora Lydia Hortélio, a brincadeira revela-se, mais do que linguagem universal, a linguagem das crianças. Camila ressalva que esta prática exige envolvimento do professor:  

– Para ser arte-educador, tem que ser brincador. A maior tarefa da educação infantil é brincar. Isso não significa simplesmente deixar a criança com meia dúzia de brinquedos, e sim brincar com ela. Portanto, o educador precisa trazer para fora a criança interior, porque as crianças não querem brincar com os professores, e sim com outras crianças.

Tal competência envolve o equilíbrio com as novas tecnologias. O educador deve avaliar, por exemplo, o lugar do videogame no ensino infantil. Camila enfatiza: a escola precisa criar oportunidades para as crianças brincarem com outras coisas além do game e afins:

– É tarefa da escola construir um ambiente no qual as crianças possam aprender essa cultura da infância, como as cantigas de roda, para que elas não brinquem só com o que já brincam em casa. Não sou contra jogarem videogame, mas não devem brincar só assim.

Ainda conforme Camila, o “mais importante, portanto, é a ampliação das oportunidades de brincar”. Pois, de acordo com Lydia Hortélio, constantemente citada por Camila na aula inaugural, “a brincadeira é diretamente ligada à felicidade. Não deveríamos parar de brincar. Brincar é o último reduto de espontaneidade que a humanidade tem”.

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