Quem mora na rua não precisa apenas comer, acredita o engenheiro Murillo Sabino, criador e diretor institucional da ONG Ronda Urbana de Amigos Solidários (Ruas), que distribui alimentos, roupas e itens de higiene pessoal a moradores de rua de Botafogo e do Leblon nas noites de terça-feira, há dois anos. Barbeiros e também psicólogos e sociólogos são mobilizados pelos voluntários para atendê-los.
Formado pela PUC-Rio em Engenharia de Produção, Sabino, de 27 anos, voltou à PUC nesta quinta-feira, 15, a convite da professora do Domínio Adicional de Empreendedorismo do IAG, Ruth Mello, para partilhar sua iniciativa e estimular outros a empreender socialmente.
– Nós queremos incentivar as pessoas a não só esperar algo do governo, mas a também tomar atitudes e fazer mudanças de eras – afirmou Sabino, um dos seis líderes globais escolhidos pelo laboratório experimental de conhecimento UnSchool of Disruptive Design, para ser agente de mudança social e ambiental.
O Ruas começou em setembro de 2014, com o objetivo de promover o bem-estar da população de rua, a exemplo do que já fazia o projeto Sapo (Somos Amigos em Prol do Outro), no Centro. No caso do Ruas, a ideia inclui aproximar esta população dos moradores do entorno: a maioria dos voluntários reside no bairro em que atua.
Ao responder a perguntas do público, Sabino destacou que cerca de 80% dos moradores de rua atendidos pelos voluntários são dependentes químicos, principal motivo que os leva à rua, além de problemas familiares ou perda do emprego. Muitos também são viciados em bebidas alcoólicas, um escape da realidade e um elemento de socialização:
– Muitos deles fugiram de casa porque viram seus padrastos violentarem suas mães ou abusarem de suas irmãs. Há outros que tiveram problemas com drogas e as famílias os expulsaram de casa.
A ONG ainda orienta os moradores de rua a evitar possíveis coerções de agentes públicos. Os atendidos recebem um crachá com o contato da equipe do Ruas para pedir ajuda em caso de violência. No Dia Internacional da Mulher, em março, o grupo organizou uma conversa sobre direitos da mulher, com a participação de uma socióloga na Praça Cazuza, no Leblon. A ONG criou e divulgou um vídeo, disponível no Youtube, que orienta qualquer pessoa a denunciar violações de direitos humanos.