Críticas à atual gestão dominam sabatina de candidatos à Prefeitura
20/09/2016 19:34
Ana Clara Silva, Camila Cunha, Mariana Salles, Gabriela de Vicq, Pedro Augusto e Raul Pimentel

Carlos Roberto Osório, Fernando MacDowell, vice de Crivella, Carmen Migueles, Edson Santos, vice de Jandira, Marcelo Freixo, Indio da Costa e Cyro Garcia apresentaram propostas e responderam a perguntas

Sabatina com candidatos à Prefeitura lotou os Pilotis. Foto de Fernanda Szuster

 

A atual gestão foi o alvo recorrente dos sete candidatos à Prefeitura do Rio que participaram de sabatina, ontem e hoje, nos pilotis da PUC-Rio, organizada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). Dezenas de alunos, professores e funcionários acompanharam a apresentação de propostas de Carlos Roberto Osório (PSDB); Fernando MacDowell, vice e representante de Marcello Crivella (PRB); Carmen Migueles (Novo); Edson Santos, vice de Jandira Feghali (PT); Marcelo Freixo (Psol); Indio da Costa (PSD) e Cyro Garcia (PSTU), nesta ordem, seguidas de perguntas da plateia. Alessandro Molon (Rede), Flávio Bolsonaro (PSC), Pedro Paulo (PMDB) e Thelma Bastos (PCO) não participaram da sabatina, por incompatibilidade com as respectivas agendas.

 

Carlos Osório: saneamento financeiro

O candidato tucano Carlos Roberto Osório comparou a retórica da administração municipal a uma “ilha da fantasia”, pois estaria, segundo ele, mascarando uma sangria nos cofres públicos. “O estado recebeu uma aspirina de R$ 2,9 bilhões para que a situação não ficasse pior até as eleições”, destacou Osório, referindo-se ao socorro do governo federal à segurança pública do Rio voltada aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Ao defender a “alternância no poder como solução para a Cidade Maravilhosa”, o candidato do PSDB concentrou-se na promessa de saneamento financeiro. Comprometeu-se, por exemplo, em não fazer novas obras “enquanto não acabarem as antigas” e em não construir novas Escolas do Amanhã enquanto as regulares “ainda não estiverem em ordem”.

 

Carlos Osório. Foto: Gabriel Molon

 

Outra proposta do ex-secretário municipal e estadual de Transportes para o reequilíbrio das finanças é a redução da quantidade de secretarias municipais (somam 26). “Precisamos cortar gastos até para atrair o investimento privado e sairmos da crise”, argumentou.

 

Como Osório geriu o transporte público do município, entre 2012 e 2014, e do estado, entre 2015 e fevereiro deste ano, quando deixou o cargo para se filiar ao PSDB de olho na corrida à sucessão de Eduardo Paes, o tucano foi sabatinado, em especial, sobre assuntos do setor. Ao ser questionado quanto à tarifa de ônibus e à falta de ar-condicionado nas frotas, reivindicou a paternidade da unificação das tarifas e ponderou: “Nem o Batman, o Super-Homem e a Mulher-Maravilha teriam resolvido essa questão em tão pouco tempo”.

 

Fernando MacDowell: mobilidade

Já o engenheiro Fernando MacDowell, vice do candidato do PRB, Marcelo Crivella, criticou severamente o sistema de transporte público e o valor da passagem. Segundo a participar da sabatina na Universidade, ainda na manhã de ontem, o ex-diretor do Metrô Rio propôs a ampliação do Bilhete Único para três passagens. “As duas passagens garantidas pelo Bilhete Único Carioca não suprem a necessidade da população. Esse número deve subir”, propôs o especialista, também professor de Engenharia Urbana e Ambiental da PUC-Rio. Ele enfatizou a necessidade de integrar melhor o sistema e rever a tarifa:

 

Fernando MacDowel. Foto de Gabriel Molon 

– Quando eu trabalhava nessa área, dividíamos o salário mínimo pela passagem do ônibus. Este cálculo dava 800, às vezes até mais. Hoje em dia, não passa de 250. A tarifa do ônibus é muito alta, precisa ser repensada – reiterou. – Outro ponto que precisa ser revisto são a integração e a capacidade do sistema atual. O metrô tinha uma capacidade incrível, que caiu por causa da má gestão. 

 

Questionado sobre o fato de 400 mil panfletos da campanha terem sido apreendidos por não informarem o nome do candidato a vice, e a suspeita de uso de gráfica fantasma, investigada pelo TRE, MacDowell limitou-se a responder que não tinha “nada a ver com isso”. Em meio a reclamações e a um princípio de discussão, manteve o discurso centrado em argumentações e sugestões técnicas, direcionadas, sobretudo, ao transporte público.

 

Carmen Migueles: contra a burocracia

Candidata do partido Novo à Prefeitura do Rio, a empresária Carmen Migueles foi a terceira sabatinada da tarde desta segunda-feira, 19. Concorrendo pela primeira vez, pelo partido recém-lançado, a historiadora e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) defendeu as liberdades individuais e a diminuição da burocracia e da carga tributária.

 

Carmen Migueles

 

Durante sua apresentação, ela defendeu o aumento das liberdades individuais e econômicas, e a redução do papel da prefeitura na organização da cidade, ampliando as parcerias público-privadas. A candidata propôs diminuir o ISS (Imposto Sobre Serviços) para “tornar a cidade mais barata”, citando o impacto de impostos nas contas de luz ou na aquisição de um imóvel, em ambos os casos em torno de metade do custo final:

 

– Muitas pessoas ascenderam socialmente, mas não têm condições de sair das comunidades por causa dos altos preços das casas.

 

Em relação a medidas práticas contra a burocracia, que faz com que hoje, por exemplo, uma empresa leve até 30 dias para obter autorização da Prefeitura para se registrar, a candidata se comprometeu a reduzir o prazo para cinco dias, além de buscar ações integradas entre município, estado e União por meio de parcerias com universidades e fóruns de pesquisa e da criação de um canal de denúncias de irregularidades de agentes públicos.

 

Perguntada por uma eleitora sobre propostas de políticas públicas para as mulheres, Carmen propôs o aumento da carga horária das creches municipais, lembrando que mais de 40% mulheres brasileiras sustentam suas casas sozinhas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A candidata veio à sabatina na PUC acompanhada do empresário e candidato a vice, Tomas Pelosi.

 

Marcelo Freixo: desigualdade

O deputado estadual Marcelo Freixo, candidato pelo PSOL, foi o último a participar da sabatina na segunda-feira, a de maior audiência, apresentando sua proposta de um governo aberto à participação popular nas políticas públicas, com a criação de conselhos de bairros e regiões; e de combate às desigualdades sociais: “O Rio de Janeiro é a única cidade em que você vai de mototáxi do Botswana à Noruega”, afirmou, referindo-se à disparidade entre os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da Gávea e da Rocinha. O candidato apontou que sua maior divergência em relação à atual gestão peemedebista é a concepção de cidade:

Marcelo Freixo. Fernanda Szuster 

 

– O Rio hoje é uma das cidades mais caras e mais desiguais do mundo. Isso não é natural, é uma escolha. É uma questão de olhar para a cidade e ver pouca democracia. Aproveitou também para criticar a falta de transparência da atual gestão: “Ninguém em sã consciência sabe dizer por que a passagem de ônibus é R$ 3,80”. Ainda prometeu criar o que chamou de Fundo de Mobilidade Urbana para reduzir a tarifa dos ônibus sem aumentar impostos. O candidato defendeu que a mobilidade urbana seja controlada pelo poder público, e não pela iniciativa privada.

 

Sobre a segurança pública, o relator da CPI das Milícias registrou que a violência se intensificou na cidade, e que os lugares mais afetados estão longe dos parques olímpicos, em áreas “invisíveis”. O candidato prosseguiu com críticas às terceirizações do serviço público praticados na gestão de Eduardo Paes: “O serviço público hoje foi esquartejado, foi terceirizado em setores que são muito importantes”.

 

Questionado sobre de onde viriam os recursos com os quais pretende governar, o candidato disse pretender fazer uma economia na máquina pública, dando preferência para a revisão de isenções de ISS concedidos, segundo ele, por interesses políticos.

 

Sobre a adoção de parcerias público-privadas, o aluno de Comunicação João Pedro Sarmento perguntou ao candidato se as julgava “intrinsecamente corruptas” e se lançaria mão delas. Freixo disse que sim, desde que o interesse público esteja previamente definido, e enfatizou a importância da associação entre esferas públicas, mencionando a intenção de firmar parcerias da administração municipal com a Coppe-UFRJ e com a Fiocruz. Ainda na área da saúde, disse que adotaria o Sistema Único de Saúde como modelo para a política de saúde pública do município, caso eleito.

 

Freixo, que veio à PUC acompanhado dos candidatos a vereador David Miranda, Marielle Franco e Tarcísio Motta, ressaltou diversas vezes que seu partido tem pouco tempo na propaganda eleitoral, e comemorou estar em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.

 

Edson Santos (PT): propostas sociais

Transporte também foi um dos pontos abordados pelo candidato a vice-prefeito Edson Santos, do PT, que abriu o segundo dia da sabatina na PUC-Rio, no início da tarde desta terça-feira. Aos cerca de 40 espectadores reunidos nos pilotis, Santos propôs a criação de uma empresa municipal para desenvolver um modelo mais alinhado “as necessidades da população”, o que implicaria, por exemplo, melhor articulação entre as linhas de ônibus. “A retirada de linhas de ônibus pelo governo atual dificultou a circulação pela cidade. Moradores da Zona Norte precisam pegar até três ônibus para chegar ao Centro, gastando mais tempo e dinheiro”, criticou o petista.

Edson Santos. Foto: Gabriel Molon

Ministro da Promoção da Igualdade Racial entre 2008 e 2010, Santos canalizou o discurso para propostas sociais. Uma das prioridades é a revitalização do eixo da Avenida Brasil, “onde muitas comunidades estão em abandono social, político e sem infraestrutura”. Ele pretende “integrar a região ao restante da cidade”, segundo ele, “uma cidade fragmentada”. Questionado sobre a disponibilidade de recursos financeiros para efetuar a transformação, o sabatinado propôs utilizar nas obras mão de obra local, das próprias comunidades.

 

Igualmente enfatizado foi o investimento na educação para dirimir preconceitos de raça, gênero, orientação sexual e para “formar cidadãos tolerantes”. Referiu-se, em particular, ao cumprimento da Lei 10.639, relativa ao ensino da cultura afro-brasileira e africana nas escolas públicas. Defensor na escola em tempo integral, ele também sugeriu mudanças no currículo escolar, para “adaptá-lo à realidade e para cativar os alunos”, e no modelo de creches:

 

– Creche não é depósito de crianças. Elas devem ser entretidas e educadas. E as escolas devem ser em tempo integral, com atividades construtivas para os jovens.

 

Indio da Costa: gestão por aplicativos

O deputado federal Indio da Costa (PSD-RJ) foi o segundo candidato – dada a ausência do deputado federal Alessandro Molon (Rede) – a participar da Sabatina nesta terça-feira. Marcada para 13h, a fala de Índio começou com 35 minutos de atraso, segundo ele por ter ficado preso no trânsito. De jeans e camiseta, o candidato iniciou sua apresentação se desculpando pelo atraso e alegando que sua proposta geral era de simplicidade. Fazendo forte uso de números para ilustrar seus argumentos, Indio afirmou que pretende reduzir a máquina pública criando sete “macrofunções” que fariam o trabalho dos atuais 67 órgãos de primeiro escalão na Prefeitura do Rio (na verdade 64). 

Indio da Costa. Foto: Fernanda Szuster

Sobre transporte, o candidato propôs a criação de um aplicativo de celular para dar aos passageiros informação e obter avaliação, como no Uber, que pretende regularizar, além de desburocratizar a licença de táxis:

 

– Tem que entregar na mão do usuário do sistema de transportes a opinião do próprio sistema. Quem vai dizer qual é a linha de ônibus que tem que existir e para onde ela tem que ir é quem usa o ônibus. Não o empresário ou o político.

As propostas do candidato no campo da saúde vão na mesma linha, com um aplicativo para o agendamento, consulta e exames:

 

– Digamos que 3 milhões de pessoas utilizam os serviços de saúde do Rio de Janeiro. Se tivermos 500 mil, 1 milhão de pessoas com o aplicativo já é sensacional, porque o nível de informação que o prefeito vai ter para solucionar os problemas é algo nunca visto.

 

Na área da educação, Índio questionou as promessas de Pedro Paulo (PMDB-RJ), candidato apoiado pelo atual prefeito, que propõe as escolas em tempo integral para todos e em todas as escolas:

 

– Destas Escolas do Amanhã que eles falam na propaganda eleitoral, quatro funcionam e nenhuma tem ensino integral do jeito que contam na televisão – criticou, acrescentando que visitou escolas na Comunidade da Maré e no Morro do Alemão que necessitam de reformas e questionando de onde viria dinheiro para bancar tantas promessas: Indio apresentou cálculos que apontam uma dívida da prefeitura de R$ 33 bilhões. Ele também prometeu terminar todas as obras paralisadas.

 

Cyro Garcia: estatização

 

Cyro Garcia, candidato pelo PSTU, foi o último candidato a participar da sabatina. Professor universitário e ex-deputado-federal, defendeu uma ruptura com o sistema atual estatizando diversos setores, afirmando que as propostas dos demais candidatos são as mesmas e que não acabam com as desigualdades. “Há dois projetos: o nosso e o resto”.

 

Para a educação, ele defendeu a estatização das escolas particulares para que todos tenham a acesso a “ensino 100% público, gratuito e universal”, e afirmou querer investir na qualidade das escolas, como forma de evitar que jovens entrem para o tráfico. Já na saúde, o candidato prega a municipalização dos hospitais, a abertura de novos concursos públicos, a valorização dos funcionários e a suspensão de todos os contratos de Organização Social (OS).

 

Cyro Garcia Foto: Fernanda Szuster

 

– [Proponho a] ruptura de todos os contratos com as OS, que nada mais é do que apropriação de verbas públicas para a iniciativa privada. [...] Que a saúde seja completamente municipalizada, porque saúde não é mercadoria e não pode estar a serviço do lucro do capital. A saúde tem que ter uma ênfase preventiva e não curativa, para cortar os lucros dos laboratórios farmacêuticos.

 

Quanto a segurança, Garcia lembrou que o PSTU é a favor da desmilitarização da Polícia Militar e de sua unificação com a Polícia Civil, com policiamento mais centrado em inteligência, valorização dos profissionais e eleições para delegados. Na esfera municipal, propõe que guardas municipais prestem serviços à população em escolas e hospitais. “Hoje tudo está voltado para proteger o patrimônio, e não as pessoas”.

 

O candidato sugeriu a suspensão da dívida com a União e com o sistema financeiro; o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, que chamou de “Lei de Irresponsabilidade Fiscal”; e a sobretaxação dos mais ricos através do IPTU.

 

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